O Orador: - Esta situação também não pode sei desconsiderada.

As câmaras municipais que interferem na vida dessas zonas mais desfavorecidas devem interessar-se pela vida dos clubes e agremiações dos respectivos concelhos, incentivando-os na medida do possível.

Ao mesmo tempo devem também as mesmas autarquias criar nas suas zonas de influência centros de iniciação e de irradiação desportivas para o necessário fomento da educação física e do desporto.

Para tanto, deverá ser assegurada a essas câmaras uma ampla assistência técnica e financeira pelos Ministérios do Interior, da Educação Nacional e das Obras Públicas, para que tais centros se tornem verdadeiramente eficientes.

Deverão ainda as mesmas autarquias poder contar com a colaboração das associações distritais e das federações com vista ao planeamento da prática desportiva nesses centros, que deveriam possuir um campo de jogos apto ò, prática das modalidades mais desejadas, uma pista de atletismo e ginásio, como condições mínimas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Por esta fornia se poderá solucionar em grande parte a falta de campos que se nota nas cidades, vilas e aldeias mais importantes do nosso mundo rural.

Mas, se os campos de jogos com as convenientes instalações se mostram imprescindíveis à difusão do desporto, a sua prática racional exige que os desportistas possam contar com uma eficiente cobertura da medicina especializada.

Há que criar os centros de medicina desportiva que se mostrem necessários a essa cobertura e não pode deixar de ter-se em atenção que um deles se deve fixar em Coimbra, onde, pelas suas condições especiais, o desporto deve ser cuidadosamente fomentado.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Enfim, perante o Ministério da Educação Nacional, onde afanosamente se estudam e se equacionam os grandes problemas do desporto e da educação física, desvendam-se os estreitos horizontes do presente e as grandes possibilidades do futuro.

Mais de três décadas vão passadas sem que se tenha compreendido inteiramente que o desporto, pela sua ética cheia de nobreza, pode prestar os mais assinalados serviços na valorização da grei.

Negou-se-lhe incompreensivelmente o fomento que lhe era devido, talvez por se supor que os investimentos que nele se fizessem careciam de apropriada rentabilidade ...

A lição da vida já demonstrou o engano de tal política!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Impressiona, na verdade, que em 10 milhões de portugueses metropolitanos não tenhamos mais de 120 000 praticantes de todas as modalidades desportivas, estáticas e dinâmicas.

Impressiona também que numa população escolar de quase l 200 000 alunos apenas cerca de 63 000 se dediquem à cultura física e ao desporto.

Impressiona que de todos os desportistas portugueses não cultivem a ginástica e o atletismo mais de 7000.

Estes são números muito baixos e tanto que afirmam irrefragavelmente a insignificância da nossa posição desportiva!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas como tais números também demonstram que no desporto federado há mais de 42 000 praticantes, logo se tem de concluir que o pouco que está feito se deve quase exclusivamente aos seus clubes, associações e federações, facto que muito importa sublinhar, por imperativo de justiçai

Na verdade, todos estes organismos têm lutado bravamente, perante a incompreensão geral e, fazendo das fraquezas as suas forças, puderam chegar aos nossos dias com uma brilhante folha de serviços.

Abrem-se hoje novas e grandiosas perspectivas de possibilidade ao desenvolvimento do desporto nacional, graças aos financiamentos que vêm sendo feitos através do crescente rendimento das Apostas Mútuas Desportivas Totobola.

Ao referir este facto de tão transcendente importância, não pode deixar-se sem a palavra de agradecimento que merece, tanto e tão justamente, o Sr. Deputado José Guilherme de Melo e Castro, a cuja abnegada dedicação e inteligência se fica a dever a criação desta valiosa fonte de recursos.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Prestou o Sr. Deputado Melo e Castro, ao tempo ilustre e benemérito provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, um relevante e assinalado serviço ao País e às grandes causas do desporto nacional, cujos praticantes lhe tributam destacado agradecimento.

Isto se anota com flagrante sentido de justiça.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não deve, porém, esquecer-se que o crescente êxito desta grande iniciativa reside no aliciamento das competições oficiais do futebol federado, únicas que, pela sua regularidade e natureza, interessam verdadeiramente ao País.

Desta sorte, muito mal se compreende que o desporto corporativo, que nunca sofreu as vicissitudes de uma vida difícil, amparado, como está, por uma organização onde os recursos não minguam, venha receber 20 por cento dos receitas que as apostas mútuas produzem ...

Essa parte devia pertencer, precípua, à hierarquia do futebol federado, que, com ela, poderia fomentar mais e muito melhor o progressivo desenvolvimento dos clubes seus filiados.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - De resto, enquanto este movimentou cerca de 13 500 atletas, no desporto corporativo não praticam o futebol mais de 2400 filiados na F. N. A. T.

A diferença é substancial.

Ora o futebol federado tem ainda muitos e muitos grandes problemas a resolver para que os seus clubes possuam um mínimo de condições de vida que as organizações do desporto corporativo já ultrapassaram há muito ....

No entanto, no rendimento do totobola em 1961, que

foi o primeiro ano da sua edição, e que se elevou a 20 018 contos, o futebol federado recebeu dos 25 por cento que lhe cabem 2502 contos, ao passo que para o desporto corpora-