Reconheço, todavia, que o actual preço da carne - repito, aquele que é pago ao lavrador - está a atingir níveis compensadores, embora, sob o imperativo de causas sazonais e acidentais.

Mas o que desejo sublinhar é a importantíssima, alavanca que o preço dos produtos pecuários pode constituir, pois desencadeará um decisivo mecanismo do valorização global e, o que é mais, de reconversão espontânea e onde a própria, cultura cerealífera muito beneficiará.

Na realidade, se a lavoura for solicitada a incrementar a sua pecuária, teremos, a médio prazo e inevitavelmente, as repercussões seguintes:

Aumento das áreas ocupadas com pastoreio melhorado;

Aumento das áreas com espécies forrageiras para multiplicação de sementes, ocasionando o incremento das exportações destas;

Substituição da cultura cerealífera, nos terrenos marginais, nus, sob montados e sob olivais, por prados, com a subsequente valorização destes arvoredos:

Acréscimo das produções unitárias na cultura trigueira, acantonada agora nas melhores terras;

Aumento do índice de. fertilidade da maioria, dos solos;

Acréscimo e valorização do armentio;

Maior oferta de produtos de origem animal;

Valorização das cevadas e a veias, mesmo das leguminosas em grão, por aumento do seu consumo em rações.

contribuir para uma justa retribuição da carne de excepcional qualidade, mercê da criação de talhos onde só fosse distribuída da extra.

Também a justa valorização da carne por via de uma classificação criteriosa das carcaças é norma que se impõe com toda a. urgência, e estímulo que considero indispensável.

O preço do trigo tem sido tema das maiores controvérsias. Realmente a sua cultura reveste-se de especial importância para a região alentejana.

Comparam-se rendimentos brutos de vários países da Europa e nestas confrontações sempre na cauda surgem os países da bacia mediterrânica, o que já é um indicativo de fraca aptidão daquela zona, a qual pertencemos.

Não tivesse o trigo destacada importância na alimentação das nossas gentes, não fosse esta a principal cultura de opção para o sequeiro e outras houvesse que a substituíssem, e já o problema poderia ter tido solução.

Sabendo que competente grupo de trabalho irá estudar o delicado assunto, dever -me-ei colocar em posição de confiante expectativa, aguardando assim as conclusões finais daquele labor.

Não deixarei, no entanto, de. lhe dedicar duas palavras.

Considerando que, na região de Évora, os encargos com a cultura de trigo andam à volta de 4200$ por hectare, verifica-se que só a partir dos 1400 kg por hectare se começa a obter lucro líquido.

Pode até, partindo daquele dado, estabelecer-se o quadro seguinte:

Como é sabido, as nossas médias normalmente andam abaixo dos 1000 kg/ha.

No que se refere ao actual sistema do crédito agrícola, está este longe da dar satisfação prática aos fins do fomento agrário que ele deve alcançar.

A sua revisão impõe-se com a urgência que a angustiosa situação financeira da lavoura requer, pois esta situação constitui o grande e principal travão a uma conversão cultural em escala aceitável e sem hesitações.

Através da reorganização dos métodos de comercialização, confia-se se colham os melhores resultados, tanto em benefício do consumidor como do produtor.

Foco o interesse que deverá ter a revisão imediata do comércio exportador por forma a que se ponha termo a situações de prejuízo e de descrédito que comummente se têm criado, tanto por falta de disciplina e de ética como de respeito pelos interesses gerais.

E não deixarei também de apontar a premente necessidade de estabelecermos com a nossa amiga Espanha entendimentos com erciais que visem à condução de uma política concertada de preços de exportação para aqueles produtos de produção comum.

Sob o ponto de vista dos preços das matérias-primas que à agricultura são fornecidas, direi que razoável melhoria poderá advir, se se proceder a ajustamentos nos respectivos custos, caso do gasóleo, cujo preço bem poderia alinhar por aquele por que é fornecido à pesca, sem esquecer igualmente o dos fertilizantes, especialmente os azotados.

A forma mais eficiente de a indústria ajudar a sua «irmã mais pobre» será a de ela própria fazer a sua reconversão, revendo os seus processos de laboração em ordem a reduzir os seus custos de produção, recorrendo à cooperação das empresas fornecedoras da energia eléctrica.

A melhor valorização dos produtos da terra recorrendo a um apoio industrial afim interessa de um modo muito especial e mais na medida em que essas indústrias se localizarem nas próprias regiões produtoras e também sob condição de qu e um espírito compreensivo presida à sua