Outros países europeus, dos quais Moçambique mantém importações consideráveis, são também grandes importadores de tabaco em folha, cujos números estatísticos não menciono aqui para não alongar esta intervenção. A própria Espanha, com quem Portugal mantém relações de verdadeira fraternidade, é importadora de 34 000 t anuais.

A Austrália e Hong-Kong têm também balanças de comércio desfavoráveis a Moçambique; 21 408 contos contra a Austrália e 24 832 contos contra Hong-Kong, em 1962. São também importadores de tabaco e já uma vez o compraram a Moçambique.

Esta ideia não é inédita. É ainda do parecer sobre as Contas Gerais do Estado

(vol. do ultramar, p. 257, 1956) que transcrevo as seguintes palavras, as quais apoiam inteiramente a tese que acabei de defender:

Moçambique está assim em condições de concorrer nos mercados internacionais, dado o elevado déficit que mantém com certos países grandes consumidores de matérias-primas.

Penso que chegou o momento de se pôr definitivamente este problema do tabaco ultramarino no seu devido lugar. Moçambique pode, desde já, aumentar consideravelmente a sua produção de tabaco, porque, acertadas as diferenças que aqui indiquei na minha intervenção anterior sobre este mesmo assunto, com pequena alteração e interpretação da legislação em vigor, terá o mercado da metrópole como natural comprador da sua produção.

O Sr. Pinheiro da Silva: - Muito bem!

representado por cifra não inferior aos valores de exportação do açúcar, da castanha de caju, do chá, da copra ou do sisal - todos oscilando entre a casa dos 200 000 e dos 300 000 contos anuais.

Sr. Presidente: ao terminar a segunda destas intervenções sobre o problema do tabaco em Moçambique - intervenções que foram feitas com o desejo de contribuir, com a modéstia da minha palavra, para a solução de tão importante problema -, seja-me permitido dizer ainda, que se torna impreterível uma autêntica, ampla, decisiva e definitiva política de fomento da cultura do tabaco no ultramar português, como obra que se impõe para o engrandecimento da própria Nação.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se à

O Sr. Presidente: - Tem a palavra, para efectivar o seu aviso prévio sobre a crise agrícola nacional, o Sr. Deputado Amaral Neto.

O Sr. Amaral Neto: - Sr. Presidente: o Sr. Edgard Pisani, brilhantíssimo ministro da Agricultura de França, acreditado no seu país e fora dele pela inteligência e pela acção, proferiu recentemente em Cane, no fecho da 15.ª Assembleia Geral da Confederação Europeia de Agricultura, um discurso tão notável pela substância como pela forma, que tive o gosto e o proveito de ouvir; e, ao terminar, depois de se resumir dizendo que todo o problema dos agricultores está em evoluírem, em se organizarem, em se adaptarem às necessidades deste século, acrescentou ainda como necessária a informação deste mesmo 20.º século para que não esqueça a sua agricultura. E logo fechou invocando o homem das cidades para lhe dizer: as tuas cidades não te dão aquilo de que mais necessitas, e é a vida; então, por favor, não destruas o que te dá a vida e aprende a dedicar à terra esse mínimo de atenção, esse mínimo de dinheiro, esse mínimo de amor, sem os quais, algum dia, ela te poderá faltar! Presidente, Srs. Deputados: aqui está o essencial do que eu venho procurar dizer, não a VV. Exas, que o sabem, mas, através de VV. Exas, ao Governo e ao País, aos mentores da opinião e as populações urbanas ensimesmadas, no intuito de lhes chamar a atenção para a verdadeira figura e causas da crise agrícola, cuja raiz está precisamente no crescimento industrial das cidades, que, por mecanismos nem de todos conhecidos, mas já suficientemente determinados, vai constrangendo e abafando a lavoura, e de lhes tentar mostrar a necessidade de não faltarem tão-pouco à nossa agricultura portuguesa com a estima, a compreensão e a ajuda que ela merece e de que necessita, para seu fortalecimento, que o será de toda a Nação!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E é neste facto triste, mas real, de os problemas da agricultura requererem hoje em dia aplicação dos espíritos que não seja só a da serena objectividade devida a iguais, mas também, se não principalmente, a do desvelo e mesmo compadecimento pedidos pelo homem de Estado francês, que eu posso desde já oferecer um critério da acuidade e da profundidade da crise em que se debatem os lavradores dos nossos tempos, os quais, em verdade, esquartejados por forças divergentes e de momentos sempre em crescença, estão esvaídos a pontoe de já não poderem por si sós retomar da terra as energias bastantes para caminharem a par dos seus irmãos das cidades na demanda da melhor vida em que todos têm os olhos fitos!

Que a cidade não destrua o campo, que o não esmague mais com o seu poder económico e a sua força política, que cesse de escravizá-lo, apoiada nos jogos financeiros de estranhos, à satisfação das suas necessidades e no saciar dos seus apetites, que, levando-lhe a nata dos seus filhos, não leve também o ânimo dos restantes: que tudo isto, e muito mais, se haja de pedir por favor, como se não fosse de esperar por justiça, eis a exacta figura da crise, eis por que a condição da agricultura nas sociedades mais ou menos industriais dos nossos dias já pôde ser definida como um factor de ruptura dos civismos nacionais.