por tal, já não carece de uma «carta» ou «lei» de direitos civis.

A nossa política ultramarina criou elites locais e a tal ponto que, numa reunião à margem das Nações Unidas, fez um representante africano espantar-se do grande número de licenciados de cor que o País preparara!

Mas, como tal número fosse um elemento positivo a favor da nossa política integracionista, logo o fez pressuroso aditar não ser conveniente referi-lo, já que o que interessava era obnubilar todos os aspectos positivos dessa mesma política.

Ora, todos estes factos revelam que a arquitectura sob que se ergueu a nossa comunidade é de tal sorte sólida, real, exprime a tal ponto uma vocação histórica, que fez ao Chefe do Governo afirmar que «uma sociedade multirracial não é uma construção jurídica ou regime convencional de minorias, mas, acima de tudo, uma forma de vida e um estado de alma que só podem equilibrada e pacificamente manter-se apoiados numa longa tradição».

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - «Uma forma de vida e um estado de alma» - estas as duas grandes constantes que, suportadas pela tradição, formam e informam o mundo português. Mundo onde a unidade nacional se casa perfeitamente com a descentralização administrativa que a reforma da lei orgânica, faculta; mundo que soberanamente se ajusta a uma progressiva participação do elemento humano nos diversos órgãos de administração local ou da política nacional.

E tudo isto, pois, que constitui a unidade da Nação.

Depois de estudar o .plano das nossas relações com os países africanos e a O. N. U., referiu os «extremos de paixão e extravio da razão humana» utilizados na discussão dos nossos opositores, quando pretendem contestar a validez da nossa posição, como apontou o carácter revolucionário de alguns movimentos africanos, cujos fins estão longe de sei- conformes aos interesses das populações que visam.

E, num juízo sereno, lúcido e profundo, acaba por demonstrar todo o equívoco da definição dos conceitos de descolonização, independência e autodeterminação tal como eles são entendidos pelos afro-asiáticos e nas diversas salas das Nações Unidas, assim como o significado autêntico de certos subsídios e ajudas internacionais, convertidos posteriormente em ignóbil forma de exploração dos países auxiliados.

E, em confronto com todo este amálgama de ódios, confusões e torpeza, numa voz que tem por si toda a força e majestade de uma pátria que não foi realizada a compasso ou por força de imposições estranhas, mas pelo querer do seu povo, oferece o .Sr. Doutor Oliveira S ai azai1 «a mais estreita e amigável colaboração», «a maior correcção» e promete, numa afirmação de patriotismo sem par, a defesa dos nossos, territórios «até ao limite dos nossos elementos humanos e dos nossos recursos»!

Em face da política onusiana, anota as suas constantes contradições, as contínuas violações das disposições da Carta, imoladas ao sabor ondulante de um a maioria ocasional, ao mesmo tempo que destaca as linhas de evolução do domínio político ou económico que a Rússia e os Estados Unidos desenvolvem na sua estratégia frente ao continente africano.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É o que expressivamente enuncia quando postula:

Assim a África está sendo o campo em que se digladiam dois mundos: nós constituímos apenas ocasião e pretexto.

Salientando que o tema das nossas preocupações sobre o ultramar já vem de longe, remata o Sr. Presidente do Conselho a sua luminosa exposição sobre os problemas que ora se nos deparam e em que está «em causa a existência da Nação».

Não poderia este órgão de soberania - a expressão mais viva da representação popular - deixar de se pronunciar sobre a política ultramarina do Governo.

E a nossa pronúncia, não pode traduzir-se senão num bem-haja ao Governo por tão bem ter servido e defendido os superiores interesses do País.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E o nosso aplauso não pode ser outro senão o afervorado e solene ajoelhar - alma em prece -, numa homenagem de gratidão a Deus, por nos ser concedida a suprema glória de ver as nossas forças armadas, a nossa soberana juventude, marcharem «naturalmente, como quem vive a vida» e merecerem, pelo seu exemplo, pela sua acção, o nome imortal de «benditos» da Pátria!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A gesta dos que, por seus feitos e virtudes, escreveram as imorredouras estrofes dos Lusíadas continua-se em África, num novo e majestoso canto, salpicado de páginas imperecíveis da mais autêntica epopeia, cinzelada a rútilo sangue, a indómita fé a inconcusso heroísmo, no livro marmóreo do tempo!

O Portugal de hoje já não é «nevoeiro», atestam-no os feitos dos nossos heróis; o Portugal de agora, inabalável, unido nas suas dores como na sua glória, esse «outrora senhor do mar», de quem o Poeta receava estivesse «dormindo», ergue-se de pé, todo inteiro, vigilante, espírito e corpo em armas, escrevendo em pleno século XX novas e gloriosas epopeias, para que não se perca, com a fazenda, a honra nacional! E é esse Portugal, hoje unido e coeso como nunca, que importa saudar na plenitude da sua nobreza, na certeza de sua integridade!

Não nos cansamos de repetir: se ruísse o maravilhoso mundo que os portugueses criaram, a história ficava vazia, o corpo do País despedaçado e a alma da Nação - essa amortalhava-se!

Dizia Vieira que «dos futuros condicionais e contingentes ninguém é sabedor senão Deus e os profetas».

Das declarações públicas que vem fazendo o Sr. Presidente do Conselho acerca dos nossos problemas ultramarinos fica-nos a certeza de ser ele o melhor augure das linhas vectoriais com que se escreve o futuro da Pátria.

O Sr. António Santos da Cunha: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faz obséquio.