depende dos preços, mas da necessidade de realizar meios com que pagar dívidas contraídas.

A diferença, por defeito, do nível de vida do trabalhador rural e do pequeno proprietário, em relação às demais classes, é visível e confrangedoramente conhecida de todos quantos vivem dentro do conhecimento das realidades.

E a verdade é que o proprietário não pode remediar tais males através do pagamento de salários condignos.

A pobreza dos lucros das actividades agrícolas - quando há lucros - não permite ao proprietário aguentar o aumento que, apesar de todas as dificuldades, se vem verificando nos salários rurais.

O tempo em que, por exemplo, na apanha da azeitona se pagava aos homens e às mulheres, respectivamente, com lie com 0,5 1 de azeite já lá vai há muitos anos. Nesta conformidade, dois caminhos se abrem às classes rurais: para o trabalhador o abandono dos campos, em proporções talvez nunca vistas, e para o proprietário a impossibilidade de amanhar as terras pó: falta de braços, que em boa parte a máquina não pode substituir, umas vezes pela pequenez das áreas a cultivar, outras pela configuração dos terrenos, cheios de socalcos e de muros, e, em ambos os casos, tantas vezes por falta de disponibilidades que permitam adquirir os maquinismos.

Vozes: - Muito bem!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A trilogia Deus, Pátria e Família encontra ali, sobretudo nas aldeias, os seus melhores e mais fervorosos devotos.

Ali se louva a Deus e fortemente se contribui para a sua maior honra e glória. Dali saem os melhores contingentes de homens que abnegadamente se batem na defesa da Pátria, onde e quando a Pátria deles precisa. Ali se vive autêntica vida familiar. Em família se celebram festas com o mesmo entusiasmo, como se sentem os infortúnios e as dores alheias.

Quem como o aldeão ,sente e vive, religiosamente, as alegrias e as tristezas do próximo? E o primeiro e grande mandamento que Cristo deixou aos homens, e que tão esquecido anda por esse mundo fora. O êxodo dos campos empobrece a Nação, não só em relação ao produto nacional, como aos valores morais e religiosos.

Longe das aldeias que os viram nascer, longe do respeito devido aos seus maiores que lá deixaram, longe da igreja onde ,pelo baptismo foram incorporados no Corpo Místico de Cristo, longe da vida sã que viviam e viam viver, em breve as tentações dos meios citadinos, nacionais e estrangeiros, os pervertem, roubando-lhes a nobreza de alma que deles fazia alguém perante Deus, perante a Pátria e perante o próximo.

Presas fáceis nas mãos dos que vivem à margem dos eternos valores morais e religiosos, em breve se encontram imbuídos de doutrinas materialistas que os deformam moral e intelectualmente.

E assim se processa o empobrecimento nacional no campo material e no plano espiritual.

São estas considerações feitas à base do conhecimento directo de parte dos meios rurais do distrito da Guarda.

Estou, no entanto, em crer que bem se poderão firmar no viver de outras regiões do País, onde as populações rurais viverão à base da mesma riqueza espiritual e da mesma pobreza material.

Se a lavoura não for impulsionada e vitaminada com novas culturas mais Tentáveis, com preçários mais remuneradores, com produções mais económicas, como as da anunciada Lei de Orientação Agrícola, é de esperar que cada vez se aprofundará mais a diferença, de nível de vida dos 40 por cento das populações que à agricultura se dedicam em relação aos outros sectores, industriais, comerciais, etc., de que se compõe a sociedade portuguesa.

Na medida em que tal diferença se acentue, em que os níveis de vida mais se distanciam, juntamente com os maiores males resultantes dessa carência de justiça social, tão desejada pelos santos padres, uma vantagem resultará.

E esta será a de vermos diminuir rapidamente - pelo que se vai observando - as percentagens dos desprotegidos obreiros das actividades agrícolas.

Desta hecatombe de proporções gigantescas só os desertores rurais se salvarão.

Vou terminar, Sr. Presidente e Srs. Deputados. Para sacrifício de VV. Ex.ªs vai chegando, e como único mérito das minhas palavras, a brevidade.

Não apoiados.

Antes, quero afirmar que alguém me dizia que propusesse soluções. O problema difícil, sobretu do da batata, só com muito interesse e boa vontade pode ser, não direi definitivamente solucionado, mas atenuado nos seus perniciosos efeitos.

Trata-se, sem dúvida, da cultura sujeita às maiores contingências, pois ao semear-se nunca se poderá prever o preço pelo qual virá a ser vendida. Uns anos $60 por quilograma, outros, mais que raros, porque raríssimos, 1$50. Na generalidade, o preço no produtor terá andado à volta de 1$ por quilograma, preço que, sem remunerar convenientemente, é aceitável na altura do arranque.

No entanto, em meados de Fevereiro o preço de 1$ por quilograma contraria francamente a normalidade de comercialização e do preço, a que se faz referência na p. 69 da exposição do Sr. Ministro da Economia.

Parece não terem sido levadas em conta a sensível diminuição de peso e a apreciável quantidade de podre, para cujas inferiorizações não há subsídios de qualquer espécie.

Mas quê, soluções minhas?

Deus nos livre.

Nas minhas atribuições, nos meus conhecimentos e na minha inteligência só cabem passageiros reparos, que, feitos com verdadeiro espírito construtivo, me levam a afervorar a fé e a esperança em que os homens do mando - eu nasci para obedecer - permitam que para todos seja o sol quando nasce.