esforço que desenvolveu em ordem a garantir a integridade de Portugal transmarino e insular, seriamente ameaçados pela cobiça das várias potências que na passada centúria porfiaram na busca de bases militares, mercados e matérias-primas.

Grande obreiro da ocupação foi ele, por isso que soube, lutando contra os manejos e incompreensões manhosas dos políticos rotativos e outros, rodear a plêiade de militares e governantes do ultramar das condições necessárias à boa marcha da gestão da coisa pública, tanto na guerra como na paz. Este aspecto da actuação do rei-mártir - que ora nos deve merecer meditação especial - vai sendo reconhecido, em toda a sua dimensão e profundidade, mesmo pelos mais contumazes adversários da sua memória.

Na verdade, como justamente observa Rodrigues Cavalheiro, «em face da documentação produzida em dezenas de obras ... só um estreito facciosismo ou uma mentalidade retrógrada poderão negar o primacial papel que o soberano, contra ventos e marés das intrigas internas e externas, desempenhou como orientador supremo da nossa política colonial».

A viagem do príncipe real D. Luís Filipe às províncias africanas, realizada em 1907, revestiu-se de alcance e significado excepcionais, que só a cegueira do clima preparado e alimentado pelos partidos impediu que se evidenciassem e glorificassem como era curial.

Essa viagem, além de representar o coroamento da obra ultramarina e verdadeiramente nacional de D. Carlos, iniciou um capítulo novo da história das relações entre metropolitanos e ultramarinos, relações essas que passaram a ser mais estreitas, uns e outros compenetrados de que não eram portadores de interesses diversos e contrapostos, porém comuns e solidários; teve, por outro lado, a virtude de conceder aos colonos um novo ânimo, um espírito mais viril e esperançoso, de forma a poderem superar as vicissitudes da anemia económica e a incerteza do futuro provocadas pelas duras tarefas da ocupação e pelo persistente perigo vindo do exterior.

Creio poder ou dever entender-se à luz desta orientação a inteligente e hábil diplomacia do reinado de el-rei D. Carlos. A obtenção de ligações bem fundadas e estruturadas com a Espanha, a França, a Alemanha e, especialmente, com a Inglaterra e o Brasil - países com os quais, na concepção certa de D. Carlos, jamais deveríamos estar de mal - surgia à consciência do rei como meio e forma não apenas de prestigiar o País, mas também, e sobretudo, de preservar com firmeza os nossos interesses e responsabilidades de nação distribuída pelo Mundo.

E vale a pena notar que a ida do rei-mártir ao Brasil, marcada para Maio de 1908, seria, a um tempo, o remate vitorioso de quanto até então se fizera em prol do estreitamento da amizade entre os dois povos irmãos e o primeiro fundamento sério da comunidade luso-brasileira, por cuja estruturação e solidez tanto se trabalha em nossos dias. Já Luís de Magalhães notara que, pelo seu sentido , de alma e coração, à mesma cruzada a que ele devotadamente se entregara: a cruzada da perenidade de Portugal.

Assim, evocar a memória do rei cientista e artista é sentir melhor os deveres, saber suportar todas as dificuldades do presente. E é, outrossim, revivificar a nossa fé no futuro - futuro que deverá corresponder à sua lição, sacrifício e exemplo! Votemos por que toda a Nação renda a D. Carlos - a quem em larga medida devemos o ultramar e os valores que defendemos -, neste ano da comemoração do centenário do seu nascimento, as homenagens a que tem jus.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Júlio Evangelista: - Sr. Presidente: é este o primeiro ensejo que se me oferece na presente legislatura de saudar V. Ex.ª, e em V. Ex.ª o primeiro de nós todos. Quem teve o privilégio de acompanhar a acção de V. Ex.ª dentro desta Câmara, na singular liderança que o distinguiu, não mais, por muitos e muitos anos que decorram, poderá esquecer o brilho de uma inteligência luminosa, o poder de uma argumentação invencível, como lâmina temperada no mais dextro alfageme.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E, ao vê-lo alçado, por seus méritos, ao primeiro lugar de todos nós, a saudade do líder só encontra comporta na superioridade com que V. Ex.ª vai dirigindo os nossos trabalhos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Ao sucessor ilustre de V. Ex.ª na liderança desta Câmara, Sr. Deputado Soares da Fonseca, dirijo os meus cumprimentos de profunda admiração, na certeza da superioridade, sobejamente comprovada, da sua convincente actuação.

O coração me impele, Sr. Presidente, e a inteligência me impõe uma palavra de saudação respeitosa para aquele que foi exemplar antecessor de V. Ex.ª nessa cadeira, o Sr. Deputado Albino dos Reis, que sabe conquistar um amigo em cada um de nós e soube sempre im-