amo. É esta hierarquia que desejo ver restabelecida e esta a conclusão que quero tirar imediatamente nesta questão prévia.

Vozes: -Muito bem!

dades, têm de formar uma equipa coesa, confiante e cheia de fé, há que joeirar com muito cuidado e trabalhar afanosamente no terreno das agremiações desportivas com vista à mais ampla integração do conjunto finalmente seleccionado no seio educacional.

Salta aos olhos que o desporto mercantil, profissionalizado, não deve continuar integrado neste departamento do Ministério da Educação Nacional.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Não tenho a honra de conhecer o ilustre director-geral dos Desportos e tenho até muita pena de não ter podido assistir à cerimónia da sua tomada de posse, porque, sinceramente, gostei do seu discurso, não obstante nele continuar a notar o eclipse do essencial. E, a propósito de desporto profissionalizado a que estava a referir-me, vou, com a devida vénia, reproduzir algumas das suas judiciosas afirmações:

Não contesto que as equipas de profissionais nos têm brindado com excelentes exibições. Não contesto que muitos dos triunfos internacionais que ultimamente nos alegraram são fruto desse esforço. Não contesto sequer que certos elementos profissionais atingiram uma perfeição técnica, uma correcção de estilos e até de atitudes morais que, por essas razões, se podem apontar como exemplos individuais aos jovens desportistas. O que contesto - e isso faço-o com força- é que esteja aí a essência do desporto.

Na verdade, Sr. Presidente, o desporto degenerado em espectáculo, espectacularmente remunerado, tem de ser considerado tal qual é e, consequentemente, colocado na dependência de comando adequado.

Mas o desporto puro que espontaneamente se pratica, jovialmente, sem outro interesse que não seja o de colher os benefícios físicos, psíquicos e morais que pode proporcionar, toma automaticamente todo o carácter educativo e integra-se na disciplina da saúde escolar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É desolador, por exemplo, observar um jovem que na sua escola ou mesmo na sua modesta agremiação desportiva se entrega alegremente, descontraldamente, salutarmente, à prática do desporto, ser aliciado e assediado por engajadores para, simultaneamente com as suas práticas gimno-desportivas na escola, entrar nas competições desenfreadas a caminho de um profissionalismo, às vezes subitamente rutilante como o Sol, mas sempre tão efémero como as rosas de Malherbe. Depois é, em muitos casos, a queda vertical, dolorosamente nefasta, de um corpo morto no seio da sociedade.

É delicada a tarefa de uma integração perfeita na saúde escolar de todos os elementos úteis colhidos no âmbito desportivo.

As dificuldades vão surgir, umas após outras. Não obstante, o programa parece exequível, sobretudo se for facilitado com o tão desejado aumento do escalão estabelecido para o ensino obrigatório e gratuito e se uma intensa e bem dirigida propaganda procurar modificar a mentalidade nacional, particularmente a juvenil, no sentido de um maior reconhecimento das virtudes da educação física como excepcional meio profiláctico e terapêutico, psicossomático e moral e a que têm de se submeter o desporto, a ginástica, o campismo, etc.

Assim seja exequível toda a restante problemática da saúde escolar.

Sr. Presidente: na história da saúde escolar em Portugal, três nomes, entre outros de muito valor, devo sublinhar: o do pioneiro Prof. Costa Sacadura, médico escolar logo na alvorada deste século; o do Prof. Vítor Fontes e o do Prof. Serras e Silva, que, como primeiro director-geral da Saúde Escolar, realizou uma obra notável.

O valor do seu trabalho está, em parte, bem patente no Decreto n.º 23752, de 28 de Junho de 1933; nas normas enviadas em Outubro de 1934 aos médicos escolares e no relatório das actividades da Direcção-Geral da Saúde Escolar em 1934-1935. Se por estes textos podemos algo avaliar do genial espírito criador do mestre, relanceando os olhos sobre tudo quanto está realizado em saúde escolar, que é -pode dizer-se- essencialmente trabalho seu, não obstante só lá ter permanecido de 1 de Agosto de 1933 a 15 de Janeiro de 1938, fica-se também com a noção da sua excepcional capacidade de realizador.

Infelizmente, o insigne médico higienista e famoso educador só teve tempo para fazer uma experiência, que realizou, com êxito, no campo do ensino liceal. Dessa experiência sairia, com certeza, a necessária promoção da saúde escolar em todos os escalões ,do ensino e de harmonia com o que lhe permitisse o nosso condicionalismo económico.

O Prof. Serras e Silva escolheu o ensino liceal para campo da sua experiência provavelmente depois de muito reflectir sobre as contingências e vicissitudes de um período de desenvolvimento que começa com a pré-puberdade, passa pela puberdade e se estende à agitada adolescência, ou seja o período em que se registam os primeiros sinais de personalidade em organização. E meditou, certamente, tanto nestas particularidades intrínsecas, como no factor extrínseco relevante de ser nesta idade liceal que o estudante está mais sujeito à influência, benéfica ou maléfica, do meio social.

A sociedade entrega a criança à escola exigindo que lha restitua como profissional probo e capaz, mas, paradoxalmente, a escola tem de começar por defender a criança da acção da própria sociedade, porque esta, infelizmente, pode ter larga responsabilidade no delírio da sua imaginação e na perversão da sua vontade.

Vozes: -Muito bem, muito bem !