tados, apontar os factos lamentáveis que ocorrem e as medidas que se julgam possíveis paru evitá-los.

Em todo o distrito apenas existem duas consultas mensais de psiquiatria. Na insuficiência destas consultas (apenas, ao que me consta, são admitidos 30 doentes) é nota aflitiva a presença de numerosos doentes que esperam a possível condescendência dos médicos, que, por manifesta impossibilidade, atendem, além do número indicado, mais três a cinco doentes como número supletivo em cada consulta. Os demais, e são muitos, aguardam nova possibilidade e, entretanto, são problema próprio, dos familiares e das instituições que possivelmente os amparam.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Ainda, muitas vezos, os doentes, na esperança de uma presumível consulta médica eventual, esperam longas horas, no desamparo de uma rua, perante a curiosidade doentia do rapazio e a ansiedade cruciante dos seus familiares.

Este cruel espectáculo, Sr. Presidente e Srs. Deputados, fere a mais endurecida sensibilidade e, por si só, requer prontas e imediatas providências das entidades de quem dependa a defesa dos interesses gerais da grei. Um doente mental requer cuidados especiais. Abandoná-lo, por deficiência de meios, não é de aceitar no estado actual da nossa civilização e na nossa época.

Vozes: - Muito bem!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Esta ou estas enfermarias serviriam como primeiro escalão para os hospitais da especialidade e poderiam, e talvez até deveriam, ser servidas por pessoal médico de clínica geral, que a exemplo do também feito pelo já referido Instituto de Assistência Nacional aos Tuberculosos, teria um estágio lios hospitais da especialidade, de forma a desenvolver e estimular a vocação dos referidos clínicos gerais por uma especialidade que necessita de muitos elementos médicos ao seu serviço.

Os ensinamentos da especialidade psiquiátrica que seriam ministrados a estes clínicos permitir-lhes-iam facilmente atender às primeiras observações, organizar serviços de triagem, controlar os tratamentos prescritos pelos especialistas e fazer acompanhar os doentes, aquando das consultas dos especialistas, dos relatórios e comunicações convenientes.

Além do exposto, que já seria muito, haverá a consolação para todos, doentes e familiares, de um socorro clínico rápido, eficiente e humano.

A prática desta solução, creio-o bem, imo seria difícil, pois é certo que não faltariam clínicos dispostos a corresponder à chamada do mais este serviço.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Uma remuneração compatível no período do estágio nos hospitais especializados seria indispensável para que os concorrentes não faltassem.

Por esta forma, relativamente prática e económica, teria solução um dos mais graves problemas que afecta o meu distrito.

Porque a incidência das doenças mentais conduz os doentes à prática de actos que teremos de evitar a todo o transe, entro os quais avultam, pelas suas perniciosas consequências, a tendência para a prática do crime e para o suicídio, urge que medidas imediatas sejam tomadas para a solução de tão magno problema.

Se no distrito de Évora é das mais baixas a taxa de criminalidade - o que nos orgulha -, já o mesmo se não pode dizer, infelizmente, quanto à elevada taxa de auto-eliminação.

Sei que vão objectar, acerca da incidência das doenças mentais, com a fácil argumentação das condições económicas, do isolamento de certas profissões, pelo atavismo rácico das populações e pelo nervosismo da vida presente. Tudo isto, e ainda mais, serão argumentos a atender, mas para já, com premência, urgentemente, queira o Governo da Nação tomar as providências que acabo de referir e, assim, terá resolvido, em grande parte, o magno problema da assistência psiquiátrica no distrito de Évora.

Porque acredito na justiça dos homens, espero confiante.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Bento Levy: - Sr. Presidente: Cabo Verde desapareceu do mapa! Desapareceu, pelo menos, do mapa das relações humanas, nas condições normais da civilização e do progresso actuais.

Nada se sabe das terras, nem das gentes. Prisioneiros incomunicáveis, sem poderem partir, nem chegar, a situação tornou-se praticamente insustentável para os que mourejam no arquipélago.

A correspondência não vai. A correspondência não vem. As pessoas não se podem deslocar com a rapidez que os tempos de hoje impõem. Tudo se atrasa. Tudo retrocede, com graves prejuízos para o comércio, para a indústria, para a própria administração pública, para tudo e para todos.

Estão, com efeito, suspensas as carreiras aéreas da metrópole para Cabo Verde e vice-versa há seguramente mais de um mês, Sr. Presidente, e estamos todos, os que vivem em Cabo Verde ou para Cabo Verde, sem saber uns dos outros.

Os aviões nacionais vão a todos os territórios portugueses de África, passando sobre Cabo Verde, como se as ilhas continuassem desertas e não vivessem também ali portugueses, tão genuínos como os que o são.

Aqui há tempos, por qualquer razão que não importa para o caso, os nossos aviões não podiam ir à Guiné.