O Orador: - A sua exportação média anual, que já foi da ordem das 88 000 pipas, caiu abruptamente para as 28 000 durante a última guerra, andou pelas 43 000 desde 1946 a 1960 e recuperou para um pouco mais das 50 000 pipas nos últimos dois anos.

Isto mostra que, vencida a estagnação de um longo e penoso período de vinte anos, que lançou a laboriosa gente do Douro e o comérico exportador numa dramática e arrastada crise, se entrou num novo período prometedor e se acentua, mercê da conjugação dos esforços do Governo, do Instituto do Vinho do Porto e do comércio exportador, um aumento de receptividade para o vinho do Porto nos diversos mercados.

A região do Douro sobreviveu à crise graças à organização criada pelo Governo e devida ao nosso ilustre colega nesta Câmara Sr. Eng.º Sebastião Ramires, a quem dirijo por isso os agradecimentos da gente do Douro.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Se ainda estamos longe da posição ocupada antes da última guerra, isso é devido principalmente à quebra nos mercados britânico, francês e norueguês.

No quadro I indicamos a evolução das exportações para esses mercados e a evolução da exportação global:

(Média anual em milhares de litros)

A desconcertante baixa de importação verificada nos três maiores mercados de antes da última guerra é, só por si, superior à redução total da exportação do vinho do Porto verificada de 1936 para 1962, e também se vê pelo quadro I que a penosa crise que se arrasta há quase um quarto de século não é, felizmente, generalizada, mas uma crise parcial e determinada pela contracção do consumo em três grandes mercados: Inglaterra, França e Noruega.

Conjugar todos os esforços do sector público e privado para bater a forte concorrência que nos é feita nesses e noutros mercados é um dever nacional.

Em França registou-se nos dois últimos anos uma apreciável melhoria e assiste-se a um aumento de interesse pelo vinho do Porto. A propaganda e a actuação activa e inteligente da Casa de Portugal em Paris, que procurou assimilar a psicologia francesa c está a apoiar a nossa propaganda, foram elementos preciosos para a evolução do mercado no sentido da qualidade e para o aumento da ven da deste produto em França.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Em situação de contraste encontra-se o mercado inglês; embora seja ainda o maior mercado do vinho do Porto, está muito longe daquilo que já foi; a concorrência feita pelo vinho xerez faz perder muito terreno ao vinho do Porto, nesse e noutros mercados.

A análise da evolução a longo prazo das vendas de vinho do Porto e xerez em Inglaterra mostra que no biénio 1929-1930 a média exportada andou pelos 25,1 milhões de litros para o porto e 6,2 milhões para o xerez, mas, recentemente, no biénio 1960-1961, enquanto a exportação subiu para 23,35 milhões para o xerez, nota-se, com justificada preocupação, que ela desceu para 8,39 milhões de litros para o porto; isto é, enquanto a exportação do xerez subiu para quatro vezes o que foi em 1929-1930, a do vinho do Porto reduziu-se a menos de um terço do que era então.

O Sr. Alfredo de Brito: - Traz V. Ex.ª a esta Assembleia um assunto que considero importantíssimo não só para a economia regional, como para a economia nacional.

Sou filho adoptivo do Douro. Iniciei as minhas actividades com p vinho do Porto, e, portanto, as palavras de V. Ex.ª caem-me no coração. Mas estamos no campo das realidades, e permito-me trazer uma achega ao valioso trabalho de V. Ex.ª

Fala-se de mercados, e é preciso considerar a situação de cada um deles, pois diverge de uns para outros.

Para a Inglaterra é preciso contar com a psicologia do meio, com as tendências económicas, com a acalmia e com o próprio feitio britânico.

Mas a exportação para esse mercado tem de contar com a evolução social, com as transformações modernas, as quais vieram fazer uma modificação total não só nesse mercado, como noutros.

O vinho do Porto tem de ser bebido com cuidado e atenção, e hoje o tempo é curto e há necessidade de ingerir num tempo reduzido uma quantidade de bebida alcoólica, o que não permite uma cuidadosa atenção a um produto de tal valia como é o vinho do Porto.

É necessário, julgo eu, alongarmo-nos um bocadinho dentro das produções do nosso vinho do Porto, procurando adaptá-las às necessidades do consumidor. Tem havido uma tendência irreprimível para manter as características de envelhecimento e os cuidados que sempre foram requeridos. É sempre difícil uma situação de concorrência para os produtos substitutos, como são os aperitivos, que são quase produtos de síntese, infusão de várias plantas, etc. Temos, portanto, de evoluir nos nossos tipos de vinho do Porto.

O nosso vinho do Porto, que era bebido após a sobremesa, é agora mais servido como aperitivo, o que acarreta necessidade de modificação das suas características. Primeiro, os velhos vinhos do Porto necessitavam de um envelhecimento de largo prazo que ocasionava uma imobilização de capital e um acréscimo, por introdução, de aguardente para manter o seu grau alcoólico.