Lançado em terreno caro, do concelho da Ribeira Grande, por sinal em momento de acentuada emergência - andava o Mundo quase todo em guerra -, o chamado Campo de Santana exigiu nivelamentos, terraplenagens e algumas construções. Tudo à -pressa, como a pressa da necessidade o exigia, mas o certo é que foi o bastante para que o chão se tornasse diferente, sem o préstimo que tinha. Ainda assim, apesar de pequeno e construído de afogadilho, o precário aeródromo de algum modo serviu os fins imediatos e restritos para que fora destinado.

Mais tarde, em virtude da evolução verificada no preço dos arrendamentos rústicos, surgiu o problema da renda justa, e, a propósito, foram então aqui produzidas algumas pertinentes observações.

Também, e quanto ao aeródromo da ilha de Santa Maria, da mesma forma, ou seja, com a mesma consciência e a mesma firmeza - com o mesmo ardor -, se tomou e sustentou a natural posição de defesa a bem dos legítimos interesses dos proprietários dos terrenos utilizados.

Tempos depois, nova questão se apresentou, aliás necessariamente derivada das circunstâncias em que fora escolhido e aproveitado o terreno de Santana: o aeródromo revelara-se obsoleto - incapaz. As suas pistas de relva fofa, tão boas para as chuvas como inaptas para as descolagens e aterragens, a não ser, e em certas condições de tempo, para aviões de hélices e de reduzida envergadura, distanciavam-se perigosamente das regras da nova técnica.

E principiou a batalha pela construção do novo aeródromo.

Mas logo algumas interrogações, e grandes, carregaram o quadro.

Seria o local próprio?

Aquele sítio apertado entre um morro de sólida imponência e a montanha desdobrada em alteroso pano de fundo seria o indicado para a construção de um aeroporto à altura das exigências presentes e futuras?

Não teria a ilha de S. Miguel incontestável direito a um aeroporto digno da sua área, da sua população, do seu movimento?

Não seria a falada e preconizou-se a escolha de outro local que permitisse, embora com a modéstia dos nossos recursos actuais, «resolver as pequenas necessidades do presente, mas também acautelar, com mais largas perspectivas, as frequentes surpresas do futuro».

E na sessão de 11 de Janeiro de 1963, ao agradecer-se ao Governo o facto de ter sido inscrita no Orçamento Geral do Estado uma verba destinada à construção do aeródromo de S. Miguel, não se deixou, apesar disso, de voltar ao assunto da conveniente localização do novo aeródromo, repetindo-se que era preciso olhar para diante, para o futuro, e para a manifesta impossibilidade de o aeródromo de Santana poder servir o futuro ... e até o presente.

Resumo, mas recordo.

À última hora - estava já tudo resolvido e assente para ser levado a efeito nos terrenos de Santana, os tais que não oferecem os requisitos indispensáveis para uma solução harmónica com as exigências de hoje e de amanhã -, uma grave e imprevista dificuldade entravou a marcha do empreendimento. As danadas forças do erro e do mal assaltaram-nos no ultramar. Foi necessário mobilizar homens e dinheiro. Na linha de hierarquia das necessidades a atender, uma surgia a que nenhum português poderia deixar de reconhecer prioridade.

Período de lanceada expectativa esse, nada próprio para destemperos de fé e de compreensão e muito menos para ironias mesquinhas ou queixumes desabusados.

Entretanto o Chefe do Estado realiza a sua visita aos Açores. Os habitantes das ilhas todas, desde Santa Maria ao Corvo, não precisam de quem lhes lembre ou active o seu dever. Estão na vanguarda, no imenso mar, inflexíveis e atentos, no alerta constante, provado há que séculos. O almirante Américo Tomás só encontra corações abertos, palmas sinceras e flores em plena dádiva. E é ele, o Chefe do Estado, que deixa entrever, nas suas palavras ditas na ilha de S. Miguel - naquela sua linguagem patriòticamente profunda -, que o novo aeródromo seria uma realidade com niciassem as obras do novo aeroporto».

Sr. Presidente: este acontecimento de que me estou ocupando não tem só relevância local, pela evidente melhoria que introduzirá no sistema de comunicações da ilha de S. Miguel com o exterior e pelas largas possibilidades oferecidas ao desenvolvimento do turismo. Prende-se com as redes do tráfego nacional e internacional. Assim, a sua importância sobe de ponto e merece ser aqui devidamente assinalada.

Mas, directamente relacionados com o Decreto-Lei n.º 45 444 existem mais alguns aspectos que cumpre salientar.

As aquisições e expropriações dos terrenos destinados à construção do novo aeroporto serão suportadas pelo Ministério das Comunicações, e não pela Junta Geral do Distrito de Ponta Delgada.

O Governo escutou os reparos feitos sobre a conveniência de se localizar o melhor possível o novo aeroporto de S. Miguel e estudou esses reparos, de modo a dar-lhes inteira satisfação.