duas frentes de batalha que são objecto especial deste aviso prévio.

Como anotei de começo, para além da frente militar e da frente diplomática, em que é de rigorosa justiça salientar a notabilíssima actuação desenvolvida pelo ilustre Ministro dos Negócios Estrangeiros, ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - ... há outras frentes. De entre elas apontarei, por serem suportes essenciais daquelas duas, a frente financeira, a frente económica e a frente psicológica.

A primeira destas frentes, cujo alto comando todos sabemos estar confiado em mãos excepcionalmente competentes, exige especial atenção vigilante ao equilíbrio das finanças públicas e à estabilidade monetária. Porque assim tem sido, as verbas acordadas para as necessidades da defesa militar sempre foram satisfeitas sem caso algum de excepção. Porque assim continuará a ser, o inimigo, que espreitava gulosamente a hora do cansaço deste nervo da guerra que é o dinheiro, começa a recear que não cheguem a adensar-se sobre nós as sombras da miséria do erário público. E preciso que seja ele a cansar-se de esperar em vão!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A segunda das frentes aludidas importa que, não apenas nas províncias ultramarinas, onde é mister prosseguir no esforço do progresso económico e de promoção social, mas também na metrópole, e até a começar na metrópole, se mantenha e acelere o passo no caminho do fomento nacional. Depende disso todo o indispensável progresso e aumento de nível de vida do País. Depende disso, em grande parte, a nossa própria sobrevivência de Nação - ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... carecida de não deixar estancar e de, ao invés, fazer crescer os caudais da nossa riqueza em grau susceptível de, pelo menos, acompanhar o desenvolvimento das mesmas necessidades da defesa militar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Se o quisermos - e queremo-lo, de verdade -, também aqui há-de a cobiça do inimigo espreitar-nos em vão!

Finalmente, a capacidade da nossa consistência social será a medida da resistência na frente psicológica. Os pontífices do mundo político que nos é adverso contam, sabemo-lo bem, que, ao lado do desgaste financeiro e da fadiga económica, a própria duração da frente militar, a sua propaganda subversiva, surda ou sonora, e as suas vesgas infiltrações nos quebrem os nervos da resistência psicológica. Aguardemos, de preferência, que os leaders mais responsáveis da política ocidental abram atempadamente os olhos para ver e os ouvidos para ouvir e, como desejei há pouco, entretanto todos se cansem de nos querer cansar!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Toco aqui, Sr. Presidente, o final das minhas modestas e mal ataviadas considerações.

Há quem suponha que a tensão da vida internacional (não somos apenas nós que estamos a braços com sérias dificuldades) pode, na hora mais crítica, resolver-se através de um débil fio - o fio que se inventou para ligar a Casa Branca ao Kremlin, a alvura de Washington à negritude de Moscovo.

Não é ser «profeta das trevas e dos abismos» confiar muito pouco da fragilidade desse fio.

A história, que é a grande mestra da vida, ensina que têm de ser mais fortes as fibras e mais firmes os fios de que se tecem as teias consistentes da verdadeira paz.

Se os Estados Unidos, leader-ship do mundo ocidental, mas que não têm ainda história, embora compreensívelmente anseiem por tê-la, souberem nesta época, denominada, de aceleração histórica, adquirir com desejável celeridade a necessária experiência, que em outras nações vem de séculos (e, assim, decididamente tomarem como dur as lições o erro de Teerão e de Yalta, o erro do Suez e do Norte de África, o erro da China e de todo o Sudeste asiático, o erro de todos os Katangas e de todos os Gongos, o erro de Cuba, a pouco mais de 100 km da Florida, numa palavra, o erro dos seus graves erros na condução superior da política ocidental), terão escutado e seguido, com seguras perspectivas de paz e progresso da comunidade atlântica, a voz da sua própria história.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Decerto, nesse momento, virá também a Grã-Bretanha a reconhecer o pecado público de ela própria se conduzir, por vezes, como se a história tivesse para sempre ficado nos escritos dos papéis - sem necessidade de a continuar a fazer, mesmo quando era feita em seu exclusivo proveito.

Até lá, como disse uma voz, que parece ressoar ainda do além-túmulo, il faut tenir. A isto se chama, desculpe-se-me recorrer ainda ao francês, sagesse.

Um alto espírito afirmou em livro recente, referindo-se ao nosso Presidente do Conselho, com quem tivera o privilégio de falar demoradamente sobre as inquietações do nosso tempo, que la sayesse avait une pátrio.

Saibamos todos nós ser dignos do sage.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Soares da Fonseca para apresentar uma moção.

O Sr. Soares da Fonseca: - Sr. Presidente: na ordem das considerações que acabo de fazer na tribuna, peço licença para enviar para a Mesa uma moção assinada por mim e pelos Srs. Deputados Veiga de Macedo, Joaquim de Jesus Santos, Carlos Alves e Alexandre Lobato.

O Sr. Presidente: - Faz o obséquio de mandar para a Mesa.

Pausa.

O Sr. Presidente: - Vai ser lida a moção. Foi lida. Ê a seguinte:

Moção

A Assembleia Nacional, cônscia de legitimamente representar a vontade do povo português e inteiramente