Angola resistiu com êxito durante o ano de 1962 às condições adversas criadas por uma propaganda internacional inconsistente e aos ataques de muitos ao equilíbrio da sua vida económica.

Como todos os países novos, a estabilidade de Angola, no andar dos tempos, depende do trabalho interno, da forma, em produtividade e orientação, como se desenvolve a actividade dos instrumentos produtores, englobando no termo todas as modalidades. Esta verdade aplica-se em tempos de paz, mas torna-se aguda e evidente nos anos em que ambições políticas internacionais, ou influências emotivas de raça, tendem a lançar o desassossego nas populações autóctones.

O esforço interno, físico e intelectual, tem de incidir cada vez mais sobre o melhor aproveitamento possível dos recursos, quer pela selecção cuidadosa das empresas que utilizam os investimentos disponíveis quer pelo emprego de métodos de exploração já comprovados em países de condições climatéricas, sociais e outras, parecidas com as de Angola. A época actual e os recursos financeiros disponíveis não permitem inovações ou experiências custosas, como já aconteceu no passado. Os problemas têm de ser esclarecidos à luz de técnica mais apurada, e não é difícil hoje utilizá-la, quer seja de origem nacional, quer de origem estrangeira. Os projectos necessitam de ser ventilados, tendo em vista a sua produtividade, dentro dos melhores princípios de economia nos investimentos em relação com o produto obtido. E todos os valores humanos que lá vivem ou que para lá emigram devem ser orientados no sentido de extrair o máximo de rendimento dos recursos susceptíveis de serem explorados.

A economia da província, a maneira como ela se comporta e o modo como é orientada suo hoje alvo da curiosidade e da atenção de povos africanos e de outros. Haverá certamente prazer em muitos se ela caminhar em sentido regressivo ou caótico. A prosperidade ou, pelo menos, o normal desenvolvimento da economia interna, em tempos difíceis como os de agora, podem ser, tonto ou mais do que outros factores, motivo de paz.

Angola atravessa um período difícil na sua longa vida dentro da comunidade portuguesa. Mas já atravessou outros e saiu deles vigorosa como todos anseiam que saia deste. Noutros tempos a vida era, porém, mais restrita e as influências externas concentravam-se apenas em ataques de forças armadas isolados e vistos com suspeita por outras poderosas influências. Não tinham a força das exigências de colectividades ou organismos produtivos de mercadorias e investimentos, de necessidades de mercados para produções cada vez maiores. Na vida actual, à sombra de nobres palavras, olha-se para o homem mais como entidade consumidora do que como ser humano, e para activar os seus consumos recorre-se a belas fórmulas de liberdade que indirectamente representam sujeição aos próprios consumos. Três características da situação de Angola em 1962 precisam de ser realçadas este ano: um saldo de contas superior ao de anos anteriores, as mais altas exportações atingidas até hoje e melhoria apreciável na balança de pagamentos, que permitiu alívio à situação cambial.

O saldo positivo das contas, que atingiu 342 943 contos, processou-se apesar do aumento apreciável das despesas ordinárias. As receitas subiram muito e não parece que, salvo um ou outro caso, houvesse dificuldades na sua liquidação.

Um dos aspectos salientes é o de saneamento da praça. O número de créditos insolvíveis e de protesto de letras diminuiu bastante.

Quanto às exportações, que, como se informou, alcançaram um nível alto, a caminhar para 4 500 000 contos, o resultado conseguiu-se apesar do decréscimo de saídas nos diamantes, nos produtos do pescado e em outras mercadorias.

Finalmente, na balança de pagamentos, que constituiu há muitos anos um problema intrincado e difícil em Angola , como, aliás, em grande número de países novos, as condições melhoraram, como se verificará adiante. Sem que se possa dizer que o problema está resolvido, prudência nos licenciamentos, vigilância nos consumos e intensificação nos esforços de produção de géneros exportáveis e de mercadorias de consumo assegurado são factores que muito podem concorrer para a tranquilidade futura neste aspecto sério da vida da província.

Se não se produzirem abalos económicos, imprevisíveis no mundo em que se vive, mormente, em países novos, parece que o futuro não deve ser encarado com pessimismo.

Comércio externo A balança do comércio externo fechou com o saldo positivo de 366 132 contos menos do que o de 1961. Em todo o caso o saldo positivo da balança comercial nos dois últimos anos atingiu perto de l milhão de contos (972 556 contos).

O superavit de 1962 processou-se apesar de um aumento de 630 479 contos nas importações, o que é muito. Note-se que em 1961 houvera contracção nos importações da ordem dos 402 000 contos. Donde resulta que a subida em 1962 atinge na realidade mais de l milhão de contos. O equilíbrio que pareceria ser precário em frente destes números acabou por ser atingido e fixou-se em cifra vantajosa. Quase que é caso para felicitar a província pelo resultado alcançado.

O comércio externo de Angola, soma das importações e exportações, atingiu 8 162 474 contos. Fora 7 141 808 contos em 1961. Assim, os valores movimentados subiram