Alta, foi já dito tudo pela palavra fluente dos ilustres Deputados por Viseu Dr. Sales Loureiro e Eng.º Engrácia Carrilho.

roubei tanto tempo a vv. Ex.ªs a historiar a evolução deste aviso prévio porque assim fica justificada a inanidade desta minha exposição pela dificuldade insuperável de falar depois de tão selecta elite de deputados. Que me deixaram para dizer? Praticamente nada. Entendo, porém, digno de repetição um aspecto deste problema, qual seja o do abastecimento de água potável a numerosas povoações dos dez concelhos meridionais da Beira Alta.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Só quem conhece o drama que para alguns destes concelhos constitui o abastecimento de água potável às suas principais povoações;

Só quem vive de perto a tragédia que para algumas dessas edilidades constitui a pesquisa da água, a golpes de fogo, através das fragas graníticas das serranias beiras, minando aqui, cavando acolá, a perseguir o fio de água que a canícula do curto Verão sorverá impiedosamente; Só quem vive esta luta dantesca em que se exaurem os magros cobres das pindéricas edilidades serranas e se queima ainda o prestígio dos sacrificados edis na chama do ódio que suscitam nos proprietários defraudados da pouca água com que socorrem as sequiosas terras cultivadas;

Só quem ausculta a angústia física e moral que resulta da sede -a sede dos homens, a sede das terras-, é que pode compreender o valor extraordinário de um programa que vai buscar às albufeiras de Girabolhos, de Ázere e do Caneiro água para a dar sem rateio às povoações daquela vasta zona.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E o facto de a cidade de Viseu ter ainda em abundância a melhor água que se bebe em cidades de Portugal não minimiza o valor extraordinário deste abastecimento, que estenderá a numerosas populações rurais o moderno regime da água domiciliária.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: -Tão grande vulto tem a meus olhos este benefício, que discordo do notável relatório que compulsei, na medida em que ele considera caro o empreendimento: o custo de uma obra afere-se pelos resultados, e não me parece desproporcionado o preço, para os efeitos pretendidos; caras, sim, as exploraçõezïnhas que moem uns centos de contos para não matarem a sede a ninguém.

E como VV. Ex.ªs vêem, basta a água para nos contentar a nós, os da Beira.

E aqui terminaríamos em adesão plena ao programado aproveitamento se não houvera um senão.

No estudo do Baixo Mondego sentiu-se a necessidade de uma represa que defendesse a planura coimbrã das inundações tão comuns como depredadoras.

Pensou-se primeiramente em suster o rio um pouco abaixo da foz do Dão - em frente à povoação da Aguieira.

Mas essa ideia deveria ter sido já posta de parte pelos inconvenientes de toda a ordem que lhe eram inerentes.

Vozes: - Muito bem!

Impressionada por estes e outros maiores inconvenientes é que a Companhia Eléctrica das Beiras estudou, poucos quilómetros a montante, a obtenção dos mesmos objectivos visados através das represas gémeas do Caneiro e Dão.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Se não cabe a esta empresa o mérito da originalidade, pois já a Hidráulica Agrícola se manifestara em prol de duas barragens muito semelhantes a estas, a verdade é que lhe cabe por inteiro o estudo profundo e sério com que demonstrou a superioridade absoluta da solução Caneiro-Dão sobre a movediça hipótese da Aguieira.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Como já salientou o ilustre Deputado Dr. Santos Bessa, a constituição geológica do terreno na região da Aguieira torna aleatória a segurança da barragem.

Sendo assim, mais de uma razão há para condenar tal empreendimento. E que, como salientou o ilustre Deputado, por um lado, e no aspecto técnico, corria-se o risco, absolutamente desnecessário, de ver encarecer inesperada e vultosamente o custo da construção. E por outro lado - e isto no aspecto leigo - não podemos esquecer as aterradoras catástrofes ocorridas há poucos anos em Espanha o na França, onde barragens com os fundamentos lentamente corroídos pela infiltração das águas provocaram derrocadas calamitosas.

Assim, em todos os aspectos a solução Caneiro-Dão se revela superior à hipótese Aguieira.

Vozes: - Muito bem!

E isto bastaria para forçar a preferência pela solução que, sendo por igual onerosa quanto às despesas previsíveis, se revelava muito mais sólida, muito menos aleatória quanto às despesas imprevisíveis e que nunca poderia ter, em caso de sinistro, as consequências catastróficas que a triste experiência alheia nos obriga a prever e a acautelar. É que na hipótese de uma rotura seria infinitamente mais perigosa e extravasão dos centos de milhões de metros cúbicos represos na única barragem da Aguieira do que a de metade de tal volume, que é a que se conterá em qualquer das duas barragens gémeas Caneiro-Dão.

Chegava isto. Mas há muitíssimo mais.

É que a barragem da Aguieira provocava inevitavelmente a destruição da Ponte Salazar, de largos quilómetros de estrada e de uma povoação inteira: a da Foz do Dão.

E isto é tão monstruoso, que bastava para condenar aquela barragem, mesmo que todas as outras circunstâncias se lhe mostrassem (mas não mostram) favoráveis.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Compreendia-se lá que uma obra que de ponta a ponta se propõe benefícios de toda a ordem se fosse macular com o ferrete da destruição de toda uma povoação que, embora humilde, tem as suas tradições seculares - porto escoador do movimento da Beira, nos