Negociar a prazo mais ou menos longo a cedência?

A França cedeu, com mira na comunidade, e a comunidade tem sido espuma desfeita pelos ventos da história.

Vozes:- Muito bem, muito bem!

O Orador: - A Bélgica deu cunho de magna solenidade a independência do Congo Até lá foi o rei, com a sua alta e significativa presença, para que se não duvidasse da intenção e do valor dos compromissos assumidos. E depois a Bélgica foi caluniada e expulsa.

A Holanda chegou a pegar em armas e a batalhar, mas depois esmoreceu e entrou em negociações, deu as suas velas aos ventos da história, e esses ventos trouxeram-lhe para casa os restos amortalhados do seu esforço no ultramar.

O Sr. Pinheiro da Silva: - Muito bem!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não, não pedi a palavra para fustigar, propriamente, a O. N. U., que promove a unificação do Congo de Léopoldville e não promove, por exemplo, e colocando os factos no plano da mais estrita objectividade, a unificação da China da Formosa, uma vez que foi esta a China, como foi aquele o Congo, que ela aceitou e reconheceu.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não, não era nem é meu intento tratar hoje especialmente da O. N. U., que deu por acertada e boa a Federação das Rodésias e da Niassalândia, e agora admite e acha bem o seu total esfrangalhamento.

Não, não estou aproveitando o tempo que me foi concedido para desenvolver o caso da O. N. U., que não movimentou um único capacete azul com o fim de impedir o roubo de Goa, e não escorraçou ainda do Congo ex-belga a turba de malfeitores que nos tem assaltado e se prepara para renovar as suas incursões ao abrigo da impunidade internacional.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não, não me estou ocupando em cheio da Organização das Contradições Unidas.

O que pretendia e pretendo é dirigir-me aos profetas das erradas profecias, para os convencer a desistirem nobremente da sua marcha injustificada e perturbadora.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Portugal não está só.

Vale a pena ser teimoso, quando a teimosia se funda na verdade e na inteligência.

Onde a razão não cede acaba por triunfar a justiça.

Votaram connosco os países mais responsáveis pela política do Ocidente, e os que votaram contra só tiveram uma maioria afirmativa e efectiva de dois votos. Tal e qual o que o Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros ainda não há muito patenteou:

Verifica-se que os que votaram contra nós apenas tinham uma maioria de 2 votos dentro do número total de membros da O. N. U., que é de 110; e somando os votos favoráveis a Portugal e as abstenções conclui-se, além disso, que 32 delegações tiveram dúvidas sobre a propriedade e a procedência da resolução que foi submetida à Assembleia.

Não é tudo, mas é muito, pelo menos o bastante para ajudar os partidários da transigência, que leva ao suicídio, a arrepiarem o passo e descobrirem o peito contrito.

É que não podem existir dois patriotismos: o que pactua com o perigo e reduz a Pátria, julgando salvá-la, e o que afirma a Pátria, defendendo a sua integridade dos perigos que a ameaçam, pois há só um patriotismo, aquele que não discute nem admite que se discuta, e muito menos se ofenda, o todo nacional, sejam quais forem os tempos e sejam quais forem as pressões.

Vozes:- Muito bem, muito bem!

O Orador: - O Governo e os que o acompanham não têm o monopólio deste patriotismo, não o arremataram nem o instituíram. Ele vem das raízes da nossa história, da nossa feição de povo que lutou e sofreu para se afirmar como é. Patriotismo lógico, autêntico, irrecusável, tão sensível e visível e tão natural que. só não o alcança o segue quem não quer ou quem anda mergulhado na ingenuidade mais espantosa.

Vozes: - Muito bem, muito bem!