João XXIII não hesita em designá-lo como um dos que caracterizam a época presente:

... o ingresso da mulher na vida pública, mais acentuado talvez em povos de civilização cristã, mais tardio, mas já em escala considerável, em povos de outras tradições e cultura.

Entre muitas razões que levaram a mulher a tomar definitivamente lugar na vida pública, prevalece a necessidade premente de ajudar o chefe de família, operário, modesto empregado c em alguns casos até profissional de nível superior, a equilibrar um orçamento que dê satisfação ao mínimo de bem-estar que a família legitimamente ambiciona nos tempos de hoje.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - Por outro lado, a mesma sociedade que de princípio apenas tolerou a mão-de-obra feminina num momento de crise, hoje reclama-a, não só para satisfazer quantitativos que a produção requer, mas também para desempenhar funções que se vieram diferenciando, e nas quais é quase insubstituível o elemento feminino; poderíamos colher um sem-número de exemplos em serviços que vão desde a confecção do vestuário às artes domésticas, à assistência paramédica, à educação infantil, reabilitação de deficientes ... no domínio da indústria, do comércio, do ensino, da saúde, etc.

Se bem que seja indispensável humanizar cada vez mais as tarefas femininas quanto a horários, condições de higiene, protecção contra acidentes de trabalho, ambiente moral, etc.. é inútil reafirmar-se a impossibilidade de retrocesso desta situação. A bem ou a mal ... «saltando o muro» se aqui ou além uma mentalidade rígida tente entravar a caminhada, a pressão das circunstâncias levará as nossas filhas a tomar na sociedade o lugar a que têm direito: direito à cultura, ao trabalho, ao recreio, à livre escolha do seu rumo.

Cada vez mais cônscia da própria dignidade-afirma ainda o Papa João XXIII na encíclica Pacem in Terris -, não sofre ser tratada como objecto ou instrumento, reivindica direitos e deveres consentâneos com a sua dignidade de pessoa humana, tanto na família como na vida social.

O Sr. Virgílio Cruz: - Muito bem!

A Oradora: - Uma de duas atitudes nos resta: ou utilizamos egoistamente os frutos do trabalho feminino com alma de calculista apenas interessada na rentabilidade cio processo, inconscientes da calamidade que preparamos, ou enfrentamos o problema em toda a sua dimensão humana e social. E este consiste, segundo creio, em descobrir essa nova imagem da mulher do século XX, de que o movimento feminista foi uma caricatura grosseira, e ajudar a juventude a realizá-la com nobreza, numa expressão actual da mulher pura e forte do livro da sabedoria.

Vozes: - Muito bem!

linha de pensamento.

Edward Leen, depois de pôr em relevo a missão maternal da mulher, generaliza-a àquelas que não a podem exercer junto dos filhos, vincando a unidade do ser feminino.

«Em toda a mulher deve existir o instinto maternal», diz o autor, e mais adiante afirma:

A grandeza do homem é sempre de carácter conquistador: cifra-se sempre numa aquisição. A grandeza da mulher está em dar, procurando à sua volta alargamento e expansão de vida. Ao contacto com ela, as coisas tomam vida, porque ela é a fonte da vida nos desígnios da Providência.

Outros depoimentos completam estas ideias como eu não poderia nem ousaria fazê-lo:

«As reservas do ser feminino são daquelas de que a humanidade não soube aproveitar todos os recursos», diz Mounier, e o seu pensamento é completado por René Caillot, citados um e outro nos relatos da Semana Social de França a que já me referi:

Será preciso desmistificar a própria palavra trabalho, a obsessão económica é tal que os homens acabaram por acreditar que só há um trabalho: o produtivo; ora, quanto a «tarefas civilizadoras», as mulheres levam-nas mais longe do que as «tarefas produtivas». Trabalhar, para elas, não deve ser produzir, mas enfanter l´humain no lar, na cidade, na civilização.

Perdoai que não saiba traduzir ... E o relator continua:

Poderá talvez tomar-se consciência do imenso capital de experiência, de savoir faire, de realismo, de vida, de uma mulher, essencialmente utilizável em contacto com o educativo, com o social, o económico, o político. Tesouros de competência que estão por explorar na «cidade», pois as estruturas do diálogo, da reflexão, da acção, estão ainda por inventar, uma vez que no lugar da mulher, fora do seu quadro familiar, estão apenas previstas em função das profissões existentes, e não daquelas que seria preciso criar.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora:

A vida de uma mulher (...) conhece disponibilidades social e cívica que estão insuficientemente utilizadas.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - Suponho que estas palavras são explícitas bastante para compreender quanto a comunidade humana tem necessidade de uma presença feminina autêntica, que a mulher só pode e sabe realizar no nobre