Que fazer?

Nada, começar de novo, quanto possível!

Damião de Gois, nas suas Carias, Gabriel Pereira, nos Documentos Eborenses, mostram como se sucediam os anos calamitosos e de ruína.

Em 1946, a seca obrigou a liquidar os contingentes pecuários e a guardar apenas nas ervagens disponíveis os animais reprodutores.

Já vi destruir duas colheitas no momento da vindima.

Estes factos calamitosos tornaram-se frequentes, nos últimos anos, arrasam, liquidam sem remissão e aumentam as perplexidades.

O pessimismo espraia-se, o endividamento generaliza e tem de se recomeçar como partindo do quase zero.

Em suma:

A crise agrária não é de ano mas de vários anos.

Não é só de mal-estar, de desespero, de impotência, de colecção de prejuízos, mas sim de falta de esperanças, de não se saber o que fazer para superar as circunstâncias, para recuperar os prejuízos.

Os campos e a arte rústica atraem, apaixonam ainda, mas andam carregados de decepções e de aborrecimentos.

Que admira os novos tomarem o caminho dos negócios, da banca, da burocracia, da técnica e desamorarem as leivas e encostas?

Considerada a agricultura como a grande base estável das sociedades contemporâneas, vista como a faixa interior da geografia social, onde os melhoramentos publicou acorrem menos ou chegam mais tarde, é um grande problema para os representantes da Nação e para o Governo que as casas agrícolas se vão inferiorizando e desmantelando e que sobre os campos se estenda um véu de melancolia da qual andam distanciadas as esperanças.

Depois de David Ricardo, não obstante este levantar sobretudo os problemas marginais entre as terras mais férteis e as menos férteis, para mostrar as vantagens adstritas às primeiras, começou a equiparar-se a terra no capital.

A terra em um capital como qualquer outro, assegurava riqueza e rendia, e até nalguns casos produzia dividendos e cupões.

Falou-se em capitalismo agrário como só o proprietário de uma exploração fosse um magnate da alta finança.

Sujeitou-se a terra a medidas mais cruéis do que os próprios capitais, porque a terra não foge, nem sã esconde, e o capital propriamente dito se volatiza, oculta, dissimula, muda de ramo e tantas vezes se está rindo dos excessos de zelo tanto do legislador como do fisco.

Ora bem, a terra não é um capital.

O capital vemo-lo movediço, mutável, fungível e volitante.

A terra a conhecemos firme, estável, consolidada, bem visível, por vezes estática perante as agruras do céu e sem dissimulação possível perante os infortúnios cio baixo.

O capital não tem domicílio, a não ser quando o elege, diz-se mesmo que não tem pátria.

A terra está ligada às gerações sucessivas, à história e à geografia e é mesmo um sustentáculo jurídico da formação do listado.

O capital move-se por um interesse.

E a terra, sem desconhecer este, assenta em esperanças e em ilusões que o resto da natureza lhe regateia.

A rmidável bastam alguns minutos na banca e na bolsa. Comprar às vezes um quintalucho significa anos de poupança, anos de espera.

Não se compreende bem que alguns partidos e alguns universitários se empenhem em arruinar os domínios históricos e tradicionais de um país o medir pela mesma craveira os elos nacionais profundos e as especulações de um momento.

O facto de não se considerar a terra como um capital não exclui as formas usuais de capitalização.

O investimento nas terras continua a ser motor de progresso e de melhoria da vida das gerações e a processar-se em termos muito mais rasgados do que geralmente se supõe.

A estatística não revela o investimento agrário nem mesmo a estatística fiscal pode fornecer dele exacta conta. Muros, valados, reparações, covas e matas, suportes, plantações, caminhos, vedações, etc., são ostensivas formas de investimento, tão banais que ninguém inventariará, nem saberá ao certo até onde chegaram e o que custaram como formas de capitalização ou como despesas normais das casas e quintas e herdades.

Muitas vezes o investimento resulta em pura perda - uma geada após a Páscoa, um Verão calamitoso, uma cheia torrencial destroem sem remissão as plantações e obras defensivas; um erro técnico numa vacina ou numa compra de reprodutores comprometem por inteiro o capital desembolsado; uma exploração defeituosa tornam o investimento falaz ou perdido.

Os erros de perspectiva do empresário, as plantações de vinha após 1945, comprometem a projecção e recuperação do investimento.

Os keynesianos reclamam investimento o mais investimento, olhando ao alto e sem olhar para trás, mas a lição de bonomia e de bom senso da terra comporta limitações e prudências.

De há 30 anos a esta parte o investimento agrícola revestiu formas descomunais - mecanizações, transporte automóvel, electrificações, novas vias de acesso, na maioria dos casos investimento no ponto de vista da exploração não inteiramente produtiv

E em muitos um esforço superior à capacidade económica e técnica de casas agrícolas, no seu premente desejo de modernização e de progresso.

Já por várias vezes, nesta Câmara, me referi a algumas singularidades, que não sei se as gerações vindouras aceitarão sem reparo.

Em vez de se deslocarem as instalações fabris novas para o dorso das montanhas ou para terras pobres, sacrificaram-se a industrialização acelerada terrenos de primeira ordem, de que o País não é rico e cuja falta se acentuará numa política de produção e alimentação bem combinada.

Também o Estudo, até à pouco tempo, abriu mão dos seus direitos nas zonas urbanizáveis, quando o preço de civilização lhe era devido na sua maior parte. Claro que a