destruídas pelas intempéries, chuvas copiosas ou secas prolongadas, tiveram de fazer ensaios e experiências, agricultar terrenos virgens e, alguns, de começo, de fraco rendimento, lutar, depois, com falta de mercado para uma produção obtida à custa de tanto esforço e de tanto sacrifício.

Mas nunca perderam o ânimo nem abandonaram a tarefa que lhes havia sido confiada. Após a sua chegada, os colonos abrigaram-se em simples barracões, em local que tem este mesmo nome, e improvisaram uma capela e uma escola. Puderam, assim, rezar as suas orações e venerai-os mesmos santos em cujo culto foram embalados na sua ilha natal. As crianças puderam também, sobretudo depois da chegada da Madeira do professor João Geraldo Gonçalves, aprender a ler e a escrever a sua língua, para que ela perdurasse para sempre nas novas e vastas terras que se iam abrir à colonização branca.

Passado pouco tempo, cada família tinha a sua habitação, a sua leira de terra, o seu gado.

Uma grande obra de colonização estava lançada. Outros colonos se juntaram depois aos pioneiros; a povoação de Sá da Bandeira foi-se expandindo e foi crescendo; em 1901 era elevada a vila, e em 1923 a cidade.

Da velha e modesta colónia de Sá da Bandeira, onde ao longo dos caminhos a água das levadas entoava todas as manhãs o seu cântico criador, fez-se uma das mais belas cidades angolanas, bem portuguesa pelos seus caracteres, fisionomia e sentimentos da sua população.

E hoje importante centro de comunicações e de povoamento, fulcro de actividades progressivas nos mais diversos sectores da produção e do trabalho, da instrução e da cultura.

Na história da sua fundação e do seu crescimento, a cidade de Sá da Bandeira não só atesta e ilustra todo um conjunto de qualidades e de métodos mas também a razão e o direito que nos assistem quando nas grandes assembleias internacionais procuramos justificar com factos os fundamentos de uma política ultramarina a que nos mantemos inalteràvelmente fiéis.

A empresa dos Descobrimentos foi uma obra prévia e longamente estudada e planeada e da qual resultou, em grande parte, a construção do mundo moderno. A colonização dos territórios descobertos foi outro empreendimento realizado com o sangue e a fazenda da Nação.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Quando os colonos portugueses chegaram ao Huíla tudo estava abandonado: a selva à sua grandeza, a terra ao seu destino milenário. Sem ferir interesses, sem sacrificar inutilmente vidas, como tantos outros fizeram, sem preconceitos raciais, realizámos uma epopeia de trabalho, bem digna da epopeia das descobertas. Os pioneiros que deixaram a sua ilha e os seus haveres, aos quais estavam profundamente vinculados, pelo interesse e pelo afecto, trocando uma existência tranquila por uma vida dura, deram ao ultramar tudo o que o homem tem de mais valioso e de mais nobre: a alma, a dedicação, o trabalho, na persuasão íntima e sincera de que se era diferente a terra onde iam fixar-se era, no entanto, a mesma a Pátria à sombra de cuja bandeira iam acolher-se.

Esta convicção profunda da unidade da Nação, que desde há séculos se arreigou no íntimo e na consciência do povo português, é a mais forte armadura que nos cobre contra os ataques dos que, não tendo o privilégio e a ventura de pertencerem a uma verdadeira pátria ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... negam o direito e a razão daquela que é das mais nobres e antigas entre todas.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Martins da Cruz: - Sr. Presidente: o Prof. Leite Pinto, que mal conheço mas muito admiro, e que, como homem público, vale sempre uma esperança fecunda, tem o condão de envolver os departamentos da vida nacional que lhe são confiados num clima de sadio optimismo e de alentadoras perspectivas que logo agitam o espírito de quantos anseiam por mais e melhor.

Na lição que fora da cátedra há dias proferiu, ao tomar conta da reitoria da Universidade Técnica de Lisboa, ratificou nessa constante o seu feitio de salutar audácia frente a problemas que tocam nas raízes do futuro da Pátria e que talvez por isso parecem meter medo aos de alma de pouca fé que andam a escondê-los para não se assustarem ...

De quantos recortou, a vincar a missão da Universidade Técnica, que, em discordância, aliás, com as teses mais vulgarizadas, entendeu no conceito mais necessário à reconstrução integral do homem que a nossa idade exige, o Prof. Leite Pinto, de acabada formação a um tempo técnica e humanista e que não se assusta com os problemas e por isso os não esconde, regressou a uma das mais incisivas preocupações do seu tempo de responsável maior pela educação nacional - a culturização das massas populacionais da Nação para lá da instrução primária, que esta a obtivera com assinalado êxito na história da educação nacional o nosso ilustre colega Dr. Henrique Veiga de Macedo.

O novo reitor, com a profunda sagacidade que é timbre das suas declarações programáticas, logo marcou uma como que finalidade realista à alongada e generalizada instrução de base - é que dela depende, em primeiro grau. o progresso económico do País.

O Sr. António Santos da Cunha: - Muito bem!

a deusa Verba, que, feminina como é, sempre apreciou mais o imponente e fero Marte do que a débil Minerva ...

Embora não sejam novas, mas repetidas, os anos não lhes roubaram infelizmente a oportunidade, já que as soluções que nelas se desejam continuam hoje, como quando foram ditas pela primeira vez, no limbo dos propósitos que não lograram o sol da vida!