de ser dada toda a prioridade, quer em apetrechamento, quer na concessão de meios que lhes permitam um gradual aperfeiçoamento dos serviços.

A caridade, esse belo sentimento cristão que continua a ornar a alma do nosso povo, faz com que, por vezes - nomeadamente através dos cortejos de oferendas, magnífica iniciativa que o Diário de Lisboa lembrava há dias ser de quem bem soube servir a assistência, o Sr. Ministro Trigo de Negreiros -, essas dificuldades sejam atenuadas. O Norte foi agora pródigo nessas magníficas jornadas, mas a nada, a quase nada, direi melhor, pode chegar.

Urge que os subsídios de cooperação do Estado sejam aumentados, pois hospitais como os de Braga e Évora estão com dívidas de milhares de contos e sem meios para lhos fazer face. A sua administração é, no entanto, escrupulosísisima. Trabalham muito barato as Misericórdias, dizia-me há pouco um alto funcionário hospitalar. Eu acrescentoi: trabalham muito barato e muito bem.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O Hospital de S. Marcos, da Santa Casa da Misericórdia de Braga, que tem nos últimos tempos, dentro da sua precária situação financeira, procurado, não só melhorar os seus serviços, como recompensar melhor os seus servidores, teve no ano de 1962 uma despesa por doente de 36$09, o que, se for comparado com as capitações das grandes unidades hospitalares do País, é verdadeiramente incrível pela sua insignificância.

O Sr. Elísio Pimenta: -Poderá V. Ex.ª informar-mo qual é o custo diário de cada doente dos Hospitais Civis de Lisboa?

O Orador: - Julgo que deve ser muito superior a 170$ ou até mesmo a 180$.

O Sr. Elísio Pimenta: - Muito obrigado a V. Ex.ª

O Orador: - Essa capitação é produto de muita canseira, muita renúncia, muita carolice, enfim ... é a expressão da caridade de todos aqueles que devotadamente ali servem em todos os escalões. Impõe-se, pois, que. os subsídios dos hospitais regionais sejam melhorados e dada prioridade às obras indispensáveis à sua eficiente acção.

O Sr. Augusto José Machado: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faz favor.

O Sr. Augusto José Machado: - A propósito do que V. Ex.ª acaba de afirmar, a respeito do Hospital de Bragança devo dizer que as coisas se vão modificar, porquanto já existe um despacho do Sr. Ministro das Obras Públicas que permite dentro do ano de 1964 iniciar o novo hospital regional, acabando assim com aquele, que era uma miséria.

O Orador: - Folgo imensamente com isso, porque me impressionou profundamente a situação hospitalar de Bragança.

O que se passa com o hospital da Misericórdia de Guimarães é, na verdade, alarmante e elucidativo. Criou-se uma região hospitalar com sede no velho burgo afonsino, mas não se cuidou que a medida fosse acompanhada de outras que dessem à Santa Casa meios que lhe permitam desempenhar-se cabalmente da tarefa que lhe outorgaram.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E pior do que Guimarães é a situação de Bragança, onde fui há meses na minha qualidade de membro da comissão inter-hospitalar do Norte. Chocou-me que existam ali sumptuosos Palácios da Justiça e das Corporações e sejam miseráveis as instalações e meios de que no aspecto hospitalar a cidade dispõe.

O Sr. Gonçalves Rapazote: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faz favor.

O Sr. Gonçalves Rapazote. - Estou inteiramente de acordo com as considerações que V. Ex.ª fez sobre o hospital de Bragança, mas já sabemos, por aquilo que disse o Sr. Deputado Augusto José Machado, que a situação vai melhorar. Simplesmente, não estou de acordo com o que V. Ex.ª disse a respeito dos Palácios da Justiça. Isso é uma outra ordem de valores.

Como V. Ex.ª já referiu o padre António Vieira, eu posso trazer aqui Santo António a dizer que a justiça é o coração do bem comum.

O Orador: - Estou inteiramente de acordo que a justiça seja o coração do bem comum, mas este não pode ser realizado enquanto não se tomarem providências para casos como é o de existirem dois doentes na mesma cama. Acima de tudo temos um valor a respeitar: o Homem.

O Sr. Gonçalves Rapazote: - A sociedade precisa, em primeiro lugar, de uma ordem, e toda a ordem repousa na justiça.

O Orador: - Mas a mim o que me parece é que a justiça pode ser bem administrada até debaixo de um frondoso castanheiro de Trás-os-Montes, quando o juiz é bom.

O Sr. Gonçalves Rapazote: - Mas os velhos reis de Portugal reivindicavam a posse dos Paços do Concelho, por serem templos de justiça.

O Sr. Martins da Cruz: - Desejaria dizer: em meu entender, não se pode confundir justiça com Palácios da Justiça. Por esse País fora, tenho verificado que para fazer boa justiça não são necessários grandes palácios, sem que deixe de reconhecer a sua conveniência.

A justiça não a podemos identificar com os palácios em que funcionem os respectivos serviços, o que seria uma total inversão de valores.