O Sr. Gonçalves Rodrigues: - Na Universidade temos plena consciência dos problemas. Simplesmente os nossos queixumes...

O Orador: - Agradeço mais uma vez a intervenção de V. Ex.ª

É definição perfeitamente sabida que a finalidade positiva e basilar da educação é a valorização, no mais alto grau, dos recursos da faculdade humana.

Dessa forma, como imediato corolário, tem de considerar-se de fundamental importância a intervenção de uma acção selectiva intensa ao longo do ensino, de forma a explorar o campo da aptidão do indivíduo e a integrá-lo no sentido perfeito das suas preferências e inclinações.

Só assim se proporciona o melhor rendimento individual, só assim se evita o profissional falhado e infeliz na vida que adoptou, e o ensino por sua vez cresce em eficiência, porque o aluno aprende mais quando lhe ensinam o que melhor se ajusta à preferência das suas faculdades receptivas.

A primeira entrada em acção do ciclo de observação psicotécnica, já o referimos, deverá ser na iniciação técnico-profissional da educação elementar, embora prova mais elementar e simples orien tadora de profissões de características manuais.

Terá de incidir de novo no fim do 5.º ano liceal, quando o aluno tem de enfrentar a decisão de uma série de alíneas discriminativas de grupos de cursos, decisão que - até por indecisão natural do estado evolutivo da sua formação juvenil - acaba muitas vezes por ser tomada por reacções puramente momentâneas, casuais e extemporâneas, ou por obediência à preferência dos pais, bem intencionada sempre, mas inapta tantas vezes.

São muitas as decisões erradas que assim se tomam: umas emendam-se mais tarde, mas depois de terem ocasionado prejuízos aos próprios, aos pais e à educação nacional; outras constituem soluções falhadas para toda a vida. E, por fim, a acção orientadora da prova psicotécnica deverá exercer-se já no ensino técnico superior, na altura em que o aluno vai assumir a grave decisão de optar pela especialidade determinativa da sua futura profissão numa acção orientadora, profunda não só da aptidão técnica específica, mas investigadora até da capacidade de interesse pela profissão e de adaptação ao meio em que habitualmente se desenvolve a sua actividade, sistema condicional de alto valor para que se seja profissional eficiente e dedicado e para que se viva vida feliz no exercício da profissão.

O Sr. Gonçalves Rodrigues: - V. Ex.ª dá-me licença mais uma vez?

O Orador: - Com todo o gosto.

O Sr. Gonçalves Rodrigues: - Onde é que se vai fazer a análise psicotécnica no ensino superior?

O Orador: - Eu não sei.

O Sr. Gonçalves Rodrigues: - Eu também não.

O Orador: - Mas admito a possibilidade de se fazer, e creio que lá fora existe.

O Sr. Gonçalves Rodrigues: - Portanto, estamos reduzidos a verificar em mais um ponto a ausência de métodos contemporâneos para lançar as bases da educação nacional.

O Orador: - Eu sei muito bem que isso não se pode fazer neste momento.

O Sr. Gonçalves Rodrigues: - Mas pode começar a pensar-se nisso.

O Orador: - É isso exactamente o que nós pretendemos. Não sei muito bem como se pode fazer uma coisa que, se calhar, nem sequer está ainda definida no nosso país.

O Sr. Gonçalves Rodrigues: - Os nossos peritos psicotécnicos formam-se no estrangeiro porque não têm cá onde formar-se.

O Orador: - Há um Instituto de Orientação Profissional...

O Sr. Gonçalves Rodrigues: - Existe, mas não vive.

O Orador: - O que não está é reconhecida a necessidade e grande vantagem de ser obrigatória a observação psicotécnica.

O Sr. Gonçalves Rodrigues: - Neste momento está entregue a psicólogos de formação exclusivamente médica.

Eu estou apenas a observar o panorama.

O Sr. Sousa Meneses: - Este problema da montagem de um serviço psicotécnico para medir a capacidade de cada um, e, portanto, para lhe dar um rumo na vida, não me parece que seja muito complicado, nem me parece muito difícil situá-lo em qualquer serviço do Ministério da Educação Nacional.

No Exército, há anos, verificou-se a necessidade de organizar um serviço psicotécnico e, por simples decisão de um Ministro, arranjou-se uma dúzia de rapazes que se enviaram à Bélgica, onde havia uma escola orientadora do género.

Os rapazes estiveram lá creio que umas seis semanas, aprenderam não só certas coisas indicadas em livros, como ainda, e muito especialmente, coisas práticas. Vieram para Portugal e imediatamente se pôs a trabalhar com eles uma dúzia de outros rapazes.

E agora, no antigo edifício do Instituto de Altos Estudos Militares, em Caxias, está a funcionar um curso de psicotecnia, que não digo que seja de grande categoria, mas que satisfaz perfeitamente os fins para que foi criado.

E constituíram-se ali brigadas móveis, as quais têm percorrido o País, e, muito embora sem grandes concepções, as coisas lá vão funcionando.

Repito: a questão é simples, a questão é haver um ou dois homens que se decidam a estudar e a resolver o assunto com vontade de o resolver. O que se está fazendo no Ministério do Exército é bastante útil e não deve custar muito dinheiro.

O Orador: - Agradeço muito a V. Ex.ª a sua interrupção e estou inteiramente de acordo com as palavras de V. Ex.ª, e o que se faz já no Ministério do Exército poderia talvez fazer-se também no Ministério da Educação Nacional.

O Sr. Gonçalves Rodrigues: - Não tenho a veleidade de falar em nome do Ministério da Educação Nacional, mas decerto que ali se inveja a mesma liberdade de movimentos de que felizmente goza o Ministério do Exército.