O Orador: -.... desdobrou, a propósito, raciocínios e comentários plenos de razão e oportunidade, a que não deveriam ter ficado estranhos os que julgam ser azada a altura para apresentarem formas ou modalidades de patriotismo em detrimento do patriotismo definição, do patriotismo ideia, sentimento, verdade - do patriotismo acima de todas as reservas e de todas as interrogações.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: -No entanto, a respeito da O. N.º U. há e haverá sempre, infelizmente, muito que dizer. As tibiezas e as incongruências da instituição - que mostra força no Suez e fraqueza na Hungria; que trava luta feroz no Katanga e nem sequer trata de saber o que se passa nas fronteiras sino-indianas; que se alheia da questão de Cuba para a entregar à renitência de Fidel e ao arbítrio de dois grandes; que voga na enchente afro-asiática, acaudilhada pela Rússia, sabida na arte de progredir sem perda de sangue próprio constituem matéria mais do que suficiente para longos e persistentes reparos. Mas prefiro oferecer neste momento algumas considerações sobre os dois últimos debates que se realizaram na 4.a Comissão e no plenário da Assembleia da O. N. U. e que redundaram no costumado prazer da maioria contra Portugal. Para tanto, deixo que o ódio dos inimigos se canse no espaço da nossa serenidade e vou direito ao fecho dos resultados:

Na 4.a Comissão, 82 votos contra, 13 abstenções e 7 votos a nosso favor.

No plenário da Assembleia, uma resolução desfavorável a Portugal, com 18 abstenções, 21 ausências e 14 votos pelo nosso lado.

Talvez seja útil relembrar, como nota que convém não perder de vista, que a resolução da Assembleia dizia unicamente respeito a Angola e era de conteúdo mais agitado e violento.

E então importa, e importa seriamente, pensar no significado das duas votações.

Têm andado para aí alguns profetas de política interna e internacional a inculcar, entre dramáticos e fragorosos, que as velas das outras naus, que singram nos amplos mares do Mundo, todas se enfunaram com os ventos da história; que seria bom termos mão na pertinácia; que talvez fosse aconselhável lançarmos, sem demora, pregão denunciador do intento de retirarmos em data marcada ou esboçada nos horizontes do porvir. E basta que um inconformista nato, ou um qualquer desses apressados motoristas das circunstâncias, que julgam instalar-se no futuro, galgando estrepitosamente o presente, anime a opinião com jogos de palavras para que comece a desenhar-se a corrente mais ou menos convencida e mais ou menos perniciosa.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Quando a história um dia for o espelho fiel do nosso tempo e tiverem desaparecido as paixões que rugem no Mundo, o Mundo há-de ver e julgar, em toda a sua limpidez, a razão portuguesa.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

ideológica e na aquisição estratégica de grandes áreas, teimosamente apetecidas e brutalmente disputadas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Quais as garantias oferecidas ao homem branco do Ocidente e que foram posteriormente respeitadas nos países afro-asiáticos que na crista da nova vaga têm ascendido à independência?

Em que se traduziram os acordos previamente celebrados e dispostos na base da sua emancipação?

Apontem-me onde foram escrupulosamente respeitados os frutos do trabalho do homem branco e até do homem de cor fundido na aliança do génio e do destino!

Onde está a paz verdadeira para além da paz nomeada de insegura?

Porque não mostram o paraíso para onde diziam caminhar os povos autodeterminados?

Porventura desenvolveram a sua economia ou a mantiveram ao nível e ao ritmo anteriores?

Que é feito dos princípios de convivência humana alinhados no programa do mundo que se está fabricando?

Onde param as promessas, os juramentos, os direitos?

A paz, a paz autêntica, real, justa, progressiva - onde está ela?

Onde?

Na Argélia, que compra máquinas russas com o dinheiro francês; que recebe milhões de francos e faz desaparecer milhares de franceses; que persegue e liquida os que confiaram na França; que tem profanado e destruído os símbolos da presença europeia; que pega nas ajudas do Ocidente e as volta contra Portugal; que desfralda a sua criminosa intenção de auxiliar os terroristas apostados em exterminar-nos no ultramar; que instala dentro das suas fronteiras, com a assistência de embaixadores do bloco comunista, alguns assassinos alcunhados de dirigentes de um não menos alcunhado movimento de libertação de Angola?

No Congo, onde continuam as lutas tribais e onde vive, abafada e inquieta, a alma do Katanga?

No Burundi, onde os fuzilamentos em massa parece fazerem parte da folha que se despega do calendário em cada dia que vem ao Mundo?

No Togo, onde se decapita a autoridade; no Senegal, onde se procura segurar, a muito custo, o princípio da obediência à lei constitucional; na Costa do Marfim, onde se tomam francas medidas contra os assaltantes, ávidos de poder; no Ghana, onde o Sr. Nekrumah tem andado à mercê de atentados; na ex-Guiné Francesa, disposta a estender a asa subversiva; nos países que permitem e auxiliam, à margem de todo o direito internacional, os campos e as alfurjas onde afiam os punhais os sicários que nos buscam o coração?