É evidente que quanto maior for a diferenciação morfológica do ensino, mais ele se cinge ao regime perfeito; no entanto, a diferenciação tem de condicionar-se. por sua vez, a, por vezes, oposto e complexo sistema de uma diversidade de parâmetros, de tal forma que, se se reconhecer que por agora não é possível ir mais além, só considere imprescindível a instituição imediata de dois graus universitários.

Observa-se, entretanto, que a diferenciação que melhor se ajusta ao sistema de condicionamento do País tora de ser superior, mas precisamente um dos nossos teimosos males - e muitos são os casos - é preferir permanecer recuada e calamitosamente parado até à possibilidade da solução óptima, em vez de ganhar gradualmente caminho por soluções evolutivas e transitórias.

O Congresso do Ensino de Engenharia, com elevado espírito objectivo e renovador, realizado um Lisboa em Novembro de 1Ü62, incluiu já entre as suas várias e oportuníssimas conclusões a necessidade urgente d a instituição de graus académicos naquele ensino.

Concluiu igualmente o Congresso do Ensino de Engenharia que o primeiro destes graus de ensino não seja superior a cinco anos.

É evidente que a redução em tempo tem de ser feita sem prejuízo de que o diploma continue a assumir garantia de sólida preparação científica - pilar fundamental da formação do diplomado universitário - no domínio das ciências de base (matemática, física, química, etc.), das ciências aplicadas e, por fim, das ciências de aplicação (propriamente a especialidade.).

É, no entanto, com certeza, possível a redução do volume deste ensino, por sentido objectivo mais intenso a que a programação deve obedecer, reorganizando-a profundamente na Universidade e já no ensino secundário, definindo com precisão e mesmo pormenor o âmbito da programação, condutora de maior concentração do próprio ensino, sem a deixar tão livremente ao critério e à preferência individual do professor, critério e pref erência que resultam em repetições inúteis e desperdiçadoras de tempo ao longo dos cursos, e, por vezes, em excessos de professores, brilhantes cientistas, mas de deficiente sentido pedagógico objectivo.

Quanto a nós, não prescindimos de insistir na elevada expressão numérica do potencial económico que a redução do tempo de duração dos cursos significa para todos os aplicantes e para o País, e, por imperativo desse forte conceito, de afirmar que toda a ponderação deve ser exercida na investigação da possibilidade de que, ao adoptar-se a instituição dos dois graus no ensino técnico superior, seja reduzido - evidentemente sem prejuízo da formação - o 1.º grau a quatro anos, com a obtenção, «assim, do diploma ao fim de quinze anos de estudo.

A este respeito permitimo-nos a seguinte observação natural:

O conceito do valor do aproveitamento do tempo não se limita ao indivíduo.; generaliza-se, ao âmbito das actividades, e assim, é espontâneo o reparo de que gastar u é do conhecimento geral, muitas das Faculdades não começam efectivamente as suas aulas - embora já estejam abertas oficialmente - antes do fim de Outubro, princípios de Novembro, e casos há em que só na parte final deste mês. Mas é pior ainda, porque a totalidade do início não é instantânea. A integração vai-se fazendo gradualmente e a prazo longo, professores havendo que só muito mais tarde iniciam as suas aulas.

E de toda a importância, com certeza, que esta flexibilidade seja exclusivamente consentida em casos de plena justificação, e é, sem dúvida, de fundamental alcance e de pura ética educacional que o ano escolar se inicie, com plena realidade e totalidade, no dia oficialmente fixado.

Parece assim evidente que da profunda ponderação destes vários aspectos poderá resultar um adicional de tempo considerável no actual período de escolaridade efectiva e, a título de apreciação da importância que tal adição pode significar, se refere que se no conjunto dos dezasset e anos de vida escolar for possível considerar o aumento médio efectivo de três semanas em cada ano, o aumento, só de per si, resultará numa valiosíssima redução de um ano na duração global do curso.

O Sr. Gonçalves Rodrigues: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faz o obséquio.

O Sr. Gonçalves Rodrigues: - Creio que V. Ex.ª não está a focar exactamente o problema. Tem razão nas suas alegações, ao desejar que o ano lectivo se inicie no. dia em que o regulamento o determina o termine no fim do ano lectivo. Mas isso implica um aumento de quadros, porque a relação, pelo menos na minha Faculdade, entre o número de professores e alunos é de 1 para 90. Na Inglaterra e na Rússia é de 1 para 9. Isso implica que os exames tomam o tempo do professor durante semanas e meses.

O problema fundamental é focar, a necessidade de uma actualização de quadros.

O Orador: - Agradeço a V. Ex.ª a intervenção e compreendo a necessidade da actualização dos quadros. Referia-me à fixação do tempo dentro de um aspecto, que é precisamente o de o período de exames ser reduzido por uma inteira reestruturação.

O Sr. Gonçalves Rodrigues: - Há muitos exames porque os alunos e os pais dos alunos reclamam segundas e terceiras épocas. Ou vamos para aquilo que alguns consideram direito natural do aluno ou para aquilo que outros tomarão por violência da autoridade constituída. Temos de escolher entre as duas partes deste dilema.

O Orador: - Limito-me a apontar aspectos que saltam à observação. A mim acontece-me muitas vezes, no exercício da minha profissão, feita com o melhor cuidado, vir um estranho e fazer-me um reparo justo, tendo eu de reconhecer que tem razão. Muitas vezes com o hábito da profissão podem-nos passar aspectos relacionados com a possibilidade de melhoria.