não chega, porém, a fazer-se, e só em 1872, Varnhagen, visconde de Porto Seguro, consegue trazer a público uma nova edição, que, por seus erros e omissões, não estava à altura nem dos méritos do autor nem dos dons do editor.

É então que a Academia Real das Ciências de Lisboa, tomando a peito o desagravo, encarrega o conde de Ficalho - o mais sábio de todos os fidalgos e o mais fidalgo de todos os sábios - de fazer uma nova reimpressão, e então surge o primeiro «monumento» português a consagrar a memória de Garcia de Orta: o seu livro Garcia de Orta e o Seu Tempo, publicado em 1886, e, cinco anos depois, a nova e última edição dos Colóquios dos. Simples, com todos os rigores e virtudes da edição primeva e todas as notas históricas e elucidativas que a obra merecia.

Desde então muitos foram os ângulos da vida e da obra do grande sábio focados por outros ilustres homens de letras e de ciências, sem que contudo surgisse na capital, como tanto desejava o Prof. Silva Carvalho, seu maior biógrafo, qualquer estátua que levasse ao conhecimento directo do grande público a figura gigantesca de um dos maiores valores de Portugal.

Garcia de Orta realmente nunca deveu muito às artes plásticas.

À parte o quadro de Cristóvão de Figueiredo, existente no Museu de Arte Antiga, de Lisboa, que o representa, no enterro do Senhor, como médico doador, e o painel de Salgado, na sala dos actos da antiga Faculdade de Medicina de Lisboa, ao Campo de Santana (onde, ao lado de Amato e de Zacuto, ele surge, paradoxalmente, com menos de 40 anos, já trazendo na mão o livro que havia de escrever vinte anos depois), só no baixo-relevo da nova Faculdade de Medicina de Coimbra e em recente selo do ultramar se podia aquilatar da sua efígie até há cinco anos.

Em 1958, porém, o Ministro do Ultramar Sarmento Rodrigues, dando plena concretização à ideia do Prof. Fraga de Azevedo, fazia surgir em Lisboa, ali à Junqueira, não só um imponente edifício -o Instituto de Medicina Tropical -, mas ainda, à sua frente, uma grande estátua - a de Garcia de Orta.

Modelou esse belo trabalho o escultor Martins Correia, que lhe soube dar, além da dignidade e do porte que semelhante figura requeria, o «conteúdo» misterioso de um alto espírito a pairar muito acima das contingências terrenas do seu perfil hebreu ...

Parece assim saldada, em boa parte, a enorme dívida de gratidão que Portugal tinha em aberto perante esse grande luminar da nossa história.

No íntimo das nossas consciências fica, porém, ainda de pé uma indispensável tarefa que está para além de todas as homenagens públicas já prestadas ou a prestar: a de reter para sempre na memória o significado transcendente da obra de Garcia de Orta.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - A esse aspecto se referia Silva Carvalho há 30 anos, quando escrevia:

...se, por um implacável destino, Portugal perdesse todos os seus domínios e até o mais glorioso deles, a índia, poderia, apesar disso, conservar testemunho e padrão da época maravilhosa das suas descobertas e conquistas e do papel que desempenhou no movimento da Renascença científica, se salvasse as Décadas, de João de Barros, as Cartas de Afonso de Albuquerque, os Lusíadas, de Luís de Camões, as Cartas de S. Francisco Xavier e os Colóquios, de Garcia de Orta.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não acredito, Sr. Presidente e Srs. Deputados, que o Destino possa ser tão cego ou tão cruel que não saiba distinguir entre todos os povos do Mundo aquele que mais merece possuir as terras que aquém e além-mar descobriu e iluminou de fé.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - Seja, porém, qual for a situação presente ou futura dessas parcelas de si próprio, Portugal nunca deverá deixar de ter no coração as obras daqueles que, por seu ingente esforço e real talento, lhe legaram a própria essência da sua perenidade.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - Saudemos,- pois, com todas as veras da nossa alma, os Colóquios dos Simples, que, há precisamente quatro séculos, surgiram na velha Índia como facho glorioso de uma epopeia que não morre.

Tenho dito.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Virgílio Cruz: - Sr. Presidente: a aceleração do nosso desenvolvimento económico está em larga medida dependente do crescimento das exportações.

Precisamos de exportar mais para atenuar os desequilíbrios da balança comercial e progredir em ritmo crescente, sem necessidade de podermos vir a sacrificar a sólida posição monetária do País.

Na lista das mercadorias que exportamos, o vinho do Porto é um produto acreditado desde há séculos e na balança comercial ocupa lugar de relevo, tendo o seu valor de exportação excedido no último ano os 400 000 contos.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - Esta fonte de divisas poderá, pelo que respeita à produção do Douro, vir a ser muito ampliada. Como só tem sido beneficiada cerca de 20 por cento da produção vinícola média da região demarcada, esta fonte de divisas poderá vir a exceder largamente o milhão de contos anual, se os mercados externos, que têm absorvido mais de 90 por cento deste nobre produto - que é o rei dos vinhos e o vinho dos reis -, o passarem a consumir em maiores quantidades.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - Para os responsáveis pelo nosso desenvolvimento económico um grande objectivo a atingir deverá ser o de aumentar a exportação do vinho do Porto até ao limite que permita utilizar para benefício todos os magníficos mostos que a região demarcada do Douro produz.

Vozes: -Muito bem, muito bem!