Sei que Roma e Pavia se não fizeram num dia. Mas também é verdade que o tempo já deixou de ser factor que possamos invocar em nossa defesa em presença dos problemas que ainda não fomos capazes de resolver.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Disse um grande estadista: «quem, se coloca no terreno nacional não tem partidos, nem grupos, nem escolas; aproveita materiais conforme a sua utilidade para reconstruir o País: tem a grande, a única preocupação de que sirvam e se integrem no plano nacional».

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Porque acredito na sinceridade e justeza destas palavras, aqui deixo, dentro dos princípios que elas definem, um pouco da minha alma a propósito de alguns retalhos da vida do País, que tanto amo e que desejo próspero.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Se nos não compenetrarmos todos, dirigentes e dirigidos, de que acima de nós próprios, dos nossos egoísmos, das nossas fraquezas e vaidades, deve pairar o superior interesse nacional e que a ele devemos entregar-nos com todas as nossas faculdades físicas e intelectuais, se não enveredarmos deliberada e heroicamente por este caminho, «havemos de chorar a doutrina, posto que a acção a não mereceu!».

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se à

O Sr. Presidente: - Continua em discussão na generalidade a proposta de lei de autorização de receitas e despesas para 1964.

Tem a palavra o Sr. Deputado Armando Cândido.

existentes e pela tendência para se olvidar mais o bem do que o mal.

Vêm estas reflexões como introdução ao que vou dizer sobre a proposta de lei que estamos apreciando.

Desde 1928 que mão firme segura o leme da estabilidade financeira. E não é só o crédito restabelecido e consolidado; a moeda que pulou de valor; as contas que se tornaram exactas; a acentuada melhoria no sector das comunicações; a cura das ruínas e chagas que desfeavam e diminuíam o corpo do País; a mudança de estilo de vida, pela salutar adopção de novos e rigorosos moldes; o avanço nos domínios do espírito, pelo saneamento e alargamento dos meios e instrumentos de cultura. Não é só tudo isso, que é o bastante para dignificar e justificar um regime. Foi ainda a expansão económica, com os seus ganhos morais e materiais, designadamente através de planos estudados e cumpridos com os escrúpulos da plena responsabilidade.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Talvez valha a pena recordar, a propósito, este pequeno, mas grande trecho do Relatório do Orçamento Geral do Estado para 1958:

... por mais diversas que sejam as concepções doutrinárias que estão na base de actuação dos governos, as políticas de que estes se servem para as projectar nos factos e as estruturas que lhes são subjacentes, uma condição há por todos reconhecida como necessária à regularidade do desenvolvimento: a estabilidade financeira interna.

E ainda estas outras breves palavras - breves, mas profundas -, escritas no mesmo Relatório, a concluir:

Numa Europa que não se reencontrou ainda, o nosso exemplo nesta matéria não tem apenas o valor de um símbolo. Constitui «alicerce, consolidado e estável, para obra duradoura».

A estabilidade financeira. Um facto corrente da nossa política interna. Corrente e com mais de três décadas. Por isso mesmo tido na conta de sucesso a que nenhuma ou pouca atenção se deve, uma vez transformado, como tem sido e está sendo, em norma todos os anos prescrita e todos os anos observada.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Mas em Março de 1961 o País é sacudido em África. Pela imensa fronteira norte de Angola irrompem as hordas terroristas. Não as move a razão. Impele-as o ódio, alimentado pelos ventos que sopram de três quadrantes. Não os da história, que se soltam dos desígnios naturais e normais. Mas os que vêm do Leste, rajados de vermelho. Não os que nascem segundo o império da lógica. Mas os fabricados por gente fatalmente propensa a mostrar mais poder físico do que experiência histórica, e oxalá não venha a ser perturbada, mais do que tem sido, em sua própria casa. Não os que a inteligência do destino ditaria, mas os que povos aglutinados, em arremedo de terceira força, desencadeiam com A mira de os fazer valer em seu total proveito, se os grandes preferirem abdicar, nada construindo de realmente útil a favor da paz efectiva.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - Até para cá das linhas em perigo, onde morrem portugueses para que Portugal não morra, um transviado qualquer pode esquecer-se de agradecer aos mortos o inestimável bem de viver em próspero sossego ou