Outro exemplo é o do azeite. A seguir à colheita escassa de 1962 o preço de exportação subiu até 1200 dólares por tonelada, partindo de cotações inferiores a 600 dólares.

Temos, pois, que os preços internacionais, os actuais preços de mercado, literalmente não são honestos e não prometem estabilidade.

Mesmo hoje em dia são ilusórios. Portugal tem-no aprendido, ou devia ter, à custa de muito milhar de contos despendido quando vai à praça fora e depois acontece que não pode, sem prejuízo, vender cá dentro ao preço interno. Não obstante, o nosso Ministério da Economia parece gostar de importar; sempre pareceu. Nem admira: é tão fácil, tão cómodo: um concurso, uns telefonemas, e daí a dias, sem mais trabalhos, estão as amostras e as mais ou menos tentadoras ofertas muito em ordem a espera de despacho.

Mas de vez em quando há uns percalços. Assim, por exemplo, pelos fins de 1960 decidiu-se que os ovos nacionais estavam a encarecer muito (é o costume da quadra) , e e ntão mandaram-se vir da Holanda 130 000 dúzias, para lição dos nossos comerciantes. Estes ovos pareciam baratos, mas eram-no por serem pequenos

- nessa altura, na Holanda, o preço por grosso ao produtor, para ovos de qualidade e tamanho médios, era à razão de 10$ á dúzia -, e ao chegarem cá a Lisboa resultaram a 14$ para o público, excluídos os direitos de importação, que costumam sempre fazer de bombo nestas festas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E como ninguém lhes pegasse, das 130 000 dúzias o comércio só absorveu 50 000 e as restantes tiveram de ser dadas, grátis, a estabelecimentos de assistência e cantinas escolares.

Fim simpático, mas experiência infeliz!

O Sr. Gonçalves Rapazote: - Aproveitaram as cantinas escolares.

O Orador: - Outra experiência infeliz foi a do arroz, no ano passado. O arroz é um cereal em aumento de procura por todo o Mundo graças a causas diversas, uma das mais curiosas, e significativas, sendo que certos povos em vias de desenvolvimento apuram os seus hábitos alimentares; por isto tem encarecido. No nosso país, o arroz é dos raros exemplos de género barateado no pós-guerra: aqui há anos entendeu-se que os lavradores estavam a ganhar de mais com ele e baixaram-lhe a tabela.

De passagem notarei como é expressiva de sujeições esta sensibilidade aos lucros supostos aos agricultores, que nunca podem ocultar nada; os banqueiros, os negociantes de automóveis e de peças sobressalentes para as máquinas agrícolas, os refinadores de azeite e petróleo e os distribuidores de gases combustíveis, e quantos mais, podem ganhar (segundo por aí se crê) rios de dinheiro, ninguém se mostra no mínimo impressionado; mas vá lá adivinhar-se que houve aragem fagueira nalguma produção agrícolas, tempos saudosos, em que ainda as podia haver! - e tudo fala, e tudo murmura, e tudo insinua Pactolo, e tudo se mostra cobiçoso, e o Estado lá vem pronto na peugada pôr cobro ao desaforo!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Pois foi o que se passou com o arroz aqui há dez anos, e por estas e outras razões o artigo escasseou entre nós no Verão passado. Mandaram-se, em consequência, vir 18 000 t dele, mas ... aconteceu que 11 500 t vieram de muito longe, do Vietname do Sul, e chegaram cá com o arroz cheio de bicharada, que custou, só ela, 600 contos a matar.

O Sr. Gonçalves Rapazote: - Desta vez não aproveitou ninguém.

O Orador: - E ou pelo bicho ou pela natureza própria, o tal arroz era feio e ninguém o queria; chegada a nova colheita do arroz nacional, foi preciso durante mais de um mês impedir-lhe o descasque, para ver se se forçava o público a gastar do outro, e nem assim; em fins de Setembro, quando já devia haver arroz novo do nosso, ainda 4700 t do vietnamês aguardavam que lhes pegassem. Da outra partida importada não houve grande história, salvo que lá para as bandas da minha terra, pelo menos, esteve à venda a 9$ cada quilograma, quando o normal equivalente seria a 7$.

O Sr. Proença Duarte: - V. Ex.ª tem, certamente, apontado que, antes de se desvalorizar o preço do arroz, Portugal chegou a exportá-lo.

r que as nações adiantadas lhes tiram mais pela via da deterioração dos preços do que lhes dão em auxílios de várias espécies; e numerosas vozes se erguem propugnando como melhor ajuda a revisão dos termos de negócio. A França, ela mesma país com excedentes agrícolas, e que asperamente os tem defendido, é a grande campeã desta ideia, expressa no plano Baumgartner-Pisani, do nome dos seus ministros que o têm defendido nas grandes reuniões. Besta ver em que dará, mas suponho valer a pena não esquecer a ideia sua motora.

Independentemente desta ajuda ainda no domínio das belas aspirações, os países agrícolas em desenvolvimento vão aumentando e melhorando os seus consumos, substituindo géneros tradicionais por novos alimentos mais agradáveis ou prestigiados, e sem embargo de as produções continuarem a subir e de haver, designadamente quanto ao trigo e cereais secundários, enormes reservas (em fins de 1962, 47 milhões de toneladas de trigo e perto de 70 milhões de toneladas de cereais secundários), já se ouvem vozes de inquietação temendo mais um repetir da velha história das vacas e de aos anos de preocupações pelos excedentes agrícolas que se têm vivido poderem seguir-se outros em que as preocupações se invertam quanto à causa. Mais uma possibilidade do que uma probabilidade, talvez, por ora, será todavia conveniente que nós em Portugal, ao virarmo-nos para o mer-