pública e distrair os governantes com dificuldades sem dúvida substanciais, mas na verdade mínimas perante outras que se acastelam e desabarão porventura sobre nós se não nos mantivermos todos unidos e calmos?

Pus-me todas estas perguntas e concluí pela afirmativa, pois ainda não li que se desse ao público a explicação clara e completa a que tem direito ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... nem tenho por provado que com todo o tempo possível se acautelasse uma situação desenhada já a certa distância ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... o receio que sem um franco exame das origens desta crise, por enquanto pequena, corramos o risco do não arredar factores possíveis de outras iguais ou maiores, além de que vejo nas contrariedades sofridas pelos consumidores amostra apenas pálida das que podem sobrevir em diversos sectores do abastecimento público se não for criada com tempo a consciência geral de uma situação séria, que exige o bom esclarecimento de todos os interessados para poder vir a ser suportada, se não vencida.

Sr. Presidente: parece-me ser a pura verdade que as actuais faltas de azeite e de batatas provêm fundamentalmente das más colheitas do ano que lindou; e essas colheitas foram más ainda não tanto por os lavradores haverem descuidado as culturas, como por a Providência não ter permitido que fossem frutuosas.

Quanto ao azeite, é bem sabido que em toda a parte, ainda mesmo onde o apuro dos amanhos tem reduzido a amplitude dos desvios, a produção das oliveiras alterna escassez com fartura; não se podia esperar, e provavelmente ninguém esperava, que depois das três colheitas dos anos de 1959 a 1961, todas, contra a regra, consecutivamente abundantes, e a última a frisar o excepcional, não se podia esperar, repito, que a safra de 1962 viesse igualar-se ao consumo.

Os números são grandes empecilhos dos discursos; mas são ainda a maneira mais curta e elucidativa de figurar a evolução dos fenómenos; seja-me, pois, lícito recordar aqui o que foram as produções de azeito registadas pela estatística oficial no continente metropolitano nos últimos anos expressas em milhões de litros:

1952............ 57,1

1957 .......... 110,2

1960 ......... 94,2

1961 .......... 123,4

Ainda não saiu a lume, nem poderia ter saído, qualquer cômputo da produção de azeite de 1962, mas sabe-se que as publicações mensais do Instituto Nacional de Estatística sobre o estado das culturas vieram, de Outubro a Dezembro últimos, apresentando estimativas sucessivamente decrescentes da produção provável de azeitona; expressa um termos da média do decénio de 1952 a 1961, inclusive, começaram por calculá-la em 71 por cento para chegarem ultimamente a 65 por cento dessa média, o que, supondo à azeitona igual funda, faz figurar a produção na casa dos 59 000 000 l, volume que nos 12 anos anteriores só duas vezes não foi excedido.

Ocorrerá indagar porque, havendo sido farta, a ponto de criar, por isso, problemas também sérios, a colheita de 1961, e bem de prever a contrariedade a seguir, não se obedeceu à regra prudente e, clássica de guardar as sobras para o ano de magreza. Ocorre, sem dúvida, e anda por aí já o público sabedor, porque não faltam «bem intencionados» para lho lembrar, explicando mal, que, em vez de se guardar todo o azeite, muito foi exportado, na proporção de quatro vezes a média usual em bons anos, pois saíram do País, durante os primeiros onze meses de 1962, mais de 16 500 t, quando em 1961 a exportação não excedera 4833 t em igual período.

Exportou-se, é facto; e é facto que faria agora jeito cá o que saiu; mas é facto ainda que II exportação era recurso que absolutamente se impunha nas circunstâncias do tempo, para evitar um verdadeiro descalabro deste sector económico perante a impossibilidade financeira de suportar os encargos de armazenamento de tudo quanto o comércio não queria, ou não podia, comprar e a vantagem de aproveitar uma oportunidade de melhorar a balança comercial e cambial.

O Sr. Martins da Cruz: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faz favor.

O Orador: - Suponho que sim, pelo menos está claramente escrito na lei; mas V. Ex.ª sabe que todos os organismos para desempenharem a sua função precisam de condições de vida, de condições de exercício dessa função.

Ora parece que o público foi devidamente informado já em relação à colheita de 1961. Circunstâncias que todos nós podemos conhecer não permitiram dotar esses organismos com os meios indispensáveis para exercer a sua função, não permitiram que as autoridades responsáveis se julgassem em condições para dotar esses organismos com tais meios.

Aliás, quem quiser saber melhor as razões de tal exportação só tem que procurar a imprensa do dia 18 de Novembro de 1961, onde as encontrará expostas com minúcia e verdade; agora o que importa é reconhecer que essa exportação, não perfazendo um sétimo da colheita, não teria bastado, transformada em reserva, para cobrir as faltas de hoje, pois o consumo metropolitano de azeite anda por 90 000 000 l, e excede-os mesmo , sensivelmente, quando o público encontra no comércio todo quanto quer.

Ora, sendo certo que a colheita foi fraca, e que quando é fraca entre nós também o é, mais ou menos, nos outros países produtores, visto situarem-se todos numa zona de condições semelhantes, inevitável se tornava, no corrente ano, recorrer em maiores proporções ao óleo de amendoim para suprir a falta de azeite, como tem sucedido sempre.

Sempre, mas com fortunas diversas, perante a opinião pública, conforme o modo de oferecer ao consumo esse óleo, de que não farei o elogio, mas reconheço a indispensabilidade nestas conjunturas.