eficientes, como afinal provam quando, saídos do País em busca de melhor vida, as possibilidades dela se lhe oferecem em meios agrários adequados.

Veja-se ainda o exemplo de Sever do Vouga, onde em território que tinha tudo de desfavorável três anos de assistência técnica, generosamente oferecidos por iniciativa privada, permitiram já colher resultados demonstrativos de receptividade e vontade de progresso. Veja-se, mais atrás, a reacção à campanha do trigo e o arroteamento do Alentejo sob a influência da legislação animadora de Elvino de Brito!

Capaz, portanto, de reagir sadiamente e com vivacidade a incentivos normais, não parece razoável dizer-se a nossa agricultura doente de mal orgânico antes de demonstrar que nas condições em que labuta e com os recursos ao seu alcance ela poderia atingir melhores resultados.

Em princípio, pois, há que considerá-la apta a tomar novos caminhos, se bem guiada, e enquanto não lhos abrem há que dedicar-lhe todo o cuidado e estima devidos a uma actividade válida, mas debilitada pela adversidade das condições em que se exerce, pela crise que a avassala e é produto de forças fora do seu comando.

Vozes: - Muito bem!

menos 127 107 pessoas só no continente (nas ilhas adjacentes a baixa foi de 9,5 em percentagem, 10 500 pessoas ao todo), enquanto a população trabalhadora total aumentava de 4 por cento. Mas na composição da gente perdida pela agricultura parece-me haver lugar para acentuar um ponto, que números muito recentemente dados a lume permitem pôr em destaque.

Em absoluto e em percentagens, por situações na profissão, a evolução acusada pelos dois censos populacionais é, quanto à agricultura, a seguinte:

O número de patrões diminuiu, pois, de 45 por cento; o dos empregados e assalariados de 10 por cento; o dos trabalhadores familiares aumentou 4,4 por cento.

Para os defensores da exploração familiar o quadro será, em primeiro exame, agradável; mas, fora desta consideração, o que parece ser é um indicador do estado de crise, pois foi no número de empresários de categoria patronal que se deu proporcionalmente a mais forte quebra, uma verdadeira forte quebra. Ou abandonaram as explorações ou tiveram que dispensar o auxílio de pessoal assalariado; parece-me difícil, no conspecto que posso formar da evolução geral, aceitar que esteja aqui somente a expressão de uma mudança sadia. Que no distrito da Guarda os patrões tenham descido em número de 7395 para 2597, no de Viana do Castelo de 5789 para 1444, no de Braga de 15 049 para 6154, afigura-se-me com efeito ser mais um sinal de crise do que de reordenamento louvável.

Outro sinal da crise agrícola está no endividamento, mas só do hipotecário temos notícia estatística. As dívidas contraídas sob garantia hipotecária de prédios rústicos têm aumentado constantemente, passando da média anual de 166000 contos no triénio de 1951-1953 a 612 000 contos no triénio de 1960-1962. Em doze anos a lavoura endividou-se de novo (isto é, deduzindo as dívidas liquidadas por hipotecas cancelados), no total de quase 3 milhões de contos, mas endividou-se a ritmo galopante!

Nos últimos tempos, o factor que mais agravou as dificuldades da lavoura foi incontestavelmente a subida dos salários, que cadenciou com razão o aumento das queixas. Um pequeno cálculo poderá dar a medida da sua incidência nos rendimentos, uma noção de grandeza que ajudará a compreender melhor a situação.

Pode-se tomar, com certa segurança, como média de ocupação dos trabalhadores agrícolas assalariados e empregados, 200 dias anuais para os homens e 100 para as mulheres; são números constantes de estudo publicado. Considerando que o maior emprego é nas épocas de salários mais altos, pode-se, a vista dos índices ponderados de salários oferecidos pela nossa estatística, estimar o aumento deles, no período de 1958 a 1962, em 45 por cento para os homens e 40 por cento para os mulheres; ainda aqui creio que andando com prudência.

Sendo de quase 760 000 o número de assalariados, empregados e tarefeiros activos na agricultura em 1960, dos quais 4/5 homens, e sendo de 21$ para os homens e 12$ para as mulheres os salários médios em 1958, uma simples operação aritmética mostra que o valor total do aumento dos salários naqueles quatro anos representa algo mais do que 1 200 000 contos, 9 por cento do produto bruto agrícola!

Qualquer que seja a atitude a ter perante a elevação dos salários - e a do patronato agrícola, cedendo-lhe quase sempre sem grandes resistências, é de compreensão e simpatia pelos seus colaboradores -, parece incontestável que um agravamento desta ordem no custo da produção, em quatro anos apenas e perante preços de venda rígidos, não é de modo algum compatível com o equilíbrio da actividade.

E menos o teremos de considerar se atendermos a que no mesmo intervalo de tempo o valor das colheitas dos principais géneros agrícolas (trigo, milho, centeio, arroz, aveia, cevada, fava, feijão, grão-de-bico, batata e azeite) - notai bem: os valores das colheitas, não das parcelas disponíveis para venda - diminuiu ao todo em 660000 contos, diferença entre as produções de 1958 e as de 1962, aos preços de 1962. O vinho, neste último and de colheita record, ainda foi o que valeu para inverter o sinal da diferença quanto as produções principais, mas ainda assim não permitiu realizar total que cobrisse só o encargo dos salários acrescidos.

O problema dos salários, pela pesadíssima incidência nos custos de produção de uma agricultura dispersa, mal mecanizada e pouco susceptível de se mecanizar, está