O Orador: - Ainda há dias, de resto, no Conselho de Segurança da í). N.º U., os delegados de diversos governos afro-asiáticos foram muito claros e não deixaram margens II ilusões: o que de nós se pretende é única e exclusivamente a. rendição total, através de um acordo sem condições, que em linha recta levaria à desintegração do território português e ao próprio esfrangalhamento das províncias ultramarinas na sua configuração geográfica, no seu carácter, nas condições da sua vida e no sentido do seu progresso.

Por tudo isso. apoiamos a política do Governo e a inflexível intransigência com que tem afirmado, pela palavra e pela acção, que o ultramar português não se encontra à venda. «De assaltos não estamos livres». Mas que nós próprios consentíssemos em mutilar o corpo da Nação para que cessasse a vozearia dos areópagos internacionais, isso, além de estultícia, seria traição. Isso seria insultar a memória dos nossos soldados que generosamente têm morrido para que Portugal sobreviva na grandeza da sua dimensão universal.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Estamos em África há mais de cinco séculos. Fomos os primeiros a lá chegar e, como recompensa da Providência, pelo muito que fizemos e pelo espírito com que o fizemos, somos hoje, e havemos de continuar a ser, uma nação africana, tão africana como europeia.

Fomos para África e uma vez lá, abrimos novos espaços e novos caminhos à penetração da civilização e demos às populações a consciência da dignidade humana, ao mesmo tempo que, vivendo e misturando-nos com elas, forníamos, pelo espírito e pelas aspirações, nas leis e na vida, um agregado nacional com o carácter e sentido superior das comunidades políticas mais perfeitamente constituídas. Dir-se-ia mesmo que a diversidade de origem, cor, idioma e religião não só não obstou à criação do «mito português», para usar a forte expressão do esclarecido e heróico patriota que foi o general João de Almeida, como tem contribuído para a sua consolidação, graças à nos>

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Tive então a noção exacta da grandeza de Portugal e o sentido perfeito do seu destino. Mas também pude fazer uma ideia da magnitude das tarefas que se nos doparam em todos os campos da acção política, económica e cultural.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Eis por que entendo, Sr. Presidente, que, se é indeclinável obrigação dar ao Governo neste transe histórico o nosso apoio entusiástico e a nossa cooperação construtiva na defesa da integridade da Pátria, também não podemos deixar de o concitar a que redobre de esforços para consolidar ainda mais a unidade nacional, acelerar o progresso económico, promover a melhoria do nível cultural das populações, valorizar as instituições políticas e respeitar e prestigiar os homens que nos diferentes postos da acção cumpram o dever.

Vozes: - Muito bem!

Sem queixumes, naturalmente, como quem vive a vida, os homens marcham para climas inóspitos e terras distantes a cumprir o seu dever - dever que lhes é ditado pelo coração e pelo fio de fé e patriotismo que os ilumina.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Seja, afinal, este pensamento que nos leve a render preito da mais viva, respeitosa e grata homenagem a quantos, norteados por ideal tão sublime, se sacrificam para que Portugal se perpetue pelos tempos fora, na identidade do seu ser e na fidelidade ao seu destino.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Bento Levy: - Sr. Presidente: requeiro a generalização do debate.

O Sr. Presidente: - Deferido o pedido de generalização do debate.

O Sr. Bento Levy: - Sr. Presidente: ao subir pela primeira vez a esta tribuna, cumpro o grato dever de apresentar a V. Ex.ª os meus mais respeitosos cumprimentos.

Ao usar pela primeira vez da palavra neste período legislativo, permita-me V. Ex.ª que lhe reitere os protestos da minha muita consideração e alto apreço pelas indiscutíveis qualidades e virtudes que exornam a personalidade de V. Ex.ª; e, já que os não pude receber da sua cátedra de Coimbra, consinta que lhe agradeça os ensinamentos que ora vou colhendo nesta Casa, onde a presença de V. Ex.ª continua a ser a do mestre com quem muito há que aprender.

A V. Ex.ª e aos Srs. Deputados cabe-me agradecer a generosidade com que têm tolerado as minhas intervenções, esperando que me relevem a ousadia de hoje ocupar este lugar para intervir em assunto de tão palpitante interesse para o País.

Apesar da diferença que me distancia do brilho de tantos outros, afoito-me a encarar as circunstâncias, porque a consciência me impõe o dever de trazer uma achega a este debate, a qual, nem por ser menos valiosa, deixará, porém, de ser sincero depoimento.

É que, Sr. Presidente e Srs. Deputados, fui a Angola e acompanhei a viagem presidencial àquela província. Não