formou a nossa cidade num grande centro da indústria têxtil.

Em 1475 contratou um técnico genovês para o lavramento da seda, passou a importar matérias-primas de Almeria, promoveu a cultura do sirgo e desenvolveu a fiação, a tecelagem e a tinturaria têxtil, conduzindo esta indústria a um nível de grandeza que lhe deu posição de relevo durante séculos.

A fábrica de seda de Bragança foi uma das mais famosas do reino.

A cultura do sirgo estendia-se por todo o seu termo, chegou a haver 5000 teares a trabalhar no nosso distrito e desde o século XVI até ao século XVIII (1 706), em Bragança, fabricaram-se veludos, damascos, pinhoelas, nobrezas, gorgorões, cetins e tafetás.

Os tecelões de veludo tinham aí particular assento:

Trabalhava-se a terra, semeava-se, criava-se todo o gado e muito gado de lã, plantavam-se árvores de fruto e amoreiras para o bicho-da-seda, fiava-se, tecia-se e faziam-se veludos lavrados.

Fomos os primeiros nestas artes e dividimos as honras da indústria, no século XVI, com Vila Viçosa e a cidade do Porto.

Tudo isto se perdeu.

Ficámos nós, a terra e a gente.

Acabaram-se os vestidos de seda e de veludo e estendemos as mãos calejadas dispostos a trabalhar em todas as partes do Mundo. E por lá andamos.

Mas, sonhadores impenitentes, sonhamos com uma nova época de grandeza.

Estamos seduzidos pelas técnicas do desenvolvimento regional em marcha e sabemos muito bem que esse desenvolvimento não é obra do acaso e que é tão difícil fazer alguma coisa como é fácil perder tudo.

Este é o último tempo da minha meditação.

Tenho para mim que, quando dispostos a recuperar o tempo perdido, nos há-de fazer bem recordar a estrutura da antiga comunidade.

Diálogo simples e claro entre quem está sagrado para o serviço de mandar e quem tem obrigação de obedecer.

Antes de tudo, fidelidade, confiança, vinculação ao bem comum, ordem, disciplina, trabalho.

Pois que o banco comunitário da velha Casa da Câmara, onde hoje se juntaram com o Sr. Duque de Bragança os homens bons da minha terra, seja um lugar de meditação e de reconciliação.

Homens livres, podendo servir o rui, ou o condo ou os infanções, desde o século XII, havemos de constitua- uma comunidade integrada, eficiente.

A linha de força da nossa organização social tem de ser retornada.

Voltamos a guarnecer as praças de África. Ali, a pé firme, dias é noites seguidos, os soldados e os chefes restauram, olhos nos olhos, o verdadeiro sentido de servir, as virtudes tradicionais da confiança, da obediência, da lealdade, da coragem, e só com essas virtudes seremos capazes de construir o futuro.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente e Srs. Deputados: terminei a minha meditação desta tarde.

Creio que poderia ter convocado para ela os bragançanos ausentes da sua terra, aqueles que, daqui até Macau, obedecendo ou governando, dão testemunho da admirável vitalidade da grei que hoje abriu as suas festas centenárias cantando solene Te Doum na Igreja de Santa Maria.

... E, talvez não. Eles saberiam meditar muito melhor. Bastaria que o fizessem recolhidamente. Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Fernando Frade: - Sr. Presidente: E algures o seguinte conceito sobre caridade:

Quando tiveres terminado o teu trabalho, faz o do teu irmão, ajudando-o com tal delicadeza e naturalidade que nem mesmo o favorecido repare que estás a fazer mais do que em justiça deves.

A clareza, simplicidade e aplicação actual deste conceito causaram-me funda impressão.

rata-se de oferecer em proveito do nosso semelhante trabalho suplementar, sem alardes, realizado de tal maneira que a pessoa que o receba sinta que a fonte donde ele brota é o da solidariedade e amizade que deve existir entre os homens.

Que pena faz ver o mundo na peugada de soluções complicadas, fatigantes e dispendiosas, quando para tantos casos os indivíduos encontrariam a melhor panaceia através do si próprios!

E neste tumultuar da vida moderna tendemos para nos afastar dos necessitados e dos que sofrem e assim, quase sem darmos por isso, os seus problemas, preocupações e sofrimentos são arrastados para fora da órbita dos nossos mais prementes cuidados.

Sr. Presidente: estas considerações preliminares vêm a propósito do assunto que vou referir a esta Assembleia e que diz respeito a legislação que se aguarda há muito e pela qual se dará possibilidade de resolver um elevado número de casos cuja solução clínica depende exclusivamente da colheita oportuna de órgãos e tecidos de pessoas falecidas.

Focarei concretamente o que se passa em Moçambique a este respeito, embora o coso interesse s toda a Nação.

É aflitivo, Sr. Presidente e Srs. Deputados, dispor desde 1950, em Lourenço Marques, de um banco de olhos na secção de oftalmologia do Hospital Central de Miguel Bombarda, com todo o material necessário para operar centenas de cegos, preparação técnica de médicos, o mais aceso entusiasmo e dedicação destes, para verificar que não se pode iniciar o trabalho de recuperação dos padecentes por carência de lei!

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Moreira Longo: - Muito bem!

O Orador: - Tristeza porque a caridade impunha que se tivesse andado bem mais depressa; tristeza por ter