necessária deslocação de parte da população que se dedica aos trabalhos agrícolas, especialmente se a florestação se tornar uma realidade nas regiões do Norte, onde a intensidade de população é, por via de regra, apreciável.

O problema continua em aberto até à altura do completo ordenamento nacional do sector agrícola, que não se antolha fácil, nem rápido.

Terá de ser trabalho de longos anos, e essa circunstância impõe a necessidade de se continuar a insistir pela imediata solução do problema dos preços dos produtos, ao mesmo tempo que se faça o trabalho de pedir à terra, muitas vezes ingrata, o esforço de uma produção maior.

E só assim se conseguirá dar à desgraçada lavoura mais um pouco de bem-estar e a possibilidade de pagar melhores salários para sustar a fuga, por vezes aflitiva, que se nota em muitas localidades do Norte do País e do distrito de Viseu.

O Sr. Amaral Neto: - Do Norte e do Sul! E do Centro!

O Orador: - Muito obrigado.

O Sr. António Santos da Cunha: - De todo o País continental!

O Sr. Amaral Neto: - E insular!

O Orador: - Bem se poderia ter obstado a tal fuga se, porventura, a localização das indústrias tivesse sido estudada racionalmente e fosse espalhada pelo País, mesmo com prejuízo do conforto dos seus dirigentes.

Fora das horas do trabalho fabril, o operário ainda tinha tempo disponível para tratar da sua horta, da sua casa e da sua família.

Com isso se teria obtido a solução de um problema social, e até de ordem moral, pois o operário continuaria no seu meio, a dar ainda o seu contributo aos campos e rodeado dos seus familiares, quase sempre abandonados quando a ambição o força a ir procurar longe uma fonte de receita mais abundante.

Agradou-me ouvir a informação do Sr. Ministro da Economia de que iam ser criadas fábricas no Norte do País, talvez porque a sua clarividente inteligência tenha reconhecido os errados caminhos seguidos naquele departamento ministerial, sempre solícito em rodear a capital com uma cintura de chaminés.

E este facto, já por si, é susceptível de provocar o desequilíbrio entre as actividades industriais e agrícolas.

O caso é de sobejo conhecido e a própria imprensa se tem debruçado sobre o assunto.

Não fujo, até, à tentação de transcrever de um interessante artigo do jornal O Século a seguinte passagem:

Precisamos, sem dúvida, do reequipamento e expansão industriais e neles estamos

deveras empenhados, mas não podemos, sem temerário risco, sacrificar-lhes nada de nobre da lavoura, 2m cuja velhice, cansaço e decadência ninguém veja motivos de censura, nem de descrédito, mas tão-sòmente as consequências de maus tratos e abandonos de que não é responsável.

Certo que está na linha do pensamento do actual titular da Economia a necessidade de conseguir um justo equilíbrio entre as actividades económicas nacionais quando preconiza que «a agricultura, a indústria e o comércio tem de se expandir harmoniosamente, interajudando-se para que possam sobreviver em conjunto».

Mas, para con cretizar este feliz pensamento, há necessidade de criar desde já organismos eficazes, isentos da imperrante burocracia de muitas repartições estatais, servidos por homens de mãos limpas e que sintam os problemas, pois só sentindo-os se poderá obter a solução apropriada.

Se for encarada a solução de todos estes problemas através das cooperativas de produção, há que exercer desde já uma intensa acção educativa sobre os interessados e usar de meios adequados de molde a conduzi-los para elas.

e, para a batata e frutas, for preconizada a criação de armazéns apropriados à sua conservação, há que, também desde já, estudar a sua localização e construção, a par da fixação de preços compensadores que restabeleçam a confiança e a tranquilidade perdida da nossa lavoura.

E, para que a próxima colheita já possa beneficiar de medidas proteccionistas, há que estabelecer prazos aos técnicos, para que a burocracia não venha a prejudicar medida de tão avantajado alcance económico, social e político.

Para terminar, resta-me felicitar o ilustre Deputado Amaral Neto pela oportunidade do seu aviso prévio, louvar o brilho com que o desenvolveu ...

O Sr. António Santos da Cunha: - Muito bem!

O Orador: - ... e agradecer a possibilidade de abordar alguns aspectos de interesse para todos quantos trabalham nos nossos campos, dignos da melhor protecção e amparo, até porque ainda reside neles um salutar portuguesismo que é indispensável acarinhar e estimular.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

rte a vida de produção e de consumo das nações, variam consideràvelmente - dada a circunstância de os povos não dominarem a marcha ou as excentricidades do tempo, na sua expressão meteorológica, o que os coloca num ano sob a férrea garra das pequenas ou nulas produções, para no ano seguinte se verem colocados sob a por vezes não menos férrea garra das superproduções!