hoje conta com bastantes elementos representativos locais capazes de colaborarem na gestão da coisa pública com a competência e o patriotismo que é apanágio dos bons portugueses onde quer que vivam, tantas vezes evidenciado no decurso da nossa história comum.

São estas, em essência, as reivindicações do ultramar, sentidas e vividas pelos autóctones e não autóctones; por quantos lá estão.

Decorrem, portanto, na legitimidade do quadro nacional e pode-se afirmar que de uma maneira geral ninguém se sente constrangido por ser português, todos temos disso orgulho, tenha ele nascido em Cabo Verde ou em Timor, nos confins da Zambézia ou nas plagas inóspitas do Maiombe. Seja ele de cútis branca, preta ou mestiça.

Só com espírito de missão transcontinental, com a mensagem de humanismo que o povo lusitano levou a outros povos, com eles se misturando numa mescla livre, ignorando o presumido valor somático do homem; só com a manutenção e o afervoramento dessa mística, com a defesa intransigente contra os que, entre nós, maus servidores da Pátria, desvirtuam esses fundamentais princípios que garantem a nossa coexistência, a nossa unidade na diversidade, poderemos vencer a dura provação do momento que passa.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Que novas oportunidades se abram na estrutura económica, na ciência e no campo social, na elevação e formação intelectual e espiritual das gentes ultramarinas, num mundo em que, como afirmava o jornalista francês Raymond Galuce, «todos os princípios morais são atacados vivamente e um lento apodrecimento ganha uma humanidade (eu diria uma desumanidade) mais inclinada para o ódio do que para o amor, para a divisão do que para a concórdia e fraternidade».

«Corresponder-se-á assim ao sentir dos autóctones e residentes, reforçando-se todos os laços sentimentais com a metrópole, como natural agradecimento do serviço prestado com o generoso traçar de um futuro pacífico e harmonioso», como escreveu, e bem, alguém com responsabilidades intelectuais e idónea posição nas esferas económicas do Angola e da metrópole, entre cujos pólos espirituais se situa a nossa idiossincrasia.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

da terra já o cansaço da espera lhes roubou a aura de regozijo público ou lhes reduziu o valor da utilidade social.

Os dias passam-se, assim, naquelas longínquas paragens, em acabrunhante expectativa, que amarfanha os corpos e as almas. Daí resulta um clima de mal-estar e de desalento, que não favorece nem a vida dos governados, que em vão se esforçam por mais e melhor, nem o prestígio dos governantes, que, também, ingloriamente sacrificam ao. mesmo lema as forças e o talento.

A culpa não parece, pois, nem de uns, nem de outros.

Mas, se não é dos governantes, nem dos governados, de quem é, afinal?

Quem é que se compraz em relegar para o campo estéril da utopia muitas das mais caras e prementes aspirações?

Quem é o responsável pelo marasmo em que caem projectos já concluídos e até já dotados do dinheiro preciso para a sua execução?

Quem obsta a que funcionem dispendiosas construções já terminadas e que se quedam inertes e inúteis como se nunca houvessem sido necessárias?

Quem se acusa, como réu, de todos estes malefícios?

Quem tem a hombridade de trazer ao lume da consciência a inacção ou a negação que foram causa remota ou recente deste lamentável estado de coisas?

Ninguém!

Ninguém se apresenta como autor ou coadjutor desta triste realidade, e, todavia, ela existe, como fatalidade daninha, a retardar o êxito dos melhores propósitos ou a apagar a chama das melhores vontades.

Por toda a parte, nas ilhas como no continente, uma insuperável «empatocracia» demora, amputa ou aniquila as mais legítimas ânsias de progresso.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Actuando às claras, ou sub-reptìciamente, ela invade todos os sectores da vida pública, ora se apresentando sob a capa de velha e bondosa criatura, sempre pronta a dizer sim a tudo e a todos, mas sem nada querer fazer, ora sob a roupagem de novo e diligente especialista que não descansa enquanto não vê à sua frente as malhas apertadas do impossível ...

E cega e surda, tanto aos clamores ordeiros das populações pacíficas, como às arremetidas terroristas das hordas revoltadas, ela lá fica indiferente a solicitações e impactos, bem segura do seu sólio e bem cônscia dos seus direitos.

Nas horas amargas que todos atravessamos e em que vemos o Governo, na mais exaustiva e estóica das tarefas, colocar, simultaneamente, na mesma linha de preocupação e de dotação as terríveis exigências da guerra e as tremendas necessidades da paz, como admitir a existência dessa força negativa que desfalca e por vezes anula tão grande esforço?

Quando todos os indivíduos, acicatados pelas esporas do signo dominante dos nossos dias, não sabem ou não podem refrear impulsos de insatisfação ou de pressa, como se compreende que essa força actue em sentido contrário, tornando difícil ou impossível o encontro entre a aspiração e a realização?

Inúmeros seriam os testemunhos que podia reunir para provar à pluralidade da Assembleia a existência desta poderosa «eminência parda» que tão grandes prejuízos materiais e morais tem já causado ao País.