vos, com o esforço do seu trabalho de gigante, com as lágrimas de dor vertidas nos momentos de infortúnio e com o sangue com que regou, na dura luta pela sobrevivência, os mesmos campos de lavoura que a sua enxada tinha rasgado no trabalho da conquista do pão.

Nós, gente do ultramar, que sempre nos temos batido por uma descentralização administrativa que permita o franco desenvolvimento das nossas províncias, estamos agradecidos ao Prof. Adriano Moreira pela iniciativa que então tomou.

Sabíamos, e sabemos, que era decisão determinada pelo Governo, que superiormente dirige a vida e os destinos da Nação, mas a verdade é que o messianismo da palavra de Adriano Moreira, ao anunciar a decisão tomada, deu nova esperança aos povos ultramarinos, cujas cabeças, das cores de todas as raças de que se compõe a multirracial Nação Portuguesa, viraram bruscamente, num gesto de súbito interesse, na direcção dessa Europa distante onde repousa a Mãe-Pátria, respeitada e veneranda, para ouvirem a palavra confiante do homem do Governo que falava a sua própria linguagem.

Vozes: - Muito bem!

tomadas unicamente por eles próprios. Mas isso não quer dizer que os laços de família - sagrados laços que sempre devemos respeitar - tenham sido quebrados, que os filhos deixem de estar vinculados à casa paterna.

As nossas províncias ultramarinas, nomeadamente as grandes províncias de Angola e Moçambique, poderão entender que a sua economia deve crescer livremente, limitada apenas pelas suas restrições naturais, sem que outras regiões, embora também portuguesas, possam prejudicar esse desenvolvimento por causa dos seus próprios interesses; podem desejar que uma ampla descentralização administrativa permita que muitas decisões, ainda hoje dependentes do Ministério do Ultramar, sejam tomadas pelos governadores, governadores que afinal são representantes de toda a confiança do Governo Central; podem aspirar que uma maior descentralização possibilite que muitas funções administrativas respeitantes às províncias ultramarinas não dependam de funções executivas apenas atribuídas ao Ministro. Mas nenhuma destas aspirações põe em perigo, em qualquer dos seus aspectos, a unidade política da Nação, que todos nós, como portugueses, devemos defender e preservar.

Vozes: - Muito bem!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Pertenço a uma família que conta já a terceira geração nascida em Moçambique. E como eu tantos outros, tantas outras famílias. Pois posso afirmar, em boa verdade, que em nenhuma destas velhas famílias moçambicanas, que em nenhum dos descendentes dos colonos que demandaram a província há muitas décadas atrás, para nela se fixarem e nela fazerem brotar o fruto honrado do seu trabalho,- se nota a mínima deterioração nos seus sentimentos nacionais.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Penso até que os descendentes dos colonos poderão desempenhar um papel importante na consolidação dos elos que hão-de ligar cada vez mais os portugueses de origem africana aos portugueses oriundos da Europa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Desde que nascemos, convivemos estreitamente com os nossos compatriotas de origem africana. Com os nossos condiscípulos ou com os nossos moleques brincámos, nos doces anos da infância descuidada, debaixo dos cajueiros de saborosos frutos; com eles nos lançámos em correrias, por manhãs de sol tropical, à procura de tinholé; nas nossas caminhadas pelo mato arranhámos a pele nos espinhos acerados das mesmas mincaia ou colhemos as mesmas massala verdes. Muitos falam a língua vernácula nativa, como se de próprios africanos se tratasse.

Este é o espírito de simpatia e de amizade que frutifica entre homens que. embora de epidermes de cor diferente, caminham, ombro a ombro, pelas mesmas estradas que procuram o engrandecimento da Nação; que trabalham juntos nas mesmas fábricas, nas mesmas oficinas, nos mesmos escritórios, nas mesmas repartições públicas; que se sentam, lado a lado, nos bancos das mesmas escolas, nas mesas dos mesmos restaurantes e cios mesmos cafés; que convivem e trabalham, na defesa dos interesses dos círculos que representam, nesta mesma Assembleia Nacional. Este é o verdadeiro panorama do mundo português. Orgulhemo-nos deste panorama e trabalhemos afincada e corajosamente para que a harmonia que sempre reinou entre as diversas etnias que compõem esse mundo não seja perturbada pela incompreensão de aspirações que nada têm que ver com a unidade política da Nação.

Todas as afirmações que consciente e construtivamente tenho feito nesta Câmara, nas modestas mas sinceras e bem intencionadas intervenções que aqui tenho apresentado, representam a opinião corrente em Moçambique. Pois posso afirmar, uma vez mais, com a mesma franqueza e a mesma sinceridade de sempre, que é desejo convicto e inabalável de Moçambique manter-se estreitamente ligada à metrópole, numa verdadeira e robusta unidade política.

São por demais conhecidas as palavras cheias de desassombro que Mouzinho de Albuquerque escreveu quando pediu a exoneração do cargo de comissário régio de Moçambique, após a publicação do Decreto de 7 de Julho