poderiam constituir a base de recrutamento para os primeiros graus do ensino.

O Sr. Alberto de Meireles: - Muito bem!

O Orador: - O congestionamento é tal que em breve regressaremos à situação em que nos encontrávamos antes da construção dos grandiosos edifícios das cidades universitárias. Mas não consta que se esteja considerando a possibilidade de criação da novos estabelecimentos de ensino superior em centros culturais importantes do País, como Braga e Évora; e mesmo nas já existentes, só Coimbra possui o órgão central em que se realiza a unidade e universalidade do saber - a biblioteca universitária.

No ultramar criaram-se os Estudos Gerais Universitários. Evidente como era a necessidade de satisfazer exigências inadiáveis de cultura e promoção social, não posso calar a suspeita de que se tenha cometido um erro grave, obedecendo a uma filosofia de educação inaceitável no seu tecnicismo exagerado, que ignora a controvérsia universal que se desenvolve à volta da antinomia das «duas culturas» e do problema da absorção da ciência e da tecnologia numa concepção moderna de humanismo in tegral.

No ensino do ultramar não interessa apenas a zoologia e a botânica, a medicina e a engenharia - interessa acima de tudo o homem português num ambiente português ultramarino.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

mais demorada consideração deste candente tema. Direi apenas que há oito anos dorme nas gavetas ministeriais o relatório sobre o princípio da residencialidade na Universidade portuguesa em que se emite opinião, creio que autorizada, sobre residências e colégios universitários.

Acompanha-o nessa sonolência irremediável o plano de inquérito às origens sociais e às necessidades materiais e culturais do estudante universitário português - ponto de partida indispensável à definição de uma política nesse campo que tantas preocupações já causou.

Sacrificou-se em tudo a qualidade. E sacrificou-se a um critério de poupança que algum dia terá sido necessidade imperiosa, mas que, tratando-se de coisa essencial, quanto não estará custando hoje ao País em rendimento diminuído de capital humano?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Perdas já agora irremediáveis e que, lançadas no passivo daquela contabilidade invisível que historicamente conta mais que a outra, fariam empalidecer o financeiro mais empedernido.

Sr. Presidente: perdoe-se este mal alinhavado desabafo de um homem que ao estudo e à educação tem dado o melhor da sua existência, percorreu de olhos abertos muitos países, frequentou como aluno ou professor cinco Universidades e sente que, para além dos meros dados quantitativos que as estatísticas registam, já tem, quanto à qualidade, termos de comparação suficientes para saber exactamente onde nos encontramos em matéria de educação.

E o resultado das minhas reflexões é esta melancólica jeremiada que não posso conter, seja qual for o muro a que me encoste para entoar o meu treno de lamentação.

É possível, sim, é mesmo até provável, que eu não tenha razão. Outros, mais previdentes e sábios, terão tomado, e continuarão a tomar, as melhores decisões.

Quem poderá lançar uma pedra que seja, na ignorância das situações e das necessidades, longe das responsabilidades directas da governação, julgando no desconhecimento dos mil e um factores que influem na salvação de um povo neste século de soturnos perigos e inomináveis terrores? Quereria apenas que se atendesse às realidades substanciais e, sem desdenhar de aparências ematerialidades secundárias, reclamar maior respeito pela tradição moral em que crescemos. Se para haver bons professores é preciso gastar mais, pois construa-se com menos espavento. Gabemo-nos da qualidade do ensino que não da grandiosidade dos edifícios, onde os mármores não substituem o rigor crítico, nem as colunatas a ausência de idoneidade científica.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - O dinamismo interior da escola reside no perpétuo diálogo entre professor e aluno, que às vezes atingirá vibração maior na excelência do apetrechamento e das instalações.

Nós, os que pertencemos ao pequeno escol português, temos hoje muito que aprender e também algo que ensinar. Perante as potencialidades de um povo cujas virtudes os séculos consagraram, mas cuja riqueza intelectual jaz ainda em grande parte adormecida, cumpre-nos ser hoje, humildemente, professores de muita coisa: de língua portuguesa e de energia combativa, de ciências naturais e de vigorosa fé no futuro, de matemáticas gerais e especiais e de incansável ardor construtivo, de história e de sentido convivente e universal.

Agarrados ainda às raízes ou transplantados para onde quer que o seu destino português os levou, é nossa convicção que todos eles têm direito inalienável à superior dignidade do varão culto, do cidadão esclarecido, do homem versado na ciência do bem e do mal.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Isto é que, para mim, é educar. Isto é que parece deveria merecer o carinho dos governantes, nesta hora turva em que uns se degradam nos abismos da traição, outros se erguem da vida efémera à vida inextinguível, e, afirmando o supremo amor da Pátria, erguem a sua maior oração a Deus.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: o Professor dirá.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.