Todos os anos se tem esperado, aliás com fundamento, uma viragem gradual mas efectiva nas condições económicas e financeiras do arquipélago de Cabo Verde que compreendesse melhoria nas receitas e nos consumos e melhor equilíbrio na balança do comércio externo; e escreve-se também com razão, porque se têm investido na província desde o início do Plano de Fomento quantias muito elevadas, na relatividade do meio.

Como tantas vezes aqui se recomendou, essas quantias deveriam de preferência ser orientadas num sentido utilitário, num sentido de reprodutividade, deixando para melhores dias melhoramentos que pudessem ser adiados e utilizando até ao máximo de produtividade as obras já feitas e que possam dar melhores rendimentos do que as actuais.

O I Plano de Fomento utilizou 96 789 contos que é soma bastante alta se forem considerados os gastos normais antes de 1954, e o II Plano de Fomento (anos de )959, 1960, 1961 e 1962) já utilizou 288051 contos, compreendendo os 61 486 contos gastos em 1962.

Quer dizer: até fins de 1962, só através dos Planos de Fomento se consumiram 384 840 contos no arquipélago de Cabo Verde. A influência do gasto desta elevada quantia, se forem tidos em conta a modéstia do território e os gastos anteriores, deve ou devia ter produzido resultados que se pudessem traduzir na economia provincial, quer pelo aumento de consumos derivados de maiores rendimentos, quer por melhores receitas. O espaço que decorreu entre 1954 e 1962 já é suficiente para os investimentos produzirem resultados.

O exame das Contas não revela melhoria sensível: grande desnível negativo no comércio externo, receitas em pequeno aumento (entre 1957 e 1962 o aumento foi de apenas 10 000 contos).

Sugeriu-se em pareceres anteriores a necessidade de fazer um estudo cuidadoso da orientação dada aos investimentos e dos seus resultados económicos, de modo a procurar soluções adequadas à economia provincial. Esse estudo é indispensável e poderá levar à descoberta das causas que impedem melhores rendimentos. Tentar, como já se recomendou, a industrialização dos recursos potenciais que existem, como o peixe e outros, deverá ser certamente um dos caminhos a seguir.

Julga-se que a economia da província não pode desenvolver-se em termos apreciáveis de outro modo. As condições agrícolas de per si não são de molde a progressos sensíveis.

Comércio externo O saldo negativo da balança do comércio externo ainda aumentou este ano. Elevou-se a 175 000 contos.

As importações atingiram 197 185 contos - importações para consumo, excluindo os combustíveis líquidos ou sólidos fornecidos à navegação. As exportações reduziram-se apenas a 22 191 contos. Assim, o déficit eleva-se a 174 994 contos, o que é muito para economia tão modesta. Este facto significa que a quase totalidade das importações se liquida através de recursos de proveniências diversas. As importações pesam muito na balança de pagamentos. Apenas 11,3 por cento das importações totais são pagas pela exportação.

Nos dois últimos anos o saldo do comércio externo deduz-se dos números seguintes:

Todos os esforços se devem concentrar no aumento das exportações. Não parece ser impossível melhorar muito o segundo termo da equação do comércio externo. Se fosse possível resolver o problema do aproveitamento dos recursos piscatórios dos mares do arquipélago, que, segundo opiniões abalizadas, suo grandes, em poucos anos se reduziria muito o deficit comercial. Mas há ainda outros elementos, como as pozolanas e derivados do sal, e até a industrialização de alguns produtos agrícolas, susceptíveis de auxiliarem a balança do comércio externo. Não é possível dar uma clara resenha do comportamento das importações e exportações durante um longo período de anos, dado que, a partir de 1961, se utiliza a Nomenclatura da pauta de Bruxelas. Os combustíveis que influenciavam os resultados passaram para mercadorias em trânsito.

Publica-se o mapa habitual. Os resultados denotam a mudança de nomenclatura a partir de 1961. Os deficits ocultavam-se sob o movimento dos combustíveis agora considerados mercadorias em trânsito: