muito menos os dos produtos agrícolas. O último número do Boletim da nossa Estatística menciona, por exemplo, relativamente a Outubro passado, entre outros, os seguintes índices de preços por grosso em Lisboa, tomando por base igual a 100 os do ano de 1948: produtos de alimentação, em conjunto, 110; produtos da metrópole, em conjunto 118; produtos fabricados na metrópole a partir de matérias-primas importadas, 117; produtos do estrangeiro, 113; cereais, 108 apenas; leite, 105.

Por outro lado, o francês Maré Latil calculou para o seu país que os produtos agrícolas teriam em 1955 dois terços do respectivo poder de compra em 1914 e metade do do período à roda de 1870; e nos Estados Unidos o parity ratio - índice dos termos de troca da agricultura, precisamente - já baixara para 82 no ano de 1957, contra 100 na média de 1910 a 1914, que serve de base ao cálculo dos preços de sustentação do mercado agrícola. Ainda em França está calculado que, partindo do ano de 1948, o índice dos preços dos produtos industriais necessários à agricultura estava 21 pontos acima dos dos produtos agrícolas na origem, em fins de Dezembro de 1962.

Por seu lado, a F. A. O. também opina terem os preços dos produtos não agrícolas subido mais do que os dos produtos agrícolas - mas é a própria evidencia! -, precisando que, no período de entre 1950 e 1952 até 1959, nos doze países da Europa do Noroeste, os preços do conjunto dos produtos (incluindo os agrícolas) progrediram 33 por cento, enquanto o índice só dos preços agrícolas não subiu senão um pouco mais do que 20 por cento; já na Itália, em igual período, a diferença foi muito maior: 16,9, contra 1,3 por cento.

Finalmente, à escala mundial, pôde calcular-se que, a preços correntes (termo de comparação sempre mais desfavorável, pela maior estabilidade dos preços agrícolas), tomando como base igual a 100 as médias do biénio 1952-1953, o índice dos preços mundiais de exportação de produtos agrícolas baixara A velha habituação à dependência e conformidade destes não fazia notar a diferença; muita gente a tomaria (e tomará ainda) como uma inevitabilidade, se não lei natural ou social, mas o facto é real e só traduz o empobrecimento agrícola.

Nada acrescentarei por agora, pois seria pretensioso da minha parte insistir no que salta aos olhos, e de que aliás literatura bem recente e conhecida ri á a exacta distribuição escalar; mas repetirei uma e muitas vezes que a consciência da disparidade, gradualmente entrada no mundo rural, agrava a sua sensação de inferioridade e amplifica-lhe os motivos de protesto, enquanto os observadores imparciais têm de reconhecer-lhe o fundamento da razão de queixa.

Cada dia mais consciente das forças que se têm abatido sobre ela, e da sua impotência para lhes resistir sozinha, a agricultura sente-se também objecto de um movimento lento, mas inexorável, de desclassificação, de perda da estima da sociedade urbana. Sem duvida, esta andou-lhe sempre muito alheada; já o velho La Bruyère, de quem é bem conhecida a negra pintura dos camponeses do seu tempo -provavelmente negra de mais -, reconhecia há 250 anos que os citadinos se criavam muna indiferença grosseira pelas coisas rurais e campesinas. Mas isto foi há muito tempo, num tempo particularmente deslumbrado pelo brilho das cortes e pelas luzes da sociedade intelectualmente polida e em que as comunicações eram difíceis.

Depois, porém, ao menos os políticos e os economistas aproximaram-se do campo, os primeiros para lhe explorarem e ou segundos para estudarem a potência que detinha, e o sentimento desta reconfortou a alma rural. Com o decrescer do poder económico relativo da agricultura, a cidade, todavia, voltou a alhear-se, e gerou-se nos campos, no dizer expressivo e universalmente aplicável de outro ministro francês, um complexo de frustração, de injustiça e de abandono.

Os homens do campo, por essa Europa toda como em Portugal, vivem nitidamente fartos de ouvirem os citadinos não falar senão da melhoria do seu nível de vida e da ampliação dos seus, deles, lazeres e regalias.

Vozes: - Muito bem!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Vejamos só como entre nós são diferentes tis atitudes perante a ineficácia económica de uma e da outra.

Aquela não é mais eficiente do que esta, em muitíssimos casos; não tem produzido menos caro, nem exigido menos protecção contra o exterior; mas tenho visto dirigir-lhe por isso críticas menos acerbas, e a válvula do comércio externo menos oferecida em ameaça, se não mais manobrada em defesa, até em detrimento da produção agrícola.

Por outro lado, anda muita gente a mostrar-se preocupada com a pouca eficácia social da agricultura, sem nada dizer, ainda quando viria muito a propósito, da da indústria, que tão-pouco é famosa.

E a dedicação a ideia do progresso industrial como factor do crescimento económico é tamanha que se têm postergado hipóteses viáveis de o ajudar, na relatividade das nossas circunstâncias, pela via do empreendimento na agricultura, sob a cegueira de industrializações que acabem por mostrar impressionantes dificuldades de atingire m era boas condições os seus alvos.

Seja-me lícito ilustrar esta consideração com o caso extremo - extremo em dimensão e quiçá em deficiência de rentabilidade - do estabelecimento da siderurgia. Ao cita-lo quero dizer que não me coloco contra a ideia em si; aliás, aprovei-a, como muitos de VV. Exas., ao dar aqui voto favorável nos planos de fomento que a propunham. E compreendendo perfeitamente, e aplaudo, o objectivo que a ditou, de autarcia, de segurança do aprovisionamento nacional em produtos de base; mas este mesmo, infelizmente!, não o vejo assegurado, nem sei se o poderá brevemente vir a ser em medida satisfatória.