designadamente pelo travão posto à criação de pastagens em zonas contra-indicadas. Talvez constituísse uma das praticáveis formas de se chegar ao objectivo em vista, a instalação de cooperativas florestais. Mas para isso, para que o processo vingue, é indispensável - como li a propósito do povoamento florestal e reabilitação social do trabalhador - que os proprietários se mostrem inteiramente compreensivos e solidários, de forma «a abdicarem de uma pequena parcela dos seus direitos, que se resume em deixarem de fazer cortes quando quisessem e na quantidade que quisessem, para cortar apenas o que fosse indicado pelo plano geral de ordenamento cultural e na data por ele prevista».

Outros meios existirão, sem dúvida, a fixar através de um autêntico e eficaz planeamento regional.

Suponho ter aflorado pontos essenciais, ou, pelo menos, pontos de interesse neste momento. Mas admito o ter de voltar a ocupar-me nesta Assembleia e com mais demora de um ou outro aspecto ou de uma ou outra questão que porventura careçam ou venham a carecer de desenvolvimento.

Entretanto espero que não faltem os apoios devidos à agricultura açoriana, para o que terão de ser tomadas na justa conta as circunstâncias peculiares da sua vida de luta por uma sobrevivência digna dos seus porfiados esforços e do seu marcado valor na economia do Pais.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: não quero deixar esta tribuna sem uma palavra de confiança nos homens da lavoura e nos homens do Governo. As soluções trabalhosas não são unicamente difíceis pelo tempo que levam a ser encontradas, mas ainda pela demora em dar-lhes execução. Designadamente, o crescimento económico é eriçado de embaraços. Há que atender a interdependência das várias actividades. E nesta tarefa, para se adquirir a visão mais acertada, consome-se tempo e energia em tal medida que só um razoável entendimento e uma boa vontade de fundo construtivo o poderão admitir como indispensável à consecução do bem que se pretende alcançar. E eu tenho os olhos postos nesse entendimento razoável e nessa boa vontade construtiva.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Moura Ramos: - Sr. Presidente e Srs. Deputados: ao entrar no debate sobre a crise da agricultura desejo apresentar ao ilustre Deputado avisante, o Sr. Eng.º Amaral Neto, o testemunho da minha maior admiração e simpatia, ao mesmo tempo que o felicito muito vivamente pelo belo trabalho com que nos presenteou, pleno de saber, objectividade e isenção, a que nem faltou o surto idealista de quem se recusa a considerar a crise agrícola nacional como «mal anacrónico mas apenas como afecção agravadíssima requerendo as mais atentas, enérgicas, prontas e eficazes providências».

Enfrentando o problema tal como ele se apresenta, sem medo, sem subterfúgios, sem considerações de privilégio, o Sr. Deputado Amaral Neto deu-nos uma bela e sadia lição de amor pelo mundo rural e uma lição de fé e esperança nos destinos que ainda estão reservados à nossa quase agonizante agricultura.

Bem haja, pois, por isso mesmo!

Nascido no campo e filho de um modesto lavrador, aprendi no contacto com o meio rural a viver e sentir os seus problemas e a apaixonar-me pela sua gente, que representa, sem desprimor para os outros sectores, a parte mais sã e importante da nossa grei, sendo as nossa aldeias ainda o repositório de muitas e boas energias, de muita virtude natural e cristã.

Por isso mesmo, já nesta Câmara me fiz eco, por mais de uma vez, das suas preocupações e queixumes ao tratar de um dos mais candentes e apaixonantes problemas da região de Leiria: o problema do vale do Lis.

Sr. Presidente e Srs. Deputados: é por de mais sabido ser de todos os sectores da vida económica o primário - agricultura, silvicultura, pecuária e pesca - aquele que mais carece de valorização em ordem ao seu desenvolvimento.

Verifica-se efectivamente um flagrante contraste entre o surto extraordinariamente progressivo nos sectores secundário e terciário e as actividades ligadas ao mundo rural, que estão longe de atingir o nível de desenvolvimento das actividades urbanas.

Nos últimos tempos, o meio rural tem vindo a sofrer graves transformações, ouvindo-se falar, a todo o par e passo, em crise da lavoura, jamais tendo tanta actualidade e cabimento o adágio de que «a agricultura é a arte de empobrecer alegremente» ou a ideia dominante de que a lavoura é, segundo a conhecida anedota, uma vaca á sociedade, em que ao lavrador cabem o trabalho, os suores, as lágrimas, as agruras e os prejuízos e aos outros ... o proveito.

Tudo convida o lavrador a desanimar e desistir, pois os adubos sobem de preço, as sementes sobem de preço também, faltam os braços, com a fuga dos homens válidos para as cidades e para o estrangeiro, e, consequentemente, as jornas atingem preços que muito embora não possam considerar-se elevados para quem os recebe são-no, sem dúvida alguma, para quem tem de os pagar, porque os produtos da terra não compensam, não rendem para acompanhar tal subida..

Vozes: - Muito bem!