Do sistema português, agora inesperadamente posto a funcionar ao contrário em matéria de incentivo, a maior vítima é o distrito de Beja.

Sendo este distrito a sede do celeiro de Portugal, onde predomina a

monocultura-trigueira, a eliminação do subsídio representa ficar desfalcado em mais de 50 000 contos, o que, para uma economia empenhada em mais de 80 por cento, é muito grave e não deixará de ter efeitos consideráveis no futuro, por vir a reflectir-se na sangria de divisas.

Quanto a compensação concedida nos créditos, resta saber se foi pelos lindos olhos dos lavradores ou se não terá sido o reconhecimento da impraticabilidade de proceder de outro modo, pelo estado de insolvência que acarretaria.

Com um ano agrícola nada bom a seguir a uma série de quatro de mau, muito mau, pior- e pouco melhor, a eliminação do bónus de adubo, o encarecimento de quase tudo que a lavoura tem de adquirir e a subida dos salários pela rarefacção da mão-de-obra - será caminhar para o abismo.

A Campanha do Trigo, integrada no período do nosso ressurgimento financeiro, em tão boa hora inaugurada na Herdade de Agua de Peixe, no limite do distrito de Beja com Évora, há mais de 30 anos, conseguiu resultados extraordinários, que, se melhores não foram, é porque não teve continuidade a política que a definira em ser completada com o fomento pecuário, o fomento florestal e o fomento frutícola. Parece ter agora o seu epílogo inglório!

Sem prejuízo da política agrícola a longo termo, não se devia ter desencorajado repentinamente aquela Campanha.

Ambas necessitam da adesão entusiasta dos agricultores.

Havia que refazer a confiança da lavoura, aliás nada difícil, quando se sabe interessá-la e esclarecê-la com sinceridade, tanto mais que às solicitações do Governo nunca faltou.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - O distrito de Beja, mesmo com a sua lavoura descapitalizada, tem vindo a arrastar-se a produzir trigo, mantendo a sua posição de principal fornecedor interno da Nação.

Tanto assim que, segundo o último relatório publicado pela Federação Nacional dos Produtores de Trigo, o distrito de Beja, na campanha de 1960-1961, semeou 19 519 589 kg de trigo numa área de 185 683,77 ha e colheu 138 707 412 kg, o que deu uma produção média por hectare de 747.

«Vendeu 98 930 004 kg, ou sejam mais 60 409 927 kg que Évora, mais 68 579 437 kg que Portalegre, mais 68 566 419 kg que Lisboa e mais 76 626 899 kg que Santarém, que foram os distritos que se lhe seguiram.

Ocupa o primeiro lugar na percentagem do produto interno bruto de cereais, no produto interno bruto de vegetais, com 72 por cento e na superfície de culturas arvenses em 97 por cento, o que denuncia a sua característica mono-cultural.

Para se ajuizar da crescente aplicação de adubos, apresentamos um mapa das campanhas de 1955-1956 a 1962-1963, a publicar em anexo.

Também não deixa de ser interessante a evolução da distribuição de semente seleccionada de trigo em comparação com a da totalidade dos restantes distritos do continente desde 1948. conforme os quadros que junto.

Em matéria de máquinas agrícolas, o distrito de Beja no ano de 1962 tinha 2079 tractores, 474 debulhadoras e 206 ceifeiras-debulhadoras, quando nos restantes distritos do continente existiam 9727 tractores, 4814 debulhadoras e 257 ceifeiras-debulhadoras.

É de notar que uma lavoura em más condições financeiras que se vai mecanizando mostra bem o sacrifício na sua aspiração de progresso!

Também não é menos interessante referir que o distrito de Beja conta 64 barragens de particulares, com uma área regada de 1168 ha. Houve um período de entusiasmo nesta matéria, que não continuou ao mesmo ritmo por virtude de alguns insucessos económicos.

A lavoura mais progressiva tem já variedade de culturas, que vem a efectuar desde há anos.

A fruticultura e horticultura, forragens e pecuária, arborização, etc., vão sendo reconhecidas como culturas a intensificar, ...

O Sr. André Navarro: - Muito bem!

O Orador: - ... sendo do maior interesse uma industrialização e comercialização que imprimam incremento. Para tanto, terá o Estado de criar e desenvolver a investigação, assistência técnica, matas experimentais,

pomares-piloto, - matadouro regional, armazenamento, etc.

Dispõe já o distrito das cooperativas seguintes:

Feiireira - do Alentejo.

Em 1949 houve um reconhecimento para a localização de pequenos regadios a levar a efeito pelo Estado, ou em regime de comparticipação, que beneficiariam uma área relativamente importante em relação aos encargos da instalação, que não passou do papel.

Já vão longe os períodos de crises de trabalho, que chegaram a atingir mais de 20 000 trabalhadores, tendo começado aí o drama do depauperamento do trabalhador, que veio a ser aliviado com o aumento de dias de trabalho em cada ano por efeitos da Comissão Coordenadora das Obras Públicas no Alentejo, da feliz criação do ilustre Ministro das Obras Públicas, Eng.º Arantes e

Oliveira, ...

O Sr. André Navarro: - Muito bem!

O Orador: - ... que vem actuando desde 1956 com resultados dignos dos melhores louvores.

Vozes: - Muito bem!