O Orador: - É esta a mensagem lacónica, mas tremenda, que Timor tem a dirigir à Nação e ao Mundo quando se lhe pergunta o que pensa sobre a atitude tomada pelo Governo perante a onda de perseguições de que Portugal vem sendo alvo só pelo «crime» de ser nação na África e na Ásia.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Perante uma tal pergunta, a resposta de Timor reside, afinal, na lição da sua história destes últimos vinte anos. O povo timorense espera e confia que o Governo da Nação continue a ser digno dele.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: se me estivesse dirigindo apenas ao País, não acrescentaria uma palavra a tudo quanto já deixei dito. De resto, as impressionantes manifestações populares realizadas por Portugal inteiro, a mensagem dirigida pelas forças armadas, na pessoa do chefe do Estado-Maior do Exército, ao Presidente do Conselho, a triunfal recepção dispensada pelas populações de S. Tomé e Angola ao Chefe do Estado, tornariam supérfluas ou simplesmente pretensiosas as palavras que aqui se pronunciassem.

Mas o mundo que nos ataca, e que fechou os olhos e os ouvidos às manifestações do Terreiro do Paço e às aclamações de S. Tomé e Angola, tem de acabar por ver e ouvir. Não esperamos certamente convencer os homens e os países que tomaram posição contra nós no seguimento lógico da política do mais odioso colonialismo até hoje concebido, porque o imperialismo comunista só conhece um diálogo - o da força. Mas muitos dos Estados que alinharam no número dos actuais inimigos da presença portuguesa na África e na Ásia mudarão de atitude, espero, a partir do momento em que se convencerem de que a posição assumida pelo Governo na intransigente defesa dos nossos soberanos direitos corresponde fielmente à vontade desta grande nação euro-afro-asiática.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A questão, porém, é que a grande maioria dos nossos adversários está sinceramente convencida do contrário, por razões que me parecem ser de duas naturezas. A primeira ordem de razões filia-se na própria mentalidade de boa parte dos povos estrangeiros, que não podem facilmente compreender por si sós o estranho fenómeno que para eles vem a ser esta nossa sociedade, que não tem cor de pele e que, tanto na Europa como a 400 milhas da Austrália, constitui parte de uma mesma pátria.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

África e na Ásia estão à vista. O que temos é que desenvolver, pela nossa parte, uma contra-ofensiva de informação.

A atitude de incompreensão da maioria dos Europeus e Americanos em relação à nossa causa resulta, quase exclusivamente, de má informação, e rapidamente se transforma em franca simpatia quando se lhes revela a verdadeira alma de Portugal. Sei que isto assim é pelos contactos que tenho tido com numerosos estrangeiros, sobretudo, pelo que mais directamente interessa à província de Timor, com australianos.

E o mais significativo é que são os próprios estrangeiros esclarecidos que nos vêm lembrar a necessidade de montarmos uma máquina de informação eficiente para esclarecimento da opinião pública dos respectivos países. Haja em vista o que, perante o Ministro das Corporações e altos funcionários do Ministério dos Negócios Estrangeiros, disse o ministro do Trabalho do estado australiano de Vitória, em Maio do anu passado. É que os nossos amigos sentem a neces sidade de ver na imprensa dos seus países, e com frequência, notícias nossas que os animem na campanha que eles próprios vão desenvolvendo a favor da nossa causa, no círculo das suas relações e, por vezes mesmo, publicamente, como é o caso daquele ilustre ministro australiano.

Ora isto leva-me a exprimir uma dúvida, de resto a única que se pode levantar em relação à política de defesa seguida pelo Governo: estará realmente o País a empenhar, nesta situação de guerra que estamos vivendo, todo o peso dos seus recursos?

Já vimos que em matéria de informação internacional não parece ser esse o caso. É mesmo altura de duvidarmos se os nossos meios de informação teriam explorado convenientemente a atmosfera favorável criada pela brilhante actuação do Ministro dos Negócios Estrangeiros, a quem presto sinceras homenagens, nas suas intervenções junto da O. N. U.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E quanto ao esforço de guerra? Xá mensagem que, em nome das forças armadas, o ilustre chefe do Estado-Maior do Exército dirigiu, em Agosto do ano passado, a S. Ex.ª o Presidente do Conselho, dizia-se:

As forças armadas necessitam, para isso, que o País, que sempre reage tanto e em uníssono com elas, forneça, em homens e material, os meios indispensáveis para a luta até à vitória completa, os navios, os aviões, os equipamentos, as armas de toda a ordem que hão-de assegurar que a bandeira portuguesa tremule nos ares.

Ora, reflectindo sobre estas palavras, vêm-me ao espírito algumas perguntas para as quais não encontro resposta satisfatória.

Terá a nossa Armada um número de unidades que lhe permita proteger as extensas linhas de comunicações que ligam entre si as diferentes parcelas do território nacional e que, no caso de o conflito se agravar, lhe permita garantir a defesa do litoral das províncias ameaçadas?

Teremos uma força aérea à altura de corresponder às necessidades da defesa do espaço português?

Disporão as forças terrestres de armamento e equipamento modernos e eficientes?

Como se compreende a redução drástica, operada pelo Ministério das Finanças, nas dotações destinadas à defesa nacional para o ano de 1963?