e se o podem fazer fazem-no para as Universidades. E sintomática a situação dada pelas estatísticas de 1960-1961: dos 229 alunos matriculados noa institutos comerciais, 376 destinam-se às secções preparatórias para o ensino superior e 53 para o curso de contabilistas. Creio ser viável o estabelecimento de institutos médios, mistos, industriais e comerciais, pelo menos, em todas as cidades com escolas técnicas e onde funcionam já as secções, preparatórias para estes institutos. Assim se criaria neste ramo de ensino um 3.º ciclo, que, paralelamente a uma formação técnica mais aperfeiçoada c elevada ao nível de mestres e contramestres, tão necessários à nossa indústria, poderia também preparar agentes técnicos de engenharia ao nível médio.

Os indivíduos assim habilitados poderiam substituir grande parte dos engenheiros e licenciados em Económicas, que hoje não há e que em boa verdade não vejo que sejam muito indispensáveis para ministrar os conhecimentos tecnológicos dos primeiros anos dos cursos de formação. Esta posição seria um estímulo mais a acrescentar ao interesse de valorização dos alunos sem grande aumento de despesas por parte das famílias.

Sr. Presidente: na base do ordenamento e realização de qualquer plano educativo há um elemento imprescindível, fundamental, do qual depende sempre o êxito ou inêxito das reformas que se fizerem. Esse é o pessoal docente. Professores e mestres, todos unidos na mesma finalidade da educação, devem constituir um corpo uno, prestigiado, consciente do seu valor, da sua função e da parte que lhe cabe no campo de engrandecimento do nosso país.

Ora, creio que este princípio é absolutamente incompatível com a situação actual dos professores, que são na sua maior parte professores eventuais, sem formação profissional e pedagógica apropriadas, e, o que vai sendo mais grave, sem as habilitações literárias necessárias para o exercício da sua função, com a medida de eficiência que implica fraco rend imento e cuja actuação tem reflexo extraordinário em toda a vida nacional.

Sabido como é que o aluno aprende mais pelo exemplo que por qualquer outro processo, importa prestigiar uma função que, exercida em condições de deficiência de meios e de formação profissional, deixará profundos sulcos na formação dos alunos, com o consequente reflexo na sua conduta, futura.

Ao professor caberá fazer desabrochar no aluno todas as qualidades potenciais, positivas e negativas, em ordem ao máximo aproveitamento daquelas e à subordinação destas, a um juízo de valor e à formação de um carácter que só um professor digno poderá conseguir.

O panorama do ensino técnico, porém, neste campo, não é de modo nenhum animador, como consequência do extraordinário afluxo de alunos que nos últimos dez anos tem chegado a este ramo de ensino, que exige um grande número de licenciados de todas as especialidades, licenciados que vão faltando cada vez mais ao ponto de já grande percentagem do e nsino técnico não ter sequer a habilitação legal exigida, para o magistério eventual.

Às escolas chegam todos os anos dezenas de universitários dos últimos e agora já dos primeiros anos das Universidades, que, cheios de entusiasmo e boa vontade, mas falhos de uma formação pedagógica necessária ao bom exercício da profissão, lá conduzem os seus alunos ao fim do ano com mais ou menos valores. Esta situação, para além do diminuir o prestígio de uma classe, diminui a qualidade do ensino ministrado: tem ainda um inconveniente maior, que é o atraso que ocasiona na formatura dos licenciados, por um lado, pois que o regime de trabalho nas escolas técnicas não é compatível com o sossego de espírito necessário para prosseguir na formação universitária e leva o indivíduo a uma situação que é provisória, mas que pode arrastar-se por tanto tempo que mais pode considerar-se definitiva, e embota, por outro Lido, o espírito universitário, tão necessário às tarefas de investigação a que esse mesmo espírito deve conduzir.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Assim, creio que a profissão de professor terá de construir carreira própria dentro das nossas Universidades pela criação de um instituto superior de pedagogia, para evitar que, após uma licenciatura longa e difícil, o candidato a professor ainda tenha de fazer mais dois anos de preparação pedagógica, o que muito contribuiu para o seu afastamento desta profissão. Nas especialidades técnicas exigir-se-ia a formação pedagógica, simultâneamente com o exercício da profissão nos primeiros anos, conduzida por professores metodólogos itinerantes ou inspectores metodólogos, que, por meio de orientação, fiscalização e colóquios temporários, avaliariam das possibilidades de efectivação dos candidatos. Em qualquer dos casos, porém, o professor, ao entrar no exercício da sua função, deve fazê-lo com um vencimento correspondente pelo menos à categoria de auxiliar.

Para melhor avaliação da posição do problema, consultemos os dois quadros de pessoal docente em exercício no ensino técnico, o primeiro referido ao ano de 1957 e o segundo ao ano lectivo de 1963-1964.

Depois da elaboração deste quadro, foram criadas mais 30 escolas, o que significa ser maior o número do professores indicados:

Agentes do ensino do quadro: