Como é que um educador pode educar num meio que não vive, nem conhece, nem sente?

O Sr. Augusto Simões: - Tenho estado a acompanhar V. Ex.ª e vejo que V. Ex.ª tem inteira e absoluta razão. Realmente, há muitos aspectos que não podem ser esquecidos quando se encara o ensino nos meios rurais. Ali, ele tem sido entregue às regentes escolares, e se já vai havendo um critério de selecção bastante apreciável, o certo é que durante muito tempo foi um escaparate para onde todas as actividades se dirigiam. Por isso, e porque esses agentes de ensino foram e são tratados como uma espécie de párias, de tolerados, que não têm férias pagas nem as necessárias garantias de sobrevivência, não têm qualquer espécie de estímulo que os leve a desempenhar a sua missão como um verdadeiro sacerdócio. E agora pergunto: tratando-se, como se trata, no ensino, da necessidade de estabelecer uma política de inteira verdade, como é que se pode exigir àqueles que vivem submetidos a uma verdadeira escravidão o cumprimento integral das suas importantes funções? Parece que para se poder exigir a tão devotados servidores o cumprimento das suas funções é de exigir que se lhes criem as condições necessárias para que eles possam exercer o seu múnus. Enquanto não houver sólida moralidade na situação desses agentes, também não pode haver exigências como as que é legítimo fazer a todos os encarregados de ministrar o ensino, seja onde for!

O Orador: - Tem V. Ex.ª razão.

O Sr. António Santos da Cunha: - Eu queria dizer que é uma lacuna profunda a não residência dos professores nas aldeias, no meio rural, e faz muita falta o influxo da sua presença.

Recordo o velho professor da aldeia que o povo respeitava como uma autoridade social que era. Hoje é, geralmente, uma menina que vem na camioneta e se vai embora na primeira que passa. As novas escolas não têm residência para o professor e na maior parte das freguesias não é possível arranjar para o professor uma residência compatível com a posição de um indivíduo que tem um curso médio.

O Sr. António Santos da Cunha: - A falta de residência para o professor contribui para que este não tenha amor à terra onde está a educar e seja um pássaro de arribação. Noutro tempo o professor plantava uma árvore no quintal a que ganhava amor e era sempre um elemente importante do meio.

O Sr. Amaral Neto: - Peço desculpa de intervir, mas quero corroborar o aparte do Sr. Deputado António Santos da Cunha, que tem a minha inteira concordância, e dizer que o professor não é um elemento da vida social da aldeia, mas sim o elemento mais destacado, onde não há padre, da vida social.

O Orador: Constitui um elemento importante da vida rural.

O Sr. José Alberto de Carvalho: - E preciso que facultem aos professores meios económicos que lhes permitam atingir o fim a que se dedicaram e que é o da educação.

interessados, o núcleo de fomento educativo teria de ser constituído por um número limitado de pais que quinzenalmente reuniriam com os reitores e orientadores escolares para discutirem os problemas da educação, - elucidando-se, justificando-se e até penitenciando-se, já que as faltas, na educação, serão tanto dos educandos como dos educadores; estes pais, por seu turno, levariam à assembleia geral dos pais dos alunos os problemas que o merecessem.

Em resumo: há que chamar os pais dos alunos à colaboração activa na função educativa, na qual ninguém é mais legitimamente interessado que eles.

Esperamos que o Sr. Ministro da Educação Nacional, mesmo antes da planificação do ensino, estude e resolva, com seu superior critério, os problemas que deixamos enunciados.

Mesmo antes da planificação do ensino - voltamos a repetir -, porque a planificação, como todas as obras humanas, tem indiscutíveis vantagens, mas pode ter graves inconvenientes.

E um dos seus piores inconvenientes será o de que, quando a carência de meios impede que se faça tudo. se acabe por não fazer nada. quando era indispensável e já bastante fazer alguma coisa.

Vamos terminar, porque já fomos muito além do que queríamos.

Podem objectar-nos que quanto dissemos está já dito e redito por vozes mais autorizadas que a nossa: é verdade.

Podem dizer aos que as traves mestras que sugerimos estão já alinhadas nos artigos 42.º e 44.º da Constituição Política; e também é verdade.

O que desejamos, porém, é que estes princípios desçam da Constituição a informar toda a orgânica da educação portuguesa.

Queremos que eles deixem de ser apenas «princípios», para se tornarem «realidades».

Queremos que, pelo menos em matéria educacional, se elimine o vício comum à vida portuguesa e que é um daqueles que nós debitamos à deficiência da nossa educação: o vício de dizermos «sim» e fazermos «não», o