Um meio de acelerar o desenvolvimento económico consiste em diversificar a economia, alterando a estrutura da população activa pela aspiração do excesso de mão-de-obra rural para novas actividades. Entre estas actividades estará, sem dúvida, a indústria. Mas os efeitos benéficos da industrialização não se conseguem só com grandes indústrias. Há todo o interesse na criação de

pequenas indústrias à escala regional que possibilitem o êxodo agrícola.

As indústrias de transformação e conservação dos produtos agrícolas podem desempenhar papel importante na valorização regional.

A tendência em todos os meios evoluídos é a de fazer com que a produção agrícola possa procurar e encontrar em certos tipos de preparação ou transformação industrial dos seus produtos, como na comercialização, parcelas de rendimento que atenuem os sempre limitados preços que obtém ao nível exclusivo da produção.

Sr. Presidente: sem dúvida que o desenvolvimento industrial do País é indispensável para atrair a mão-de-obra da agricultura; para alargar a procura de alimentos; para aumentar a procura de matérias-primas, para fornecer mais baratos meios de produção, etc.

Mas também não se deve esquecer que o desenvolvimento agrícola é condição complementar e indispensável ao desenvolvimento económico global. É do aumento da produção agrícola comercializada que resultarão os rendimentos monetários necessários a sustentar o crescimento industrial.

Por isso Barre afirma que «nenhum desenvolvimento industrial é possível se não se apoia uma revolução agrícola». E também está reconhecido que a industrialização de um país corre graves perigos desde que não seja acompanhada por um esforço paralelo na agricultura.

Sr. Presidente: corre pressa que o Governo se disponha, de uma vez para sempre, a encarar muito a sério o problema agrícola português, tomando medidas imediatas e a longo prazo - mesmo que para tal se tenham de usar meios que irão, certamente, ferir os interesses e as comodidades dos muitos que a isso estão habituados - para que o lavrador não perca a honra de o ser e o trabalhador se vincule mais ao ambiente rural.

O Sr. António Santos da Cunha: - Muito bem!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: antes de terminar estas minhas modestas considerações, ouso enumerar alguns dos aspectos fundamentais da agricultura nacional, para os quais deverá recair a melhor atenção do Governo.

Ensino. - E necessário trabalhar no sentido de conseguir, para todos os que trabalham ou venham a trabalhar na agricultura, uma mentalidade e uma receptividade que lhes permitam corresponder às exigências crescentes de uma actividade cujo processo de produção é cada vez mais complexo.

Dadas as exigências de uma agricultura modernizada, é indispensável valorizar o nosso trabalhador rural através da especialização.

Todo o esforço deverá recair sobre as camadas jovens, necessariamente as mais receptivas, não esquecendo as mulheres e as crianças.

Presentemente existem os chamados Centros de Extensão Agrícola Familiar, a cargo da Direcção-Geral dos Serviços Agrícolas.

É da máxima importância o alargamento destes cursos, através de uma rede que cubra todo o País, assim como a criação de centros de adestramento, quer fixos, quer ambulantes.

Paralelamente ao esforço a desenvolver para a valorização do trabalhador rural, outro se há-de exercer de valorização do agricultor.

A empresa agrícola é complexa; não se pode esperar que ela seja bem administrada se o respectivo empresário não possuir as mínimas bases técnicas e económicas do seu funcionamento.

De pouco servirá conseguir empresas bem estruturadas se os respectivos empresários ignorarem as exigências dos mercados, as combinações mais produtivas, os resultados económicos obtidos etc. Creio bem que a formação de empresários agrícolas deverá figurar na primeira linha de preocupações dos serviços oficiais.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Cursos, visitas orientadas, constituição de grupos de agriculturas que tenham problemas comuns a resolver, o contacto frequente com as explorações dos organismos do Estado, a instalação de explorações-piloto, etc., serão meios óptimos aos quais se deverá recorrer para progredir neste campo.

O Sr. Pinto de Mesquita: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faz obséquio.

O Sr. Pinto de Mesquita: - A propósito da preparação dos empresários agricultores tem-se discutido já nesta Assembleia aspecto que me parece fundamental: a preparação nas escolas de instrução primária e, ainda, através da criação regional indispensável de escolas de instrução secundária agrícolas exactamente desses futuros empresários.

Por elas os lavradores dariam a seus filhos possibilidade de tomarem conta, numa feição mais modernizada e técnica, exactamente da condução futura desses empresas, pois neste capítulo a família é importantíssimo que permaneça, passando essas empresas de pais a filhos.

O Orador: - Muito obrigado pela intervenção de V. Ex.ª Mas se a formação de empresários é da mais alta importância para o progresso da nossa agricultura, não menos importante é a preparação das respectivas mulheres. O conjunto de conhecimentos que é usual designar por economia doméstica deve ser posto ao alcance das mulheres e das raparigas dos meios rurais.