dades para melhor poder cumprir, e o conhecimento da crise actual mostrado pelo Governo é penhor seguro de uma pronta e eficaz actuação, como o exige a natureza do problema.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Délio Santarém: - Sr. Presidente: os aglomerados populacionais formam-se e desenvolvem-se através de uma teia intrincadíssima de mil problemas e de milhares de solicitações e os homens que constituem esses aglomerados apresentam-se, simultânea e fatalmente, aos olhos dos observadores, como os delirantes criadores desse mesmo labirinto e os activos desbravadores dos caminhos mais directos à sedutora miragem do bem-estar social.

Mas é sempre, nesta insatisfeita vida terrena, um caminhar árduo, cada vez mais penoso e sem fim.

Pode traduzir-se, num quadrante de gigantesco caleidoscópio, pela imagem de um exército que venceu a terra firme; ultrapassou as areias do deserto fustigado pelo vento e tisnado pelo sol; entrou no lodo e caiu no pântano onde cada soldado se viu isolado, entre um emaranhado de varas esguias, encharcado até aos ossos e sentindo como que o peso do mundo acorrentado a seus pés. Mas outro exército surgiu depois e sempre mais outro e a caminhada inclinações individuais, mas cada dia que nasce lhes fará aumentar o rol dos casos já estudados ou definidos.

Há que estar atento à distribuição dessa graça e tudo tentar para que a obra do Criador não seja deformada nem esquecida pelas criaturas.

Ora, Sr. Presidente, tenho, naturalmente, deixado deambular o meu pensamento nestas divagações - que V. Ex.ª, Sr. Presidente, e VV. Ex.ªs, Srs. Deputados, poderão achar impertinentes -, porque me seduziu a ideia de tratar aqui de tantas inclinações individuais perdidas, de tantas vocações que não conseguiram germinar por não lhes termos dado todos os meios propícios ao seu desenvolvimento integral.

Simultaneamente julgo, assim, também conseguir explicar a minha insistência nesta Assembleia sobre assuntos relacionados com a educação nacional. Realmente, isto acontece sobretudo por inclinação natural, embora algo também pelo muito que a formação de um médico se prende com toda a ambiência do corpo e do espírito.

Sr. P residente: há cerca de dois anos, e como presidente de uma comissão de tirsenses que ao Ministério da Educação Nacional se dirigiu para pedir a restituição ampliada do antigo liceu de Santo Tirso, tive já o ensejo de poder dizer ao nosso brilhantíssimo companheiro nesta Câmara - quando S. Ex.ª no seu gabinete de Ministro da Educação Nacional continuava a encher de prestígio e de dignidade aquele importante departamento do Governo - que, estabelecendo a Lei Fundamental do Estado o livre acesso de todas as classes aos benefícios da civilização e sendo a cultura um desses benefícios, e, sem dúvida, um dos maiores, se tornava um imperativo da consciência administrativa proceder ao alargamento perfeito dessa cultura, só possível de obter através da descentralização do ensino.

Concentrado este nas principais cidades, por um lado, mantém-se alheio ao apelo de tantos que vivem longe delas e não possuem bens de fortuna capazes de lhes permitir deslocações frequentes ou demoradas; por outro, arrasta famílias inteiras que, no objectivo de poupar despesas volumosas, acompanham os filhos para os grandes centros de estudo, dessangrando a vida provincial, muitas vezes do seu melhor, e agravando o tão famigerado e preocupante fenómeno do urbanismo.

Difundindo-se mais, por muitos pontos do País, tantos elementos de civilização e progresso, que nos grandes meios chegam até a embaraçar as funções, consegue-se desanuviar estes de certos empecilhos; estabelece-se uma transição mais suave, menos perturbadora, para todos aqueles que da província vão para os grandes meios, onde tantas grandezas e solicitações os podem perder ou, pelo menos, levar à perplexidade; e distribuem-se mais equitativamente os usufrutos do património nacional, do património de todos nós.

Ninguém duvida de que é no meio que se encontra a virtude e que sobre todos nós recai a obrigação de conseguir, se não um equilíbrio estável, pelo menos contrariar o desequilíbrio perigoso.

Ora, apesar do reconhecido esforço do Governo, nós vivemos, quanto à distribuição da cultura, ainda em evidente desequilíbrio. Desequilíbrio menos nefasto para o prato da balança, que se afunda no abismo da complexidade pela potência da sobrecarga, do que para a outra banda, que se esvai nas alturas por ausência de qualquer peso específico.

Para restabelecer o equilíbrio, ou, vá lá, para não agravar o desequilíbrio, é fundamental levar até à periferia de todo o nosso território uma mais intensa pulverização do ensino médio.

No campo do ensino primário tem sido activa essa divulgação, e nunca é de mais destacar, ao recordar a luta ingente contra o analfabetismo, a brilhantíssima, a eficientíssima acção que desenvolveu nesse campo o nosso ilustre colega Dr. Veiga de Macedo quando, com grande entusiasmo, desempenhou o cargo de Subsecretário de Estado da Educação Nacional.

Relativamente ao ensino superior, está reconhecida a necessidade de dar às Universidades do Porto