cão agrícola. E, se assim fosse, certo seria que a crise da agricultura não teria talvez surgido ou, pelo menos, não teria atingido a gravidade que lamentamos.

Certo é, porém, que assim não foi e a realidade é hoje bem diversa.

Cingindo-me ao distrito de Castelo Branco, direi que dos sons 670 000 ha se encontram arborizados cerca de 21,5 000 ha. o que representa 32 por cento aproximadamente da área total.

Poderá fornecer uma taxa relativamente elevada em relação à percentagem de outras regiões de menor florestação. É, porém, sensivelmente idêntica à percentagem geral do País; mas isso deve-se, sobretudo, à mancha de pinhal da parte ocidental do distrito, abrangendo os concelhos da Sertã, Proença-a-Nova, Oleiros e Vila de Rei, que, só por si, cobre um pouco mais de um terço de toda a, área florestada do distrito.

Não possuindo solos ricos, à parte a Cova da Beira, as zonas marginais dos cursos de água mais volumosos e alguns solos aluvionais e constituindo o nto. Mas das palavras aos actos vai aqui distância grande. E começa logo por notar-se nos próprios planos de fomento a desigualdade de tratamento dispensado à agricultura, que aí também aparece como enteada da economia nacional.

No I Plano de Fomento, não obstante a relevância nele reconhecida à lavoura, na qual trabalhava então 50 por cento da população activa nacional, da qual vivia cerca de .metade da população metropolitana, apenas 10 por cento dos investimentos foram destinados ao sector primário. Os sectores secundário e terciário - indústria e serviços - foram contemplados com quase 90 por cento dos 12 500 000 contos que representaram o total dos investimentos daquele Plano de Fomento.

A diferença é excessiva para que fique sem reparo. Se até aí a agricultura vinha já atrás da indústria com todos os inconvenientes sociais .para a maioria da população metropolitana, a partir de então o atraso mais se acentuou, o que viria a reflectir-se social e psicologicamente, e de modo incisivo no lamentado êxodo rural, lamentado, sem razão, aliás.

O II Plano de Fomento, ora a chegar ao fim, acudiu em parte a tão flagrante desigualdade de tratamento, mas não foi ao ponto de remediar a injustiça.

Dos 21 milhões de contos que constituíam o total dos seus investimentos, atribuiu à agricultura 17,3 por cento, no total de 3 630 000 contos.

Houve aqui já um tratamento mais justo, mas que ainda assim, na diferença que resulta do seu confronto com o dispensado aos restantes sectores, parece confirmar que no pensamento oficial a lavoura continuava a ser o parente pobre ...

Parente pobre quando é ocasião de contemplá-lo em planos de fomento, em concessões de crédito, em privilégios e regalias fiscais ou de outra natureza.

Mas parente rico quando se trata de lhe exigir sacrifícios de toda a ordem e que nesse caso se supõe com capacidade para suportar ...

E assim não deixa por vezes de aflorar pelo menos certa ironia nas comunicações oficiais ou oficiosas que vêm anunciar que a lavoura comprará os adubos, os tractores, as demais máquinas e os combustíveis ao nível médio europeu. E parece generosa concessão equipará-la à dos povos da Europa quando se trata de lhe vender o de que ela precisa.

Mas quando é o caso de ser ela a vender o que produz, então o nível a ter em conta já não é o médio europeu, mas talvez o africano.

E que a lavoura portuguesa, a que compra o que precisa ao nível médio europeu, é, em toda a Europa, a que menos recebe pela carne que vende - e seja ela de origem bovina, suína, ovina ou outra. E outro tanto se verifica em relação ao vinho e ao azeite, duas das maiores produções da agricultura nacional. Pois também aí os agricultores portugueses têm de invejar a sorte dos seus colegas europeus, que vendem esses produtos por preços por bem mais compensadores. Nos cereais, salvo o arroz, que a lavoura nacional vende pelo mais baixo preço da Europa, a situação melhora um pouco.

Mas importará ainda acrescentar que os preços a que a lavoura vende os seus principais produtos, além de serem dos mais baixos da Europa, também no próprio mercado interno não têm acompanhado a evolução dos preços dos produtos industriais. O índice de crescimento neste excede cerca de 70 pontos o índice de crescimento dos produtos agrícolas. Se estes acompanhassem os primeiros, a lavoura estaria a receber anualmente alguns milhões de contos a mais, tal como recebe a indústria. E daí penso que não adviria a inflação a que aludiu o nosso colega Dr. Armando Cândido.

O Sr. Armando Cândido: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faça obséquio.

O Sr. Armando Cândido: - Uma revisão pura e simples encaminhada no sentido da alta dos preços seria o caminho aberto para a inflação. Mas admiti a revisão apertada dos circuitos de distribuição, de modo a beneficiar o produtor, e admiti ainda uma actuação selectiva