O Sr. Costa Guimarães: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Costa Guimarães: - Estou convencido de que não haveria muita necessidade de recrutamento de corpo docente no estrangeiro, porque temos no País técnicos abalizados diplomados em Engenharia, que, especializados no sector ao nível dos professores desses institutos estrangeiros, poderiam ministrar os ensinamentos que se imporiam para formarmos os técnicos indispensáveis para bem dirigir as nossas empresas.

O Orador: - V. Ex.ª tem toda a razão e eu pus essa reserva quando disse «mesmo que se tornasse preciso o seu recrutamento no estrangeiro».

Não tenho conhecimento da existência de qualquer cadeira ou curso sobre tecnologia têxtil nas Universidades portuguesas. No ensino secundário técnico há instrução têxtil nos cursos auxiliar de tecelagem, de debuxador e de fiandeiro. Mas tal ensino, que é rudimentar, se bem que com utilidade para a formação de operários especializados, não tira lugar àquele cuja criação sugeri.

Afigura-se-me de grande alcance a dotação ao ensino de um instituto ou escola têxtil pelas incalculáveis vantagens que traria de enriquecimento humano e material.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Outro aspecto seria o da sua localização.

Penso que nenhuma outra capital de distrito que não seja Braga reúne tantas condições propícias à sua instalação. Imprecisos números que consegui recolher asseguram-me que mais de 30 000 pessoas trabalham, no meu círculo, na indústria têxtil.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Cabeça de uma região onde se radicou aquela indústria transformadora, a cidade de Braga, que possui tão particulares tradições académicas, saberia honrar a distinção que lhe quisessem conceder, fazendo dela a sede do ensino têxtil em Portugal.

O Sr. Pinto de Mesquita: - V. Ex.ª sugeriu a localização em Braga, mas eu pergunto: porque não há-de ser no Porto?

O Sr. António Santos da Cunha: - Dado o grande respeito que me merece o Sr. Deputado Pinto de Mesquita, que, desde sempre, me habituei a considerar como mestre da minha geração, custa-me imenso ter de lhe observar que essa escola, seja ela em Braga, seja onde for, deve ser fora dos meios universitários propriamente ditos.

Pois há que considerar que nós, neste país, não temos técnicos médios, porque os pais que mandam os filhos para Lisboa, Porto ou Coimbra preferem fazer deles diplomados com cursos superiores.

A criação de institutos deve pois ser feita onde não existam escolas superiores.

O Orador: - Concordo perfeitamente.

O Sr. Costa Guimarães: - Com a devida vénia, suponho que se estão a tirar conclusões antecipadas, porque, muito embora a indústria têxtil precise de técnicos, não serão em número tão elevado que exija a criação de institutos, mas sim a de cursos especiais integrados nos institutos já existentes em Lisboa e Porto, para não estarmos a diplomar técnicos em número tal que a indústria têxtil não possa depois absorvê-los.

O Orador: - Talvez V. Ex.ª tenha razão, em parte.

O Sr. Costa Guimarães: - Há um problema que se sobrepõe a esses todos. E o problema do corpo docente não especializado.

O Orador: - Mas V. Ex.ª disse que o corpo docente era uma coisa de fácil solução, por considerar não ser necessário o seu recrutamento além-fronteiras.

O Sr. Costa Guimarães: - Procurarei explicar, em intervenção oportuna, o modo como deverá, em minha opinião, ser orientada a solução do problema.

O Orador: - Aguardo com todo o interesse essa intervenção de V. Ex.ª

Disseminando pelo País escolas comerciais e industriais, seleccionando rigorosamente o professorado, actualizando os cursos e ensinamentos, exigindo dos alunos estudo proveitoso, brio e competência no âmbito profissional, podemos estar certos de que realizamos obra de verdadeiro interesse e projecção para o futuro.

E a grande distância que nos separa de outros países será cada vez menor a partir do momento em que a indústria portuguesa possa contar, em todos os seus ramos, com dirigentes preparados e mão-de-obra especializada, conscientes uns e outros da tarefa que lhes compete para engrandecimento da Nação.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - A nossa Comissão de Economia manifestou-me o desejo de lhe tornar possível que ouvisse hoje uma comunicação do Sr. Ministro da Economia relativa à matéria do aviso prévio do Sr. Deputado Amaral Neto. Tomei na devida consideração e acho que deve prestar-se todo o interesse a este desejo da Comissão de Economia. Por isso, para lhe tornar possível ouvir essa comunicação, vou encerrar a sessão mais cedo. Como VV. Ex.ªs sabem, as comissões permanentes não podem funcionar enquanto estiver a funcionar a sessão plenária. Portanto, para poder legalmente funcionar esta Comissão, importa que deixe de funcionar a sessão plenária. Por isso, só por isso, volto a repetir, vou encerrar mais cedo a sessão.

A reunião da Comissão está prevista para as 17 horas e 30 minutos.

Vou encerrar a sessão.

O debate continuará amanhã, com a mesma ordem do dia.

Está encerrada a sessão.

Eram 17 horas e 20 minutos.

Srs. Deputados que entraram durante a sessão:

Alberto Carlos de Figueiredo Franco Falcão.

Alberto da Rocha Cardoso de Matos.

Alexandre Marques Lobato.

Antão Santos da Cunha.

António Augusto Gonçalves Rodrigues.

António de Castro e Brito Meneses Soares.

Carlos Coelho.