Coordenar;

Concentrar;

Regionalizar.

Porque o enunciado corresponde a um programa do acção, merece a minha aprovação nas suas linhas gerais, posição esta que não me inibe, naturalmente, de fazer algumas considerações a tal propósito, pretendendo especialmente:

Denunciar as dificuldades que o Governo deverá enfrentar e remover;

Referir a urgência, a intensidade e o sentido que julgo deverão ser dados às medidas em causa.

A Lei de Orientação Agrícola, constituindo elemento decisivo para a orientação agrária, como não é ainda conhecida, mais não me. permitirá do que formular o desejo de que se enquadre dentro da política geral delineada para todo o espaço económico português e que igualmente se ajuste aos condicionalismos que nos virão a ser impostos por força dos acordos com a E. F. T. A.

A adaptação gradual das culturas a sul do Tejo, a chamada reconversão, encontra-se equacionada, embora a traços muito latos, no quadro seguinte:

Teremos assim de nos ir preparando para racionalizar em exploração intensiva de sequeiro cerca de 750 000 ha, em vez dos actuais 2 milhões, o que nos deve desde logo sugerir a necessidade de um aumento substancial da produtividade para aquela área, 2,7 vezes mais que a actual, a fim de que as produções globais do sequeiro não sofram quebra.

Do regadio teremos os já previstos 170 000 ha e para floresta deveremos converter cerca de 2 milhões de hectares.

Os muitos sectores que se deverão dinamizar para que todos os esforços e capacidade se ponham ao inteiro serviço de obra de tal monta, o importante papel que a cada um caberá desempenhar em estreita conexão com os demais, requererão uma autêntica mobilização geral, harmónica, de expressão verdadeiramente racional, ímpar na vida agrícola do País, onde ao lado do entusiasmo e da devoção deverão estar o apoio financeiro e técnico, procurando-se desde logo, e como ponto de partida, reconquistar a confiança e a f é da lavoura, hoje tão esmorecidas.

A conversão agrária por via florestal é no Sul, um imperativo a que se não pode renunciar, mas requerendo entre outras coisas:

Seu justo cabimento adentro de um plano geral de valorização;

Capacidade por parte da lavoura para investimentos a longo prazo (o que não está hoje ao seu alcance);

Adesão convicta e voluntária do agricultor;

Valorização dos produtos florestais já em produção;

Criação do um instituto de investigação florestal;

Criação de cursos de divulgadores e capatazes florestais;

Assistência técnica eficaz;

Equilíbrio e sensatez na escolha dos caminhos a seguir, por forma que as espécies consagradas numa região - e nalguns casos porventura as únicas adaptadas às condições locais - não sejam banidas ou subestimadas por excessivo entusiasmo pelas importadas;

Respeito pelo tipo de exploração silvo-pastoril;

Garantia de colocação e do preço para os produtos a obter;

Cobertura industrial afim;

Medidas que fomentem a criação de Cooperativas ou de sociedades aglutinando os empresários com interesses florestais, cinegéticos, turísticos e piscícolas ;

Atracção de capitais privados para aqueles fins;

Actualização das Leis da Caça e da Pesca (esta última não agradou os praticantes do Sul).

O desejado fomento de pecuária deverá fundamentalmente apoiar-se nos pilares seguintes:

Manutenção a longo prazo de preços compensadores;

Respeito pelas condições agro-climáticas, que deverão, para o caso alentejano, aconselhar a seguinte ordem de prioridade:

Avicultura;

Bovinos leite-carne:

Considerando que os aristinos constituem a espécie animal mais adaptada às ingratas características agro-climáticas do Sul e também aqueles que podem desempenhar relevante papel na exportação, entendo que a ovinicultura deve merecer um carinho especial, nomeadamente incrementando os cruzamentos com machos importados de alta aptidão para produção de carne.

A excelência dos nossos queijos impõe que o aspecto leiteiro dos ovinos seja devidamente considerado.

A revisão dos processos de comercialização da carne deverá ser acompanhada também da revisão dos métodos de corte e especialmente da preparação comercial desta no talho, técnica segura para se lhe aumentar o respectivo rendimento.

Igualmente o problema dos matadouros, há tanto tempo em estudo, carece de ser revisto com desassombro e urgência e pensando no melhor e condigno aproveitamento de todos os subprodutos.

A anunciada revisão selectiva de preços abre optimistas perspectivas e dá-nos conta de que a compreensão do Governo para o problema é um facto.

É certo que um diálogo à volta dos preços dos produtos agrícolas é sempre um diálogo ingrato, sobretudo se nele intervêm um agricultor e um consumidor.

É que um discute os preços por que vende e o outro reporta-se àqueles por que compra, e é evidente que, sendo grande a margem que separa um extremo do outro deste quilométrico circuito produtor-consumidor, nunca se chegará a um acordo ou a parcial concordância.

Por isso, prèviamente faço a declaração de que ao falar aqui em preços me refiro apenas aos de origem.

Tenho como certo que os produtos que mais importará contemplar nos respectivos preços são os de origem animal.