Por isso mesmo, e pelo que sabemos ser seu constante pensamento, não duvidamos de que vai resolver o problema que lhe é posto com a urgência e a ponderação que se impõem.

Tal como já ouvimos notar, o aparecimento do petróleo em Angola surgiu como um factor da Providência. Descurar o seu pleno aproveitamento é quase atentar contra os desígnios de Deus.

Tenho dito.

Vozes:- Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Cutileiro Ferreira: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: passou à categoria de lugar-comum, e, o que é mais grave, quase com o desprezo que se tem pelo lugar-comum, falar-se ou ouvir falar-se da, crise no Alentejo.

Esta maneira simplista de encarar o problema não favorece nem os encarregados de o estudar nem os que necessitam dos resultados desse estudo.

Contudo a crise existe ... alastra e torna-se perigosa para a sobrevivência económica das gentes do Alentejo.

Vai longe o tempo em que falar desta província não envolvia situações desagradáveis. Hoje, mau grado avanços técnicos notáveis, não podem esquecer-se, antes se impõem, reparos e situações dolorosas que afligem as populações transtaganas.

Mas quais são os factores da crise?

Para sistematização, puramente arbitrária, desses factores farei a sua divisão em três grupos: naturais, internos e externos.

Como factores naturais citarei a inconstância, imprevisível, do clima, a pobreza dos solos e a mentalidade congénita das gentes.

Creio que a ordem expressa nos conduzirá a aceitar a premência de cada um dos factores sobre o subsequente. O clima, com amplitudes térmicas latas, com um regime de chuvas desordenado, tem uma influência decisiva na pobreza dos solos, já por formação geológica, normalmente, de contextura deficiente para a produção agrária. Estes dois factores decisivamente influenciam, modelam mesmo, a mentalidade das gentes. O homem é fatalista, contemplativo e pouco propenso a reacções duradouras.

Mas não podem ser comandados, modificados mesmo, estes factores? ... Creio bem que sim.

O clima corrige-se por florestações e barragens; a pobreza dos solos por fertilizações químicas e orgânicas, defesa contra a erosão, obras de enxugo e regadio complementares.

A mentalidade congénita das gentes, já influenciada por factores modificados, molda-se na família e na escola. Este factor, o humano, deve merecer as melhores atenções de todos. Na sua defesa, na melhoria das suas condições de vida, na sua educação, residem os fundamentos da continuidade da Pátria Portuguesa. Tudo se deve sacrificar em benefício do elemento humano. Proteger a família ... fomentar a escola ... é alicerçar o futuro das gerações vindouras.

Como factores internos referirei: a lei, o crédito, a organização da produção e do consumo. Fundamentalmente, são as leis que orientam e condicionam todas as relações humanas. Se as leis forem prudentes, sérias e justas, conseguirão com facilidade ser queridas, estimadas e cumpridas; se faltarem a estes requisitos, geram discórdia e desprezo e serão inoperantes.

O crédito, condição básica de desenvolvimento económico, deverá ser concedido com taxas compatíveis e por tempo útil.

Deverá ser usado com prudência, para que não produza asfixia nem conduza à especulação. Não sei mesmo qual destas duas situações será socialmente mais perniciosa. A gerência dos institutos de crédito requer, quan to a mim, uma preparação especializada, mas com um acentuado sentido humano. Os institutos de crédito devem funcionar mais como orientadores económicos do que como cobradores de taxas.

Vozes: - Muito bem!

arei de citar que é preocupação dominante de todos os portugueses - repito: de todos os portugueses e só dos portugueses - a obtenção de um nível económico que nos ponha a coberto de reacções que, no momento presente, seriam catastróficas no campo político, social e moral.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E evidente que quando isto se diz não se quer significar que tenhamos estabilizado em todos esses campos uma evolução constante e contínua, é a razão dominante do nosso pensamento.

Há, porém, que atender à continuidade da Pátria, à sua indivisibilidade e à sua defesa perante todos os inimigos, e isso só pode conseguir-se pelo trabalho persistente, na paz ou na guerra, pelo sossego nos espíritos e, sobretudo, por uma firmeza económica como sinónimo de bem-estar social e moral.

Como factores externos teremos de considerar, principalmente, as correntes político-económicas dominantes no Mundo, a situação dos mercados internacionais, as balanças de pagamentos dos países nossos clientes e, ainda, os estados de guerra ou de paz.

Facilmente se compreende que estes factores só muito dificilmente, precariamente mesmo, serão comandados pela nossa gente. Tratados de tipo específico, obtidos por via diplomática, são os únicos instrumentos de que podemos servir-nos, e mesmo esses sempre em risco iminente de renúncia por tantos e tais motivos que será impossível uma previsão correcta.

Sem brilho, e muito resumidamente, acabo de expor os factores da crise com um carácter de generalidade e sem atender ao exclusivismo da região alentejana.

Vou passar, como mo propus, a apresentar o caso concreto do meu Alentejo.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: não vos dou qualquer novidade ao afirmar que o Alentejo espera de nós, e mais ainda do Governo, acção rápida, eficiente, justa e deci-