O Orador: - O curso geral, em face do que atrás se disse, ou manteria a actual estrutura, com simplificação dos programas e nova articulação do sistema de exames, fazendo-se um melhor ajustamento dos programas do 1.º ciclo com os do 2.º, particularmente no 3.º ano, para que o embate sofrido pela criança na transição do ciclo fosse menor, ou então, de preferência, optar-se-ia por novo plano de estudos.

A adopção de tal plano, mais racional e melhor estruturado, deveria ter da mesma sorte um melhor ajustamento com os programas do 3.º ciclo, que, desdobrados num excessivo alineamento, revelam não oferecer rendimento nem garantia segura de acesso aos cursos superiores.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

s-, com a devida sincronização dos planos de estudo dos liceus e das escolas técnicas, há o que propomos e que estabelece quatro anos para o curso geral, desdobrados os mesmos em dois ciclos.

Assim, a criança saída do ciclo unificado ingressaria num 2.º ciclo de dois anos, mais ajustado pelos programas ao ciclo único e à idade da criança, ainda em pré-adolescência, porquanto o desenvolvimento biopsicológico não se faz em todas na mesma idade.

Desta forma, haveria uma continuidade na transição de ciclos, sem os sobressaltos e crises que essa mesma transição ora provoca.

A este ciclo de dois anos, que num futuro não muito longínquo poderia tornar-se obrigatório - alargando-se, assim, a escolaridade coacta a um conjunto de oito classes -, seguir-se-ia um outro, que seria o 3.º, com matérias mais diferenciadas e que prepararia para determinados quadros, mais elevados que os que exigem a preparação antecedente.

Há profissões para as quais uma cultura de quatro anos de ensino técnico ou liceal basta; e outras há para as quais os actuais conhecimentos do curso geral não bastam.

A coroar este sistema haveria um 7.º ano de natureza pré-universitária, com disciplinas dirigidas à especialização que o aluno viesse a escolher.

Todavia, quer no curso geral do actual sistema, quer no de igual índole do sistema que se propõe, mais consentâneo com o carácter gradativo da evolução biopsíquica do aluno, importava fazerem-se testes suficientes para definirem a inclinação natural dos educandos.

Este sistema de orientação profissional, do maior alcance para- o País, deveria ser feito por licenciados em psicopedagogia, cujo curso urge criar nas nossas Faculdades, e que em ciada zona escolar teriam por tarefa proceder a testes de inteligência, temperamento o carácter.

Este labor haveria de ter igualmente a colaboração do médico escolar zonal, que só por uma melhor preparação poderá corresponder ao papel que o novo planeamento dele virá a exigir. Isto nos leva, pois, s\ criação de um curso de medicina escolar.

O papel de notável relevância que o psicólogo ou o psicopedagogo podem desempenhar na tarefa de estudar e. orientar todos os educandos que revelem dificuldades escolares ou de educação, assina como de adaptação social ou orientação profissional, escusa de ser encarecido.

Fala da sua proeminência a valiosa contribuição para a recuperação, aproveitamento e orientação de inúmeros elementos da sociedade portuguesa, integrando-os na sua verdadeira função, operando desta forma serviço do mais alto préstimo nacional.

Sob este aspecto era de notável valor e flagrante actualidade a criação de um ou mais laboratórios de psicologia.

A psicopedagogia tem hoje notória audiência nos países mais civilizados do Mundo. E a psicologia tem sido aplicada nos países mais industrializados, criando-se escolas de venda e de propaganda, com a adopção de métodos revolucionários de psicologia mercantil.

Temos , pois, de fornecer os nossos institutos superiores, as nossas Universidades, dos meios indispensáveis à valorização .da psicologia e pedagogia em curso próprio, integrado na Faculdade de Letras, dada a importância extraordinária que tais ciências poderão vir a desempenhar nos nossos sistemas educativos e na valorização da indústria e do comércio.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Regressando, entretanto, ao esquema que propusemos para o novo plano de estudos do 2.º e 3.º ciclos, desdobrados por quatro anos, entendemos ser ele o meio mais racional para um melhor aproveitamento dos alunos, apresentando uma gradação hierárquica nas dificuldades intelectuais, e ainda porque satisfaz, de um modo mais económico, à sucessiva promoção da obrigatoriedade escolar.

Todavia, este sistema exige uma nova orientação nas habilitações estabelecidas como indispensáveis aos diversos grupos profissionais. Mas defendem-no os modernos inquéritos realizados nos mais progressivos países da Europa, que revelam a necessidade de uma cultura geral mais ampla.

Segundo esses inquéritos, a cultura literária e científica deverá avançar de modo a retardar o máximo possível a escolha entre as letras e as ciências.

Por isso, defendemos o critério de que a cultura geral deverá ir até ao 6.º ano. inclusive, reservando-se o 7.º ano para ciclo pré-universitário. Além do mais, só os espíritos bem amadurecidos e cultos estão em condições de escolher o que mais lhes convenha no rumo do seu futuro. Num excelente trabalho denominado «Os objectivos da educação na Europa para 1970 os seus reputados autores dizem:

Não esqueçamos, enfim, que os investimentos e a produtividade não são fins em si mesmos, mas sómente meios de tornar a vida melhor e mais rica de interesse.

No fim de contas, uma educação de qualidade assegura uma vida pessoal e social de qualidade.