cussão esmaltada pelas mais doutas e eruditas dissertações, ousa erguer a voz quem, como eu nunca queimou pestanas nos tratados de pedagogia e de psicologia e só passou nos bancos escolares como aluno medíocre, rebelde e pouco interessado.
Vozes: - Não apoiado!
O Orador: - Sendo assim, perguntar-se-á, que poderei eu trazer de novo a esta alta tribuna?
Posso, precisamente, trazer aquilo que é indispensável ao debate, ou seja, a opinião do leigo que só conhece os problemas pedagógicos pela rama, e que usufrui, por isso, a vantagem de os apreciar no seu conjunto e na sua projecção exterior.
Venho aqui dizer, precisamente, que o problema da educação nacional não é apenas um problema técnico: situa-se noutro nível e tem de ser encarado sob outros ângulos, porque é um problema nacional.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Num diálogo sobre a educação pública todas as vozes suo de atender.
Opinam os peritos, consultam-se os técnicos, escutam-se práticos, discreteiam os especialistas, mas é também indispensável que seja ouvido o principal interessado - o chefe da família, o cidadão comum.
Vozes: - Muito bem!
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Este desequilíbrio entre a cultura científica e a preparação espiritual é responsável pelas linhas de fractura moral que afectam toda a nossa sociedade, de alto a baixo, e que não podem ser ignoradas nem minimizadas por serem responsáveis por muitas das mais graves mazelas que achacam os mais diversos sectores da vida portuguesa.
E julgo não errar muito se atribuir a responsabilidade por esta subversão axiológica principalmente e quase exclusivamente às deficiências da estruturação do nosso ensino oficial.
Enquanto noutros povos o ensino procura forjar homens e caracteres, o nosso ensino almeja, sobretudo, gerar sabichões.
Efectivamente, o Estado força a criança que atinge certa idade a frequentar uma escola primária onde ,os pais não podem entrar e onde ela é confiada a estranhos que nem a conhecem nem procuram conhecê-la.
Vozes: - Muito bem!
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - A criança é, assim, separada da família - que fica sempre fora da porta do estabelecimento escolar -, para mergulhar no gélido ambiente da burocracia oficial.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Isto é, o Estado procede como se ignorasse que a educação é essencialmente obra de colaboração que não pode dividir-se em compartimentação estanque sob pena de malogro total.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Na verdade, o que temos visto até agora?
Gravíssimas crises que bem indiciam o estado patológico da nossa educação oficial e a que se procura obviar com transigências deseducativas e com panaceias e discussões de um tecnicismo muitas vezes estéril, por não poder alcançar o âmago dos males que procura debelar.
Equacionam-se cientificamente os problemas da juventude de hoje, como se acaso eles não fossem apenas os eternos problemas da juventude de sempre, tão-sòmente agravados pelo abandono, a incúria, a inépcia e a covardia dos adultos, que se consideram dispensados dos deveres inerentes à sua condição de pais, de mestres e de educadores.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Não, senhores.
O mal não está na juventude (que é hoje o que foi sempre); ou não está apenas na juventude. O mal está principalmente em nós.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - O mal é dos pais que se demitem da sua dignidade; o mal é dos educadores que burocratizam as suas funções até ao desinteresse total; o mal é, finalmente, do Estado, que, usando e abusando de um tecnicismo absorvente e nefasto, julga que pode comprimir a alma sob a técnica e reduzir as reacções humanas a simples fórmulas de gabinete ou de laboratório.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Há que arrepiar caminho porque já não é cedo e amanhã pode ser tarde.
Simplesmente, desde que, como vimos, os mais graves problemas não são só fruto de deficiências pedagógicas - não podem eles ser resolvidos apenas por técnicos de pedagogia.
Sem dúvida que no nosso ensino há inúmeras deficiências estritamente pedagógicas, mas não são elas que nos preocupam aqui.