sempre na sua saudade, encontrem o ambiente e as condições necessárias a poderem ali viver e morrer, à sombra do campanário da igreja onde receberam as águas do baptismo, e se não vejam obrigados a, amarguradamente, procurar em solo estranho o p5o de cada dia.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O pão do exílio, por mais fácil e doce que seja, é sempre amargo, pois, sobretudo para a gente do Minho, é regado com as lágrimas da nostalgia pela terra que sobremaneira amam.

O Sr. Amaral Neto: - V. Ex.ª dá-mo licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Amaral Neto: - Ao que consta, o pão do exílio pode ter sido abundante, mas nunca tem sido doce.

O Orador: - É o que eu digo. Muito obrigado pela sua confirmação.

O Sr. Amaral Neto: - Refiro-me precisamente às condições materiais em que ele é ganho pelos que deixam a terra para ir para o estrangeiro.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Jorge Correia: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: fácil é verificar em todas as minhas intervenções e apartes uma acentuada inclinação pró-rural que não escondo, antes proclamo, quer estejam em causa aspectos económicos, quer do ponto de vista social e político.

É uma tendência natural a manifestar-se em defesa de um sector primário da vida nacional menos bafejado pela fortuna e até o menos amparado pelo Governo.

Sou fiel a este princípio quando pugno pela extensão da assistência 'a todo este vasto sector, quando solicito medidas justas e eficientes a fim de ser possível levar aos mais longínquos lugarejos e a preços acessíveis a energia e a luz das nossas, barragens, quando pretendo para todos uma velhice descuidada, mercê de uma reforma compatível com a dignidade de quem levou uma vida inteira a trabalhar.

A realização destas aspirações de largo alcance, se associadas à descentralização das actividades industriais, à extensão da cultura, ao incremento habitacional e expansão das vias de acesso, condições essenciais de um verdadeiro planeamento regional, conduziria a breve trecho á um mais harmónico crescimento, contribuindo do mesmo passo para melhorar o panorama do «deserto português», que se acentua dia a dia com o êxodo das populações para os grandes centros nacionais e, em especial, para as grandes metrópoles estrangeiras.

Coube à Igreja, justo é afirmá-lo, o grande mérito de alertar estudiosos, políticos e, de uma maneira geral, toda a gente, consciencializando-os do grave risco que o Mundo corre com esse abandono, dado que o sector agrícola sempre e em todas as latitudes constituiu um poderoso factor de produção e de equilíbrio social.

Os últimos pontífices, com uma persistência impressionante, reafirmam, esclarecem e concretizam a doutrina social da Igreja, chamando de uma maneira especial a atenção para o sector da agricultura com aquela clarividência que traz, além da inteligência, a marca do sobrenatural.

É que o sector agrícola, considerado tantos anos baluarte do conservantismo, está à beira de uma encruzilhada abissal: remodelação ou soçobro, de que é já sinal certa inquietação latente!

Hoje mais tranquilizado quanto aos próximos propósitos de o que diz respeito ao aspecto social daquele sector, permitindo-me apresentar gostosamente ao Governo as minhas homenagens por tais intenções, deter-me-ei fundamentalmente numa das facetas mais importantes, quanto a mim a par de um verdadeiro fomento de turismo e da franca redução das taxas da energia eléctrica, pura o desenvolvimento do Algarve - a arborização.

Embora seja do conhecimento geral que a agricultura, contribui cada vez menos para a formação do produto nacional bruto dos países mais evoluídos, isto não quer dizer que a não dávamos elevar ao mais alto nível com o deliberado propósito de a transformarmos era fonte de matérias-primas para o nosso próprio desenvolvimento industrial e reduzir tanto quanto possível as importações.

Ora a responsabilidade da árvore em cerca de 30 por cento do valor global das exportações e o seu elevado índice na formação de matérias-primas confere-lhe um título relevante na nossa economia, mostrando bera o alto interesse da florestação do País!

A esta razão acresce ainda, além de muitas outras, a própria natureza de dois terços do nosso solo, tomando-o essencialmente apto para a arborização, donde afirmar-se que o País tem aptidão eminentemente florestal!

Teremos nós seguido esta inclinação incontroversa?

Teremos aproveitado na sua plenitude aquela proclamada faculdade?

Estaremos dispostos a seguir o caminho naturalmente indicado pelos técnicos e aceite por todos?

Sr. Presidente: o problema em toda a sua latitude posto a esta Câmara sob a forma de aviso prévio da autoria do nosso Exmo. Colega Eng.º Amaral Neto, a quem cumprimento, longe do ser na sua presença original nesta Casa, não deixa por isso de ter neste momento flagrante oportunidade, uma vez que tanto se apregoa a real necessidade de novos rumos para a agricultura.

E a questão está em saber qual a orientação a tomar e quais as medidas requeridas durante um largo período de transição entre a rotina que vimos seguindo e o novo rumo que se impõe.

Quanto a mim é aqui que residirá porventura a controvérsia, posto que necessariamente terão de abandonar-se hábitos de muitos anos, critérios ancestrais, surgindo ao mesmo tempo novos aspectos de exploração que muitas vezes não estarão dentro das possibilidades económicas dos proprietários, obrigando ao aparecimento de novos meios que os possibilitem.