consequências familiares e sociais, começa a constituir um grave problema nacional, que urge enfrentar sem delongas e com solicitude.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Transplantado para outros meios, narcotizado pelo traumatismo psicológico da mudança brusca, febricitante pela fascinação do imprevisto, o trabalhador rural sente muitas vezes o desapego de tudo aquilo que antes o enternecera e, na sua modéstia, lhe dera o encanto de viver.

Auscultai a alma desses desenraizados e vereis que em muitos já morreu a saudade da pequena aldeia em que nasceram, da lareira que os acalentou, da escola em que estudaram, da igreja branca que lhes enflorou a infância e bordou de luz doirada os sonhos da juventude.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - E quantas vezes, ao contacto de novos climas, aqueles corações, precocemente tocados pela aragem do Outono, emudecem a voz do sangue e deixam tombar o amor sublime que, embalando os berços, devia transcender a jurisdição da morte! ...

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: o nosso trabalhador rural, por via de regra, vive em casas sem as mais rudimentares condições sanitárias, desprovidas de água, de luz, sem qualquer espécie de conforto que atenue os rigores do frio e o varrer desabrido das ventanias.

A sua alimentação é deficiente para o enorme esforço muscular que desenvolve.

O seu horário de trabalho vai de sol a sol e, não raras vezes, entra pela noite dentro, sob o pálio de oiro do céu estrelado.

A previdência e a assistência ou não existem ou são um clarão furtivo que pouco aquece e reconforta.

O trabalhador rural moureja a vida e, na velhice, pede esmola.

O Sr. Augusto Simões: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sinto que o coração se me confrange quando vejo estendida à caridade, nobre no seu plebeísmo descarnado, aquela mão emagrecida que revolveu pedras, acariciou a gleba, plantou árvores, fez cantar a enxada e gemer o timão do arado, que, numa palavra, despertou fontes de riqueza, tornando a terra mais fecunda, os campos mais produtivos e a paisagem mais bela.

E o entardecer da vida, que para aquele obreiro da natureza deveria ser manso, bento e suave, a ironia do destino ainda o transforma em ricto de miséria e de dor ...

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - As Casas do Povo e os grémios da lavoura, admiráveis no pensamento que presidiu à sua concepção, por falta de meios e por outros motivos também neste aspecto não têm correspondido às finalidades para que foram criados.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - A gente dos nossos campos tem jus a maior amparo. Os seus anseios e as suas angústias não podem ser vozes perdidas no deserto, mas justificado clamor que, instantemente, pede solução para os seus problemas, que são problemas nacionais.

O Sr. Augusto Simões: -Muito bem, muito bem!

O Orador: -Sr. Presidente: sob os auspícios da presente Lei de Meios, dentro de breves dias, um novo ano económico vai começar.

Dando a minha aprovação na generalidade ao diploma legislativo em debate, quero testemunhar o meu voto de confiança no superior critério do Governo da Nação, a minha esperança no advento de melhores dias para o sector primário do rendimento nacional e a minha certeza inabalável na grandeza perene da Pátria.

Tenho dito.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

ei a faze-lo, apresentando ao Sr. Ministro das Finanças as homenagens da minha admiração.

O relatório é constituído essencialmente por três capítulos: estudo da evolução da economia internacional; análise da conjuntura interna; e justificação da política financeira, no duplo aspecto dos resultados obtidos e dos objectivos a alcançar.

No que se refere à actividade económica em 1963, impõe-se um breve apontamento que julgo não dever omitir para definição das coordenadas em que se insere a conjuntura nacional.

Os acontecimentos de maior relevância foram constituídos pela crise de Cuba e pela ruptura das negociações para o ingresso da Inglaterra no Mercado Comum.

Os Estados Unidos, a braços com um problema de desemprego persistente, viram o seu produto nacional aumentar a cadência reduzida e não conseguiram até agora deter a drenagem de ouro para o exterior.

O desequilíbrio da balança de pagamentos constitui, assim, o aspecto mais preocupante da economia americana e o ponto sobre que se polarizam as atenções mundiais.

Na Europa Ocidental - e salvo diminutas excepções - o produto nacional tem progredido a uma taxa inferior à do ano findo.

Não se nota, porém, desemprego, com excepção da Inglaterra, verificando-se também tendência para o equilíbrio no respeitante ao comportamento das balanças de pagamentos.

No nosso país a expansão económica mantém-se a ritmo apreciável. As taxas de crescimento atingiram no último quinquénio elevada percentagem, susceptível de