Mas, neste aspecto da política internacional, Sr. Presidente, a cegueira mais lastimosa e incurável atingiu as Nações Unidas, essa Babilónia do século xx, onde o arteirismo tem um trono e a mentira venerável audiência; esse pretório histriónico onde os culpados se erguem como acusadores e os inocentes são abominàvelmente sentenciados como réus.

Que há a esperar das Nações Unidas, onde a legalidade foi substituída pelo oportunismo, a ética pelos expedientes da maioria e a análise serena dos factos pela visão deturpada, fantasiosa e emocionante de títeres em mórbido delírio?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Que há a esperar dessas Nações Unidas que se estadeiam num plenário demagógico, exibicionista e inútil e depois se fragmentam em comissões e subcomissões que são os bastidores onde se encenam os actos de uma autêntica farsa que, num assomo de paixão violenta, poderá redundar em deplorável tragédia?

Nenhum português poderá confiar numa organização que, através de excêntricas comissões para as nossas províncias ultramarinas, tem a insolente ousadia de silenciar o esforço gigantesco por nós despendido em prol da civilização e, em contrapartida, louva a perversidade do banditismo terrorista, consagrando sicários, assassinos e traidores embuçados no delido bioco de ridículos chefes políticos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - De uma organização internacional de má língua, de más intenções e de más contas nada mais há a esperar, ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... além do recrudescimento de lutas ideológicas, de conflitos de interesses e de brechas sangrentas na solidariedade dos povos.

Não creio Sr. Presidente, que, pela natureza dos interesses que ali se debatem, pelo sistema de trabalho e de votação dos grupos previamente comprometidos e pela inconsciência de certas delegações, algum dia a O. N. U. nos faça justiça.

Pode a nossa razão ser pura como a linfa das rochas e luminosa como o sol das Primaveras. Apesar disso, dentro da teia das Nações Unidas não conseguirá triunfar sobre as águas pantanosas em que uns navegam nem desanuviar as sombras simuladoras com que outros se disfarçam.

Mas estou de igual modo convencido de que a O. N.º U. acabará por desmoronar-se carcomida das suas próprias iniquidades e envergonhada da sua fragorosa inutilidade.

Os seus frenéticos bramidos mergulharão no vácuo imenso das coisas sem valor e, então, sobre o Mundo amanhecerá a hora da verdade e da justiça.

Sr. Presidente: neste momento conturbado para a humanidade consciente da sua missão aquece-me o peito a certeza na vitória deste bastião ibérico que se ergue entre o resto da Europa e a África como Atlante da velha e gloriosa civilização.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Enquanto as tempestades embravecidas rugem, fustigando a loucura dos homens, Portugal, com uma firmeza a que o Mundo não estava habituado, teima em manter acesas aquelas últimas brasas que restam da civilização ocidental.

Mas, para que este lume bendito se não extinga na lareira onde crepitam as nossas esperanças, mais do que nunca é preciso estarmos alerta e consolidarmos a união de todos os portugueses de boa vontade contra o inimigo comum.

Vozes: - Muito bom!

O Orador: - A Pátria fulminará com o seu anátema aqueles que semeiam a discórdia e satânicamente desunem a velha casa lusitana.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Por isso, em horas de febre e de vigília, retemperados pela paz ou curtidos pela luta, todos temos de trabalhar com estoicismo, com fé e com ardor.

Permanecer inerte ou indiferente é dormir à beira do abismo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Tenho veneração por aqueles que, militando nas nossas fileiras, servem com amor o nosso ideal.

Respeito aqueles que, pensando de forma diferente, nos criticam com fins construtivos, visando apenas o aperfeiçoamento das instituições o os altos interesses nacionais.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Mas provocam-me fastio os políticos bailarinos que se ensaiam para dançarem todas as árias com encenação multicolor. Políticos moluscos, sem coluna vertebral, sempre barricados na defesa do aparelho digestivo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Empoleirados tantas vezes nos visos da fortuna, são galos de campanário a afeiçoar-se a direcção das ventanias.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Neste trabalho de omnímodas figurações há ainda, Sr. Presidente, os que se mostram indiferentes porque, apesar de tudo, ainda não conhecem a essência da nossa doutrina e nem aferem a gravidade do solene momento histórico que cruza o nosso caminho.

Por isso, torna-se necessário organizar e intensificar campanhas de doutrinação política, através de elucidativos programas de imprensa, da rádio, da televisão, do cinema ambulante e de colóquios regionais.

Mostre-se a excelência dos princípios, evidencie-se a lógica das ilações, dimensione-se o volume dos empreendimentos cometidos, e não haja receio de aceitar o diálogo desde que este deflua em moldes sérios, sensatos e construtivos.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Nesta emergência político-social em que todos seremos poucos não se esqueçam também os valores que tragam o cunho da autenticidade e queiram servir com sinceridade e com devoção a causa nacional. A injustiça do esquecimento até na morte é dura.

E preciso, de igual modo, prestigiar as instituições políticas, vitalizando as suas funções e não as deixando morrer de inanição.

Vozes: - Muito bem, muito bem!